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Ortega assume 4º mandato após pleito de fachada, e Nicarágua recebe novas sanções

Cerimônia de posse de ditador, no poder desde 2007, teve presença de Maduro e Díaz-Canel; EUA e União Europeia criticam

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Buenos Aires

Dois meses após vencer uma eleição de fachada, o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, realizou nesta segunda (10) uma cerimônia em Manágua para tomar posse do novo mandato, o quarto consecutivo.

Ortega estava ao lado da mulher, Rosario Murillo, e dedicou boa parte de seu discurso a atacar os EUA —horas antes, autoridades americanas e europeias ampliaram as sanções a nomes ligados ao regime.

O evento contou com figuras da esquerda latino-americana, como o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e o líder do regime cubano, Miguel Díaz-Canel. A China, que em dezembro viu a Nicarágua cortar relações com Taiwan, que o regime considera uma província rebelde, também compareceu.

Outro que participou do evento foi o direitista Juan Orlando Hernández, atual presidente de Honduras. O líder do país vizinho deixa o cargo no próximo dia 27 de janeiro —tendo como sucessora Xiomara Castro de Zelaya—, envolvido em denúncias de tráfico de drogas nos Estados Unidos. Especula-se que, devido ao caso, ele, que nega qualquer irregularidade, pode vir a se refugiar na Nicarágua.

A partir da esq., Rosario Murillo, Daniel Ortega, o venezuelano Nicolás Maduro e o cubano Miguel Díaz-Canel, na cerimônia de posse, em Manágua
A partir da esq., Rosario Murillo, Daniel Ortega, o venezuelano Nicolás Maduro e o cubano Miguel Díaz-Canel, na cerimônia de posse, em Manágua - Zurimar Campos - 10.jan.22/Divulgação Palácio Miraflores/Reuters

O mandato que oficialmente começa nesta segunda será o quinto do político, um dos líderes da Revolução Sandinista, que nos anos 1970 derrubou a dinastia Somoza —depois de ser eleito para um mandato em 1984, ele voltou ao cargo em 2007 pelas urnas e continua no poder desde então, ininterruptamente.

O pleito de novembro não foi reconhecido pela maioria da comunidade internacional, uma vez que, nos meses anteriores à votação, o regime prendeu, sob acusações de lavagem de dinheiro e traição à pátria, sete candidatos opositores. Ortega concorreu contra outros cinco nomes, mas que só entraram na corrida como parte do teatro —eram todos aliados. Ao final, obteve 76% dos votos, segundo os resultados oficiais.

"Os Estados Unidos terão de mudar em relação à América Latina, porque agora há resistência e consciência de patriotismo", discursou o ditador nicaraguense nesta segunda-feira. "Não vamos mais deixar que levem nossas riquezas e vamos buscar juntos projetos comuns para combater a pobreza de nossos povos. O exemplo da Venezuela é um exemplo de força e resistência contra os EUA."

Ortega acrescentou que a repressão aos protestos de 2018, quando mais de 300 manifestantes foram mortos por forças de segurança e grupos paramilitares alinhados ao ditador, na verdade foi uma "luta contra o terrorismo interno, que assassinou policiais e atentou contra hospitais e instituições públicas".

De boné e jaqueta esportiva vermelha, o ditador retirou a faixa presidencial ao final de seu discurso e a agitou para a multidão, afirmando que tinha o compromisso de lutar pelas famílias nicaraguenses. ​

Poucas horas antes da cerimônia, os EUA e a União Europeia ampliaram as sanções econômicas e diplomáticas contra autoridades ligadas a Ortega. Os europeus anunciaram o congelamento de bens e a imposição de veto a viagens de dois filhos do ditador e de outras cinco pessoas vinculadas ao regime, à polícia, ao Conselho Supremo Eleitoral e ao Instituto Nicaraguense de Telecomunicações e Correios.

A UE afirmou, em documento, que essas pessoas cometeram "sérias violações contra os direitos humanos ao apoiar eleições fraudulentas", e a Polícia Nacional foi acusada de "infligir tratamentos degradantes, entre os quais torturas físicas e psicológicas, aos que se opuseram ao regime de Ortega".

As 116 autoridades que receberam sanções dos EUA pertencem ao Exército, ao Ministério da Defesa e à petrolífera estatal do país. Além deles, prefeitos e outros políticos, promotores de Justiça e autoridades ligadas à polícia também não poderão mais entrar em território americano. De acordo com o Departamento de Estado americano, elas "ajudaram a minar a democracia na Nicarágua".

Ainda na noite da eleição, em novembro, o presidente dos EUA, Joe Biden, chamou o pleito de Manágua de farsa e disse que seu governo e a comunidade internacional deveriam usar "ferramentas diplomáticas e econômicas" para responsabilizar Ortega e Murillo. A União Europeia adotou o mesmo tom na data.

As novas sanções, portanto, não são propriamente uma surpresa. De acordo com a agência de notícias AFP, prestigiaram a cerimônia de Ortega representantes de Venezuela, Cuba, Honduras, China, Bolívia, México, Palestina, Rússia, Irã, Coreia do Norte, Síria, Belize, Vietnã, Laos, Camboja, Angola, Turquia, Belarus, Turquia, Egito, Malásia e Iêmen.

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