Brasil terá reunião com Rússia e ignora Ucrânia em Assembleia da ONU

Evento deve ser marcado por debates sobre a guerra; Bolsonaro cancela agendas vai se encontrar com polonês e equatoriano

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Nova York

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, vai se encontrar com o chanceler russo, Serguei Lavrov, em reunião bilateral nesta quarta-feira (21), às margens da 77ª Assembleia-Geral da ONU.

Lavrov é alvo de sanções de uma série de países do Ocidente e teve seu visto para entrar nos Estados Unidos aprovado de última hora, em meio a tensões com o país, levadas ao extremo após a eclosão da Guerra da Ucrânia.

Não há nenhuma agenda prevista da diplomacia brasileira com representantes da Ucrânia. Sob Jair Bolsonaro (PL), o país vem defendendo o que seria uma posição de neutralidade no conflito no Leste Europeu —de olho, em especial, em exportações russas, notadamente de fertilizantes e combustíveis. A posição foi questionada por países ocidentais e pelo próprio ucraniano Volodimir Zelenski.

Jair Bolsonaro e Michelle chegam à Abadia de Westminster para o funeral de Elizabeth 2ª nesta segunda-feira - Marco Bertorello - 19.set.22/AFP

Além de Lavrov, França deve se reunir também com o chanceler da Belarus, na sexta-feira (23). A ditadura se alinha automaticamente ao Kremlin.

O ministro ainda tem encontros previstos com representantes de uma série de outros países: Guiné-Bissau, El Salvador, Senegal, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Japão, Sérvia, Bahrein, Suriname, Turquia, Guatemala, Irã, Guiana e Indonésia. Além disso, a agenda inclui encontros multilaterais com homólogos da Liga dos Estados Árabes, de Brics e Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), do Segib (Secretariado Geral Ibero-Americano) e do chamado G4 —grupo que reúne Brasil, Alemanha, Japão e Índia, países que pleiteiam assento fixo no Conselho de Segurança.

A agenda cheia contrasta com a do presidente, que tinha quatro reuniões bilaterais previstas, mas cancelou duas (com os presidentes guatemalteco, Alejandro Giammatei, e sérvio, Aleksandar Vucic). Bolsonaro deve ter encontros com o polonês Andrzej Duda e o equatoriano Guillermo Lasso, além do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Com o presidente da Polônia, o brasileiro deve assinar dois acordos: um sobre troca e proteção de informações sigilosas e outro para eliminação de dupla tributação e prevenção de evasão fiscal.

A menos de duas semanas das eleições presidenciais, em um momento em que aparece em segundo lugar nas pesquisas, Bolsonaro passará menos de 24 horas em Nova York. Ele chega à cidade por volta das 19h desta segunda e deve ter um jantar privado.

Na terça pela manhã, o presidente segue para a ONU, onde abrirá os discursos da Assembleia-Geral, antes de almoçar com apoiadores que viajaram em esquema de caravana de outras cidades em uma churrascaria brasileira. Enquanto isso, Michelle Bolsonaro se reunirá com representantes da Alma, aliança de primeiras-damas da qual ocupa a coordenação. À tarde a comitiva deve voltar ao Brasil.

Espera-se que a Guerra da Ucrânia monopolize os debates do evento das Nações Unidas —seja pela busca da paz, algo que Guterres reconhece ser pouco provável agora, seja por seus efeitos diretos, como a alta global nos preços de energia e combustível.

O grande objetivo da ONU deve ser expandir o acordo que permite o comércio de grãos da Ucrânia, aumentando também as exportações de fertilizantes da Rússia em meio à crise de escassez de alimentos.

Esta será a primeira edição totalmente presencial da Assembleia-Geral desde a eclosão da Covid-19, em 2020. Naquele ano, líderes mundiais discursaram de forma remota, sem que nenhum viajasse a Nova York. Em 2021, parte deles falou de forma presencial, como Bolsonaro, e parte enviou vídeos, caso do líder chinês, Xi Jinping —que recentemente fez sua primeira viagem internacional após a pandemia.

A participação remota não estava prevista para a edição deste ano. Houve, no entanto, uma exceção para que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, possa enviar um vídeo gravado previamente. A exceção foi aprovada pela Assembleia-Geral com 101 votos a favor e 7 contra, incluindo o da Rússia. O Brasil se absteve, votando a favor de uma emenda rejeitada da Belarus para que não só Zelenski, mas qualquer autoridade de país em guerra, pudesse participar de forma remota —o que não foi aceito.

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