Irã indicia mil manifestantes e prepara tribunais públicos para 'desordeiros'

Detidos podem ser condenados à morte em nova tentativa do regime de sufocar atos iniciados em setembro

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Dubai | Reuters

Cerca de mil pessoas indiciadas em protestos na capital do Irã serão julgadas publicamente por promover "atos de sabotagem", incluindo "agredir ou atormentar guardas de segurança e incendiar propriedades públicas".

A decisão, anunciada pelo chefe da Justiça de Teerã e noticiada pela agência semioficial Tasnim, representa mais um passo na tentativa do regime de esmagar de uma vez por todas a onda de atos iniciada com a morte de Mahsa Amini, há um mês e meio —maior demonstração de oposição ao regime em anos, com muitos dos manifestantes pedindo o fim da teocracia em vigor no país desde 1979.

Manifestantes fogem de projéteis lançados por forças de segurança na Universidade do Norte do Teerã, no Irã - UGC - 30.out.22/AFP

As autoridades alegam que os protestos são planejados por forças estrangeiras para desestabilizar o Irã.

Os julgamentos acontecerão ao longo desta semana, na Corte Revolucionária. Não se sabe se os 315 manifestantes que teriam sido indiciados no sábado —cinco deles acusados de crimes passíveis de punição com pena de morte— estão incluídos entre os mil citados, chamados de "desordeiros" pelas autoridades.

Os participantes dos atos pertencem a todas as faixas etárias, embora estudantes e mulheres tenham desempenhado um papel proeminente nas demonstrações, brandindo e ateando fogo aos lenços que usam para cobrir o cabelo —o hijab, item de vestimenta obrigatório no islamismo, cujo uso supostamente equivocado teria levado à prisão de Mahsa Amini em primeiro lugar.

Os protestos voltaram a ganhar força nas últimas semanas, com relatos de mortes de adolescentes em confrontos com as forças de segurança. A agência ativista Hrana contabiliza ao menos 283 mortos nas manifestações, incluindo 44 menores de idade. Cerca de 34 autoridades também teriam sido vitimadas.

No sábado, o comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Hossein Salami, aconselhou os manifestantes a não ir para as ruas, declarando que aquele seria "o último dia de tumultos". A força de elite, comandada pelo líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, ainda não foi empregada para reprimir os protestos —até agora, o regime havia basicamente convocado as forças de segurança tradicionais para este fim, incluindo a milícia voluntária Basij.

Apesar das ameaças, manifestantes voltaram a se reunir em universidades nesta segunda-feira (31), de acordo com uma conta ativista no Twitter que parece ter sido desativada, Tasvir1500. O perfil compartilhou recentemente um vídeo em que uma mulher diz que seu filho de 22 anos foi condenado à morte em uma audiência inicial e que ela fora interrogada sem a presença de um advogado.

Mahsa Amini morreu em 16 de setembro, depois de ter ficado detida por três dias pela polícia moral, quando visitava Teerã com o irmão. O regime alega que sua morte ocorreu em decorrência de um problema cardíaco, versão que a família e ativistas contestam —eles afirmam que ela foi vítima de agressões dos agentes.

As manifestações começaram no funeral de Amini, na província iraniana do Curdistão, onde ela vivia. Desde então, só se intensificaram, alastrando-se pelo país e atraindo a atenção da comunidade internacional.

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