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Presidente do Peru anuncia trocas 3 dias após nomear 3º gabinete em 6 meses

Acusação de agressão envolvendo indicado a premiê agrava crise política de esquerdista Pedro Castillo

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Lima | Reuters e AFP

O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou na noite desta sexta-feira (4) que vai fazer novas trocas em seu gabinete. A equipe, a terceira em pouco mais de seis meses de governo, foi nomeada na última terça (1º) e ainda nem tinha passado por aprovação do Congresso.

"Tomei a decisão de recompor o gabinete ministerial", declarou Castillo em breve pronunciamento transmitido pela TV. O esquerdista não especificou que mudanças fará, mas a decisão provavelmente implica a saída do indicado a primeiro-ministro, Héctor Valer.

O presidente ressaltou apenas que tomou a decisão depois de um desentendimento entre os líderes do Parlamento e o premiê. Valer havia pedido para expor seu plano de ação, processo que dá início à votação da moção de confiança, já neste sábado (5), mas a solicitação foi rejeitada.

O indicado a premiê Héctor Valer dá entrevista em Lima negando acusações de violência familiar - Juan Pablo Azabache - 3.fev.22/Divulgação Presidência do Peru/AFP

O indicado a primeiro-ministro tem uma trajetória política peculiar. Deputado eleito por uma legenda de ultradireita, ele rompeu com o partido por discordar de um movimento para questionar o pleito vencido por Castillo e passou a liderar um bloco parlamentar que defendia uma nova Constituição. Nesta semana, acabou nomeado para o governo de um presidente de esquerda, populista e conservador.

Sua indicação, porém, foi criticada por problemas de ordem pessoal. A imprensa peruana revelou que ele foi acusado em 2016 de ter agredido a filha e a ex-mulher —a Justiça teria concedido a ambas medidas protetivas contra ele. Valer nega e, nesta semana, disse não ser um abusador, afirmando ter apenas "repreendido a filha muitas vezes como qualquer pai faz dentro de casa".

O político ainda garantiu que ficaria à frente do Conselho de Ministros, a menos que tivesse o voto de confiança negado pelo Congresso.

Ocorre que essa era uma opção bastante provável. Nesta sexta, a presidente do Parlamento, a opositora María del Carmen Alva, pediu a Valer que renunciasse. Outros três colegas de gabinete também o questionaram publicamente. "O exercício público exige funcionários livres dessas denúncias", escreveu o novo chanceler, César Landa.

Na terça, Castillo nomeou seu terceiro gabinete em pouco mais de seis meses de mandato. O processo teve de ser feito devido à renúncia da então primeira-ministra Mirtha Vázquez —a legislação peruana determina que, no caso de demissão do premiê, ao designar outro ocupante para o cargo, o presidente precisa nomear todo um novo gabinete.

Dos 19 titulares da equipe, Castillo tinha anunciado 10 alterações. As mais importantes foram, além da chefia do Conselho de Ministros, na Economia (com Óscar Graham substituindo o moderado Pedro Francke, que agradava ao mercado) e no Interior. Foi nesta pasta, aliás, que começou a crise atual, com o pedido de demissão de Avelino Guillén no último dia 28.

Guillén renunciou após entrar em choque com o comandante-geral da Polícia Nacional, Javier Gallardo, opondo-se a uma série de mudanças de oficiais. Mirtha Vázquez entrou no circuito para tentar demovê-lo da ideia, mas acabou preferindo sair também, dizendo que a pasta vivia uma situação caótica, e o governo, um momento crítico.

O novo indicado ao Interior, Alfonso Chávarry, também está envolvido em desconfiança, por ter sido chefe da polícia na província de Cajamarca. Ainda foram alvo de críticas nos últimos dias as nomeações de Katy Ugarte no Ministério da Mulher, Wilber Supo no Ambiente e Alejandro Salas na Cultura.

Castillo não indicou quando faria o apontamento do novo gabinete, apenas prometeu que "as mudanças terão em conta a abertura a forças políticas, acadêmicas e profissionais do país".

Desde que assumiu o cargo, em 28 de julho, após derrotar Keiko Fujimori por uma pequena margem no segundo turno, o líder esquerdista já enfrentou pedidos de impugnação do pleito, a renúncia do chefe das Forças Armadas pouco antes da posse, um processo de impeachment que acabou rejeitado no Congresso e demissões pontuais de auxiliares —por declarações polêmicas, denúncias de irregularidades e pela realização de uma festa em meio a restrições impostas pelo governo para conter a pandemia.

Isso tudo sem contar a formação de dois gabinetes, que se deu em meio a atritos com seu próprio partido, o Perú Libre; lideranças mais à esquerda da legenda criticaram a indicação de nomes chamados por eles de "caviares", mais moderados. Vásquez havia sido nomeada primeira-ministra após a saída de Guido Bellido, que responde a processos por corrupção e apologia do terrorismo, por comentários elogiosos ao Sendero Luminoso —guerrilha que, em conflito com o Estado, causou a morte de mais de 70 mil peruanos.

Nas nomeações anteriores, Castillo passou por provas de fogo no Congresso. Na primeira delas, foram necessárias duas sessões e mais de 18 horas para a concessão do voto de confiança; na segunda, houve dez horas de debate, marcadas pela morte de um deputado, que se sentira mal horas antes. ​

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