Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Negociação entre Rússia e Ucrânia segue sem avanço; Kremlin fala em ocupar cidades

No domingo, os dois lados haviam dado declarações otimistas sobre acordo para encerrar conflito

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São Paulo

As negociações para tentar pôr um fim à guerra na Ucrânia recomeçaram nesta segunda (14) sem avanços concretos, apesar da expectativa de que um acordo poderá ser alcançado ainda nesta semana.

Ao mesmo tempo, a Rússia sugeriu que poderá ocupar militarmente os principais "centros populacionais" do país vizinho, além de manter o ritmo intenso de ataques a cidades como Kiev, Kharkiv e Mariupol.

Guindaste remove carro destruído de área bombardeada pelos russos em Kiev, capital da Ucrânia
Guindaste remove carro destruído de área bombardeada pelos russos em Kiev, capital da Ucrânia - Aris Messinis/AFP

"Vamos fazer uma pausa técnica até amanhã [terça, 15] para seguir trabalhando nos subgrupos", afirmou no Twitter Mikhailo Podoliak, principal assessor do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Antes do encontro, ele escrevera que a quarta rodada de negociações versaria sobre "paz, cessar-fogo, retirada imediata das tropas e garantias de segurança. Discussão difícil".

Mais tarde nesta segunda, Zelenski afirmou que a rodada de negociações foi "muito boa, segundo me disseram".

Por outro lado, ele evitou se mostrar otimista demais acerca do futuro das conversas. "Vamos ver [o que mais irá acontecer]".

No mesmo pronunciamento, feito por vídeo, ele também agradeceu publicamente a Marina Ovisannikova, funcionária da emissora de TV russa Canal Ummque invadiu a transmissão ao vivo do principal telejornal do país, o Vremia (Tempo), para protestar contra a guerra.

Diferentemente de três encontros de delegações na Belarus e de uma frustrada cúpula diplomática entre os chanceleres na Turquia, a reunião desta segunda foi virtual. Ela se deu após declarações inusualmente otimistas dos dois lados no domingo (13), prevendo algum tipo de arranjo além da questão dos corredores humanitários para "os próximos dias", de acordo com o negociador russo Leonid Slutski.

Se no nível diplomático as conversas voltaram nesta segunda, o dia no front viu novos ataques à capital e um constante bombardeio em Mariupol.

Os bombeiros de Kiev disseram que um disparo de artilharia na madrugada atingiu um edifício residencial na zona norte da cidade, deixando ao menos uma pessoa morta e 12 feridos —três dos quais foram hospitalizados. "Saímos do apartamento e vimos que a escada não estava mais lá, tudo estava pegando fogo", disse Maksim Korovii, que vive no prédio com a mãe, à agência de notícias Reuters. "Conseguimos colocar as roupas que tínhamos à mão e fomos de varanda em varanda."

O governo local afirmou que outra pessoa morreu e mais seis ficaram feridas após serem atingidas por fragmentos de um míssil cujo alvo era a fábrica de aviões Antonov. Os estilhaços caíram numa rodovia.

Além de Kiev, sirenes de alertas de ataque aéreo soaram antes do amanhecer em diferentes regiões da Ucrânia, incluindo Lviv, Odessa, Ivano-Frankivsk e Tcherkássi.

No sul, em meio ao constante bombardeio ao porto de Mariupol, autoridades disseram que cerca de 160 veículos com civis deixaram a cidade nesta segunda rumo a Zaporíjia, no que é a primeira tentativa bem-sucedida de um corredor humanitário na região, sitiada há duas semanas.

Por outro lado, separatistas pró-Rússia de Donetsk, no leste, afirmaram que um ataque ucraniano deixou 16 mortos e 23 feridos no centro da cidade. No Telegram, forças de defesa publicaram fotos que mostram corpos ensanguentados entre escombros. A mensagem afirma que a defesa aérea da região interceptou um míssil ucraniano e que estilhaços atingiram a população.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a Rússia não descarta ocupar as principais cidades ucranianas. "O Ministério da Defesa, enquanto garante o máximo de segurança para a população civil, não exclui a possibilidade de tomar os centros populacionais principais sob total controle."

Ele respondia a uma questão sobre a informação vazada por Washington de que a Rússia teria pedido ajuda militar e econômica para a China. "Não", disse ele, afirmando que Moscou tem condições de tocar a guerra sozinha. Pequim também negou a hipótese, classificando-a de intriga americana.

O movimento de aumentar a pressão militar e acenar diplomaticamente faz sentido na visão do Kremlin, que retirou a derrubada do governo de Zelenski de sua retórica e, nas palavras do próprio Peskov, na semana passada, enumerou suas condições para acabar com a guerra.

Os russos querem Kiev desmilitarizada, rejeitando adesão à Otan, a aliança militar ocidental, ou à União Europeia e reconhecendo as áreas de maioria russa que já perdeu em 2014: a Crimeia anexada por Vladimir Putin e o Donbass declarado independente por Moscou pouco antes do início da guerra.

Zelenski acenou positivamente à ideia de conversar, mas depois voltou a assumir a postura de "luta até o fim" que tomou com o apoio ocidental, ainda que se queixe de que a Otan não entra na guerra a seu lado.

No domingo, essa equação ganhou contornos dramáticos com o ataque russo a um centro de treinamento e ligação entre forças ucranianas e ocidentais a 25 km da fronteira do país com a Polônia, o membro da Otan mais disposto a elevar o tom contra os russos até aqui. Temores de uma escalada que, no limite, poderia levar à Terceira Guerra Mundial, pautam essa discussão.

A frase de Peskov parece adicionar ameaça, e na prática as forças russas já estão redesenhando o mapa da Ucrânia. A certeza de uma insurgência e da continuidade das sanções contra Moscou, contudo, fazem crer que o Kremlin pode deixar Zelenski permanecer no poder se aceitar as condições impostas.

Nesta segunda, Putin conversou com o premiê israelense, Naftali Bennett, que está tentando se colocar como mediador de um acordo de paz. E o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, disse ter conversado por telefone com seu contraparte iraniano, Hossein Amirabdollahian.

Segundo ele, o colega disse que o Irã, aliado usual de Moscou, "é contra a guerra".

Enquanto isso, um dos aliados mais próximos de Putin disse que o avanço russo não é tão rápido quanto o Kremlin esperava. "Gostaria de dizer que sim, mas nem tudo está indo tão rápido quanto gostaríamos", disse Viktor Zolotov, chefe da Guarda Nacional russa, em cerimônia religiosa liderada pelo patriarca da Igreja Ortodoxa, Cirilo, no domingo. "Mas estamos indo em direção ao nosso objetivo passo a passo, e a vitória será nossa."

O progresso mais lento do que o esperado se dá pelo que ele chamou de forças de ultradireita ucranianas escondidas por trás de civis, acusação repetida por autoridades russas. Na sexta, o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, disse a Putin que "tudo está indo de acordo com o planejado".

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