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Fernández dá posse a 'superministro' na Argentina para salvar economia e governo

Em crise, presidente abre mão de poder e Sergio Massa assume falando em austeridade

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São Paulo

Com a difícil missão de reverter a crise que assola a Argentina, em diferentes camadas políticas e econômicas, o advogado Sergio Massa assumiu na noite desta quarta-feira (3) o recém-criado "superministério" da Economia. Em seguida, ele anunciou um pacote de medidas para tentar dar estabilidade ao país, em difícil situação cambial e inflacionária.

O "Plano Massa", como vem sendo chamado por parte da imprensa argentina, se sustenta em dois pontos principais: revisão dos gastos sociais e fortalecimento das reservas do Banco Central para contornar a dívida. O pacote marca um aceno pró-mercado, ao trazer o ajuste fiscal para o centro da política econômica.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, cumprimenta o novo ministro da Economia, Sergio Massa, após cerimônia de posse na Casa Rosada, em Buenos Aires - Luiz Robayo - 3.ago.22/AFP

Mais do que recuperar a economia, Alberto Fernández espera que a mudança possa representar também uma salvação para seu governo. Impopular, o presidente se vê mergulhado em uma profunda crise política que o separa de sua vice, Cristina Kirchner, em uma disputa por poder.

Nessa tensão, Cristina tem levado a melhor: foi dela a indicação de Massa para o superministério, que ganhou esse nome por agregar as pastas de Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura e Pesca —antes independentes. Na prática, segundo analistas, Massa agirá como uma espécie de primeiro-ministro, respondendo a Cristina, coroando o escanteamento de Fernández.

A vice-presidente, porém, sempre foi crítica de políticas de ajuste fiscal no governo. Ela não foi à cerimônia de posse nesta quarta.


Cristina, registre-se, também enfrenta turbulências. Nesta semana, começou a fase final do julgamento que apura irregularidades no período em que ela foi presidente (2007-2015) e, na primeira de nove audiências programadas, a política foi acusada de criar e liderar uma "extraordinária matriz de corrupção" ao lado do marido, Néstor Kirchner (1950-2010).

Membros da coalizão governista veem no novo regente da Economia a última chance de o líder peronista enfrentar a perda de popularidade e sobreviver politicamente até a eleição presidencial do ano que vem.

Com a tensão em alta, os desafios de Massa não ficarão restritos ao ambiente financeiro, mas ele buscou atenuar as expectativas que se põem sobre ele. "Não sou 'super' nada. Nem mágico nem salvador. Venho trabalhar de forma muito comprometida para que a Argentina melhore", disse.

Fernández pregou união. "É hora de todos nós juntarmos forças para seguir em frente. Não falo apenas com meus colegas da Frente de Todos [coalizão governista], mas também com todos os argentinos. Vejo muitos empresários, colegas do sindicalismo, da política. Temos uma grande oportunidade como país."

Terceiro a ocupar o cargo em menos de um mês, Massa anunciou que o país cortará subsídios para energia elétrica e gás —o que pode aumentar o preço final para alguns consumidores. Segundo o jornal La Nación, o ministro também apresentará, nos próximos dias, a reorganização de programas sociais, que representam 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. O objetivo é de que a nova estrutura diminua o desemprego, fortaleça cooperativas e garanta assistência a pessoas em vulnerabilidade.

Ele anunciou ainda que o governo manterá o congelamento de contratações de servidores públicos, medida apoiada por sua antecessora, a economista Silvina Batakis.

A priorização do ajuste fiscal sinaliza um alinhamento do novo ministro ao pacto da Argentina com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Em janeiro de 2022, Fernández confirmou o acordo que, entre outras coisas, estabelece a meta de déficit fiscal em 2,5% do PIB em 2022. Em agosto, segundo a imprensa argentina, Massa se encontrará com funcionários do fundo em Washington.

O caminho até lá envolveria a recomposição imediata das reservas do Banco Central, que atualmente quase não possui dólar em caixa. Para isso, o Plano Massa envolve diferentes estratégias, como aumentar os incentivos para a agropecuária e setores de exportação —que estão entre as principais portas de entrada de reservas para o país—, e atrair investimentos de organismos internacionais, como o BID e o Banco Mundial.

Massa também anunciou a intenção de fechar acordos com três instituições financeiras e um fundo soberano árabe para a recompra da dívida. Com essas medidas, o governo espera reconquistar a confiança na economia argentina, controlar a inflação que pode chegar a 90% ao ano, e deter a disparada do dólar no mercado paralelo.

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