Descrição de chapéu Rússia

Opositor de Putin recebe prêmio de direitos humanos do Parlamento Europeu

Homenagem a Navalni é dada 2 semanas após Nobel da Paz a jornalista adversário do Kremlin

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Bruxelas | Reuters

O Parlamento Europeu concedeu nesta quarta-feira (20) o Prêmio Sakharov de direitos humanos a Alexei Navalni, principal nome da oposição ao presidente Vladimir Putin na Rússia.

Trata-se da maior honraria da União Europeia a defensores de direitos humanos, e a escolha de Navalni representa o segundo ato simbólico contra o Kremlin em menos de duas semanas —no último dia 8, o jornalista russo Dmitri Muratov, editor de um dos principais jornais de oposição a Putin, recebeu o Nobel da Paz, ao lado da repórter filipina Maria Ressa.

Preso desde janeiro acusado de violação da liberdade condicional, Navalni, 45, foi envenenado em agosto de 2020, em ato ligado a autoridades russas, segundo a União Europeia, que chegou a impor sanções a membros do governo.

Trabalhador apaga mural em homenagem a Alexei Navalni em São Petersburgo - Olga Maltseva/AFP

"Ele lutou incansavelmente contra a corrupção do regime de Vladimir Putin. Isso lhe custou a liberdade e quase a vida. O prêmio de hoje reconhece sua imensa bravura, e reiteramos nosso apelo por sua libertação imediata", disse o Parlamento Europeu, em uma publicação no Twitter.

Moscou nega qualquer irregularidade e acusa o bloco europeu de interferir em assuntos que dizem respeito somente à Rússia. Também nega as acusações de que Navalni foi preso por suas atividades políticas e sustenta que ele está na cadeia por infringir as leis do país.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, coalizão militar de países ocidentais, saudou a decisão do Parlamento Europeu. "Acho que é um importante reconhecimento do importante papel que ele [Navalni] desempenhou por muitos anos em apoio aos valores democráticos e em ser uma voz forte na Rússia", disse em entrevista em Bruxelas, reiterando o pedido de libertação do ativista.

A equipe de Navalni também comemorou a premiação. "Putin chama Navalni de blogueiro criminoso, mas só ele acha isso. Alexei Navalni é um político que luta por justiça, apesar de todas as ameaças e tentativas de assassinato", afirmaram os aliados do opositor, em comunicado distribuído pelo Telegram. "E temos certeza de que Putin não gostou de saber disso."

O movimento de Navalni sofreu um forte golpe em junho, antes das eleições legislativas do país, quando um tribunal considerou suas atividades extremistas. Muitos de seus aliados tiveram suas casas invadidas ou sua liberdade de movimento restringida e alguns fugiram para o exterior. No mês passado, a Rússia abriu um novo processo criminal contra Navalni que pode mantê-lo na prisão por mais uma década.

O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é oferecido pelo Parlamento Europeu desde 1988 a indivíduos ou organizações defensoras de direitos humanos e de liberdades fundamentais, e oferece 50 mil euros (R$ 323 mil) aos homenageados.

Edições anteriores homenagearam o sul-africano Nelson Mandela, a oposição ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela e a ativista paquistanesa Malala Yousafzai. No ano passado, foi homenageada a frente de oposição na Belarus em reconhecimento aos esforços empenhados pelo grupo na luta por democracia contra o regime do ditador Aleksandr Lukachenko.

Esta é a segunda premiação internacional a desafetos do Kremlin. No começo do mês, Dmitri Muratov, jornalista russo, venceu o Nobel da Paz —ao lado da filipina Maria Ressa— por sua "coragem de lutar pela liberdade de expressão".

Muratov é cofundador e editor-chefe do Novaia Gazeta (novo jornal, em russo), um dos principais veículos de oposição a Putin. O comitê do Nobel descreveu o jornal como o mais independente da Rússia atualmente.

Conhecido por investigações sobre corrupção no governo russo e coberturas sobre o conflito na Ucrânia, o Novaia Gazeta já viu seis de seus profissionais serem mortos desde 2001, um dos quais Anna Politkovskaia, assassinada a tiros no dia do aniversário de Putin em 2006. O prêmio a Muratov foi concedido um dia após expirar o prazo para que os suspeitos pela morte da repórter fossem indiciados.

Ainda que seja alvo de críticas de Muratov, o Kremlin parabenizou o jornalista pela premiação. "Ele trabalha persistentemente de acordo com seus próprios ideais, é dedicado a eles, talentoso e corajoso", afirmou o porta-voz Dmitri Peskov a repórteres pouco após o anúncio do comitê norueguês.

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