Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia fala em erros pontuais em mobilização e nega fechamento de fronteiras

Porta-voz admite convocações irregulares; referendos na Ucrânia terminam nesta terça

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Kiev | Reuters

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, admitiu nesta segunda-feira (26) a ocorrência de erros na convocação de reservistas determinada na semana passada pelo presidente russo, Vladimir Putin. Relatos da própria mídia russa apontam para a chamada de idosos ou homens sem condição clínica, fora dos padrões listados pelo governo —de resto ainda pouco claros.

"De fato, há casos em que o decreto foi violado. Em algumas regiões, os governadores estão trabalhando ativamente para corrigir essa situação", disse o porta-voz. A fala de Peskov é mais um sinal de que o Kremlin tenta conter críticas à mobilização, vistas também em protestos nos quais mais de 2.400 pessoas já foram presas, segundo a organização OVD-Info.

Imagens na internet mostram confrontos em atos realizados em áreas onde predominam minorias étnicas, como o Daguestão, no sul, majoritariamente muçulmano e a Buriácia, na Sibéria.

Homem carrega mala na fronteira da Geórgia com a Rússia - Irakli Gedenidze - 26.set.22/Reuters

Em um programa de entrevistas no principal canal estatal da Rússia, comentaristas também exigiram punições severas para autoridades militares responsáveis por convocar pessoas fora das categorias definidas. "Podemos apenas atirar neles?", perguntou o apresentador Vladimir Soloviov. "Pegue aquele oficial de recrutamento pela orelha e mande-o para o front no Donbass."

Neste domingo (25), a presidente do Senado russo, Valentina Matvienko, filiada ao partido de Putin, que também havia feito críticas ao recrutamento de idosos e estudantes, pediu atenção para evitar erros. A mensagem foi direcionada aos governadores, responsáveis por cumprir as metas de alistamento de Moscou.

Após a ordem de Putin na semana passada, o Ministério da Defesa disse que poderá convocar todos com alguma experiência militar, mas não aqueles que serviram como conscritos nem estudantes.

Na região de Volgogrado, no sudoeste do país, um centro de treinamento enviou de volta para casa um militar aposentado de 63 anos, diabético e com problemas neurológicos. Na mesma região, o diretor de uma escola rural, Alexander Faltin, 58, foi convocado, mas não tinha experiência militar —a decisão foi revista após a repercussão.

Paralelamente, Peskov afirmou que nenhuma decisão foi tomada sobre o fechamento de fronteiras para impedir o êxodo de homens em idade militar —ao anúncio de mobilização de Putin se seguiram relatos de filas nas divisas com países como Finlândia e Geórgia, e passagens aéreas internacionais, já escassas dado o isolamento imposto a Moscou, multiplicaram de preço.

"Não sei nada sobre isso. No momento, nenhuma decisão foi tomada sobre isso", disse o porta-voz do Kremlin ao ser questionado sobre a perspectiva de fechamento da fronteira. A notícia havia sido especulada por dois sites independentes, que hoje operam fora da Rússia —Meduza e Novaia Gazeta—, citando autoridades não identificadas.

"Todo mundo em idade de alistamento deve ser proibido de viajar para o exterior na situação atual", defendeu Serguei Tsekov, senador que representa a Crimeia ocupada, à agência de notícias RIA.

As falas se dão a um dia do final do período marcado para os referendos de anexação de quatro províncias ucranianas —as hoje parcialmente ocupadas Kherson, Zaporíjia, Lugansk e Donetsk. Kiev e aliados do Ocidente consideram as votações pretextos para tomar território capturado à força. Se virarem parte da Rússia, no entendimento legal do Kremlin, ataques a essas áreas passam a ser contra a nação, e a doutrina nuclear de Moscou prevê o uso da bomba, sejam ogivas táticas de baixa potência, sejam estratégicas.

O prefeito exilado de Melitopol, na região de Zaporíjia, acusou a Rússia de recrutar à força homens ucranianos em áreas ocupadas. "Nossos moradores estão em pânico, não sabem o que vai acontecer amanhã", disse Ivan Fedorov à Reuters. "A votação acontece na frente de fuzis e de homens armados. As pessoas são agarradas na rua e forçadas a votar não só por si, mas por todas as suas famílias."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.