Descrição de chapéu União Europeia

Abstenção no 2º turno na França é a maior em 53 anos

Desde 1969 que taxa eleitores franceses que escolhem não voltar não era tão alta

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Paris

Com a consolidação do resultado no segundo turno da eleição presidencial na França, que reelegeu o presidente Emmanuel Macron neste domingo (24), confirmou-se o que já havia sendo apontado por analistas: os franceses se dispõem a votar cada vez menos.

A abstenção deste ano foi a maior registrada desde o pleito de 1969. Enquanto neste domingo, 28,01% dos eleitores não compareceram, naquele ano a parcela foi de 31,3% a se abster de votar em Georges Pompidou ou Alain Poher. Na França, o voto não é obrigatório.

Eleitores em seção de Lyon, na França, neste domingo - Olivier Chassignole - 24.abr.22/AFP

A taxa de comparecimento foi mais baixa ainda do que a vista no primeiro turno, o que já era esperado visto que os eleitores da esquerda, por exemplo, não se viram contemplados nos candidatos do segundo turno. Em 10 de abril, 73,7% foram às urnas, contra 71,99% deste domingo.

Já em comparação com 2017, quando Macron, do República em Marcha, e Le Pen, da Reunião Nacional, também se enfrentaram, a abstenção aumentou em cerca de 2,5 pontos percentuais. Naquele ano, foram 25,44% os que não compareceram.

Fora as regiões ultramarinas, campeãs na abstenção, a Córsega foi a que apresentou menor comparecimento neste domingo —apenas 60,86% foram às urnas. Em segundo lugar vem a região de Île-de-France, onde fica Paris, com participação de 70,62%.

Ao lado dos subúrbios de Val d’Oise e Seine-Saint-Denis, Paris já encabeçava a lista de cidades com menor comparecimento matinal às urnas. O tempo relativamente firme e o recesso escolar, que teve início pouco depois do primeiro turno, colaboraram também para o nível de abstenção.

O destino dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon, terceiro colocado no primeiro turno, foi a principal incógnita. A rejeição a Macron pode ter levado uma boa parte deles a simplesmente não votar, a optar pelo voto em branco ou ainda à opção mais radical a favor de Le Pen —apesar da recomendação do próprio Mélenchon. "Sabemos em quem nunca votaremos. Não devemos dar votos para a senhora Le Pen", declarou o candidato da França Insubmissa.

Macron votou neste domingo (24) às 13h, em Tuquet, no norte da França, e retornou a Paris durante a tarde. Após o resultado, o presidente se reuniu com apoiadores no Campo de Marte, em frente à Torre Eiffel.

Já a candidata da ultradireita Marine Le Pen compareceu a sua seção eleitoral no final da manhã, na cidade de Hénin-Beaumont, também no norte do país.​

Le Pen foi saudada na chegada a seu local de votação acompanhada do prefeito da cidade, Steeve Briois, outro expoente do RN, partido de Le Pen. Ela também retornou a Paris à tarde, para se reunir com apoiadores no Bois de Boulogne.

A possibilidade de que a segunda maior economia da União Europeia fosse governada, nos próximos cinco anos, por uma presidente que destaca em seu programa diversos pontos de conflito com aspectos fundamentais do bloco pairou sobre o segundo turno e preocupou os principais líderes.

Além de prometer medidas que colocariam em risco a livre circulação de pessoas e mercadorias na UE, Le Pen é uma antiga aliada do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em 2014, reconheceu a anexação da Crimeia por Moscou e viu seu partido obter um empréstimo de cerca de € 9 milhões em um banco do país. Nas últimas semanas, ela condenou a invasão da Ucrânia e procurou se distanciar do Kremlin, mas se opôs a sanções contra o gás e o petróleo russos.

Na quinta-feira (21), os primeiros-ministros de Alemanha, Espanha e Portugal declararam apoio à reeleição de Macron —manifestação sobre assuntos domésticos considerada rara entre membros do bloco.

Em 2017, Le Pen ficou marcada por sua proposta de retirar a França do bloco e retomar o franco como moeda corrente. Desde a derrota eleitoral, no entanto, a palavra "frexit" foi ficando para trás, como parte do processo de remodelamento de sua imagem, que acabou por reapresentá-la neste pleito como uma política menos agressiva, mais sorridente, mais próxima do cidadão comum. Trata-se de uma tentativa de estabelecer um contraste com Macron, visto como um presidente dos ricos, das metrópoles, arrogante e distante da vida real da população.

Antes do primeiro turno, a ultradireitista realizou uma campanha centrada em temas relacionados ao custo de vida —principal preocupação dos franceses para definir o voto. A estratégia rendeu bons frutos e lhe garantiu o segundo lugar na disputa, com 23,1%, atrás de Macron (27,8%) e pouco à frente do ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon (21,9%).

Além de tentar se distanciar dos temas internacionais, seu programa não menciona a saída da França do bloco europeu. "Frexit não é de forma alguma nosso projeto", disse Le Pen, logo após o primeiro turno. "Queremos reformar a UE por dentro."

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