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Peru troca ministro da Economia e terá premiê defensor de nova Constituição

Pedro Castillo anuncia formação de terceiro gabinete em pouco mais de seis meses de mandato

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Lima | Reuters

O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou nesta terça-feira (1º) sua nova equipe de governo, na formação daquele que será o terceiro gabinete em pouco mais de seis meses de mandato. A troca teve que ser feita em razão da renúncia da então primeira-ministra Mirtha Vázquez, nesta segunda (31).

A legislação peruana determina que, no caso de demissão do premiê, ao designar outro ocupante para o cargo, o presidente precisa nomear todo um novo gabinete —embora possa manter algumas posições, se desejar. Todos passam pelo voto de confiança do Congresso até um mês após a indicação.

Duas mudanças promovidas por Castillo se destacaram entre as demais —nas pastas do Interior e da Economia—, sem contar a indicação do deputado Héctor Valer para substituir Vázquez. Ambos são considerados esquerdistas de perfil moderado, mas o novo premiê integra um bloco parlamentar que tem como agenda principal redesenhar a Constituição.

Lima, 1 de fevereiro de 2022. O presidente do Peru, Pedro Castillo, posa com seu novo gabinete ministerial. Foto: Divulgação Presidência do Peru
O presidente do Peru, Pedro Castillo (ao centro), posa com seu novo gabinete ministerial, anunciado nesta terça - Divulgação Presidência do Peru

O movimento, então, pode indicar que Castillo pensa em retomar a promessa eleitoral de propor uma nova Carta, um objetivo de longa data da esquerda peruana rechaçado por investidores. Em suas primeiras declarações, Valer reafirmou a posição, falando em "preparar um momento constituinte em quatro anos".

O novo premiê de um governo esquerdista, vale lembrar, coroa agora uma trajetória peculiar, depois de se eleger deputado no ano passado por uma legenda de ultradireita. Ele rompeu com seu partido por discordar de um movimento para questionar o resultado do pleito vencido por Castillo.

O mercado também aguardava com apreensão a nomeação do substituto de Pedro Francke na Economia. De perfil mais moderado, o agora ex-ministro não agradava às alas mais à esquerda do partido do presidente, o Perú Libre, mas tinha a confiança do setor e vinha sendo responsável pela relativa estabilidade econômica do país.

Francke anunciou no Twitter, pouco antes da confirmação dos novos ministros, que deixaria o governo. Ele afirmou que "os números respaldam" seu trabalho, destacando a recuperação do país em meio à crise sanitária, uma proposta de reforma tributária e o início do processo de adesão à OCDE. "Espero que a nova gestão continue com as reformas e trabalhe comprometida em fortalecer a luta contra a corrupção", disse.

Seu substituto possui larga experiência no serviço público. Oscar Graham acumula passagens pela pasta da Economia entre 2011 e 2016 e trabalhou no Banco Central por mais de uma década.

Outra mudança importante se deu no Ministério do Interior, no qual Alfonso Chávarry foi designado para o posto que era de Avelino Guillén. O novo titular —o quarto nos seis meses de governo— já chega envolto a desconfiança porque foi chefe da polícia de Cajamarca. Vázquez, por exemplo, opunha-se à nomeação de alguém egresso das forças de segurança na pasta que cuida justamente da Polícia Nacional.

A ex-primeira-ministra classificou a situação no Interior de caótica. Foi uma crise nesse órgão, aliás, que transbordou para o restante do governo —ainda que Castillo tenha tentado despistar, ao dizer que "o gabinete está em constante avaliação" e que esta seria a razão pela qual teria decidido renová-lo.

Guillén pediu demissão no último dia 28 depois de ter entrado em choque com o comandante-geral da Polícia Nacional, Javier Gallardo, opondo-se a uma série de mudanças de oficiais, com alguns promovidos e outros transferidos para a reserva. Vázquez vinha tentando demover Guillén da ideia de renúncia, até capitular, anunciando nas redes: "Apesar dos esforços realizados, a essa altura meu papel se esgotou". Em documento entregue a Castillo, ela ainda definiu como crítico o momento em que o governo se encontra.

Outras trocas se deram nas pastas da Defesa (o militar da reserva da Marinha José Luis Gavidia Arrascue substituirá Juan Carrasco), das Relações Exteriores (César Landa no lugar de Óscar Maurtua) e das Minas e Energia (Alessandra Herrera assume o posto de Eduardo Toro). Dos 19 integrantes do ministério, 10 foram mudados. O novo gabinete terá quatro ministras, contra cinco da configuração anterior.

Desde que assumiu o cargo, em 28 de julho, após derrotar Keiko Fujimori por uma pequena margem no segundo turno, o líder esquerdista já enfrentou pedidos de impugnação do pleito, a renúncia do chefe das Forças Armadas pouco antes da posse, um processo de impeachment que acabou rejeitado no Congresso e demissões pontuais de auxiliares —por declarações polêmicas, denúncias de irregularidades e pela realização de uma festa em meio a restrições impostas pelo governo para conter a pandemia.

Isso tudo sem contar a formação de dois gabinetes, que se deu em meio a atritos com seu próprio partido, o Perú Libre; lideranças mais à esquerda da legenda criticaram a indicação de nomes chamados por eles de "caviares", mais moderados. Vásquez havia sido nomeada primeira-ministra após a saída de Guido Bellido, que responde a processos por corrupção e apologia do terrorismo, por comentários elogiosos ao Sendero Luminoso —guerrilha que, em conflito com o Estado, causou a morte de mais de 70 mil peruanos.

Nas nomeações anteriores, Castillo passou por provas de fogo no Congresso. Na primeira delas, foram necessárias duas sessões e mais de 18 horas para a concessão do voto de confiança; na segunda, houve dez horas de debate, marcadas pela morte de um deputado, que se sentira mal horas antes. ​

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