EUA anunciam sanções contra grupos na China, Coreia do Norte e Mianmar

Autoridades também querem denunciar criminalmente políticos em El Salvador

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Washington | Reuters

Os Estados Unidos impuseram nesta sexta-feira (10) uma série de sanções relacionadas aos direitos humanos a dezenas de pessoas e entidades ligadas à China, Mianmar, Coreia do Norte e Bangladesh, além de incluir a empresa chinesa de inteligência artificial SenseTime a uma lista proibida para investidores.

O pacote de sanções foi anunciado na data estabelecida pela ONU para comemorar o Dia Internacional dos Direitos Humanos. As ações "enviam uma mensagem de que as democracias ao redor do mundo agirão contra aqueles que abusam do poder do Estado para infligir sofrimento e repressão", disse o secretário-adjunto do Tesouro, Wally Adeyemo.

As medidas são as mais recentes em uma série de sanções programadas para coincidir com a Cúpula pela Democracia promovida pelo governo Biden, onde o presidente Jair Bolsonaro discursou também nesta sexta.

O presidente americano Joe Biden em reunião virtual com líderes na Cúpula da Democracia - Saul Loeb/AFP

Segundo o Tesouro americano, a empresa chinesa de inteligência artificial desenvolveu programas de reconhecimento facial que podem determinar a etnia de um alvo, com foco particular na identificação dos uigures, minoria alvo de repressão na província de Xinjiang, no oeste da China, segundo os EUA.

A China nega abusos na região, mas o governo americano e grupos de direitos humanos afirmam que há um genocídio em curso e que mais de um milhão de pessoas, sobretudo uigures, mas também membros de outras minorias muçulmanas, foram detidos nos últimos anos em campos de concentração em Xinjiang.

A SenseTime foi incluída pelo governo americano a uma lista de "companhias do complexo industrial-militar chinês" com as quais investidores dos Estados Unidos não podem fazer negócios. O anúncio foi feito às vésperas do IPO da empresa, que planejava levantar US$ 767 milhões (R$ 4,3 bilhões) na bolsa de valores de Hong Kong.

Além disso, empresas militares de Mianmar também foram alvo de sanções. Uma delas, a Diretoria das Indústrias de Defesa de Mianmar, fabrica armas para militares e policiais que foram usadas na repressão contra oponentes do golpe militar no país. Os quatro principais ministros regionais de Mianmar também entraram na lista, incluindo o chefe da província de Bago, onde o governo americano disse que pelo menos 82 pessoas foram mortas em um único dia em abril.

Segundo a Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos de Mianmar, mais de 1.300 pessoas foram mortas pelas forças do país depois que militares depuseram a líder Aung San Suu Kyi em 1º de fevereiro deste ano.

Os Estados Unidos também colocaram na lista de vetos o Ministério Público Central da Coreia do Norte, do ministro das Forças Armadas Populares, Ri Yong Gil, e uma universidade russa, sob a acusação de facilitar a exploração de trabalhadores da Coreia do Norte.

O Departamento de Estado dos EUA também proibiu na sexta-feira 12 pessoas de viajar aos Estados Unidos, incluindo autoridades na China, Belarus e Sri Lanka.

EUA VÃO INDICIAR POLÍTICOS DE EL SALVADOR

Autoridades dos EUA estão preparando acusações criminais contra o vice-ministro da Justiça de El Salvador, Osiris Luna, e outro alto funcionário, acusando-os de negociar um pacto secreto com gangues que atuam em solo americano, disseram duas pessoas envolvidas à agência Reuters. O indiciamento vem em meio a tensões crescentes entre Washington e o presidente Nayib Bukele.

De acordo com as fontes, as acusações estão sendo preparadas por uma força-tarefa do Departamento de Justiça contra Luna, que é responsável pelo sistema prisional de El Salvador, e Carlos Marroquin, aliado próximo de Bukele que chefia uma agência de programas sociais do governo salvadorenho.

Os dois já foram alvos de sanções na quarta-feira (8) pelo governo americano, que os acusa de fechar um acordo com as gangues Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18, com forte atuação nos Estados Unidos, oferecendo dinheiro e condições melhores de prisão em troca da redução da violência no país e de apoio político.

​Bukele nega que seu governo tenha negociado qualquer trégua e criticou as sanções. "Está claro que o governo dos Estados Unidos não aceitam colaboração, amizade ou alianças", disse o presidente. "É submissão absoluta ou nada."

A investigação está sendo conduzida pela força-tarefa conjunta Vulcan, unidade do Departamento de Justiça criada em 2019 para coordenar os esforços das agências de aplicação da lei dos EUA para desmantelar o MS-13. Autoridades americanas dizem que as gangues ordenaram assassinatos em solo americano de dentro das prisões de El Salvador.

El Salvador classifica o MS-13 de organização terrorista, e promotores dos EUA acusaram alguns dos líderes do grupo de atos terroristas. O FBI esteve envolvido na investigação. As acusações devem ser feitas nos próximos meses, disseram as fontes, que pediram anonimato.

As autoridades norte-americanas também descobriram que a gangue MS-13 atacou um agente do FBI quando interceptou um pequeno pedaço de papel, conhecido como "wila", que as gangues usam para passar mensagens codificadas para seus membros fora das prisões. O agente fugiu de El Salvador com a família.

Sucessivos presidentes salvadorenhos têm lutado para restringir o controle do MS-13 e do Barrio 18 sobre as áreas urbanas, onde a violência e a extorsão geraram ondas de emigração para os Estados Unidos.

Bukele foi um crítico ferrenho de um acordo clandestino de 2012 entre o ex-governo e líderes de gangues que ruiu dois anos depois, o que provocou um forte aumento na taxa de homicídios do país e levou à prisão vários funcionários do governo.

Rumores de um novo acordo surgiram depois que a taxa de homicídios caiu cerca de 50% um ano depois que Bukele assumir o cargo, em junho de 2019. As mortes caíram para 17 assassinatos por 100.000 pessoas em 2021, ante 51 em 2018, de acordo com a Polícia Nacional.

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