Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia acusa Reino Unido por ataques e suspende corredor de grãos da Ucrânia

Moscou diz que Londres explodiu gasodutos e ajudou Kiev a atacar Frota no Mar Negro

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São Paulo

O Ministério da Defesa da Rússia acusou o Reino Unido de ajudar a Ucrânia a fazer o maior ataque contra a base da Frota do Mar Negro, na madrugada deste sábado (29), e de ter organizado as explosões que destruíram 3 dos 4 ramais do sistema de gasodutos Nord Stream.

Alegando ser alvo de terrorismo, Moscou disse que irá suspender o acordo de exportação de grãos e fertilizantes ucranianos que usa o mar Negro como corredor para escoar os produtos, vitais para a sobrevivência econômica de Kiev. A sua frota assegurava a passagem dos navios civis, antes bloqueados em seus portos, segundo acordo mediado pela Turquia e pela ONU em julho.

É a primeira vez que Moscou acusa um país membro da Otan, a aliança militar do Ocidente, de participar de forma ativa de um ataque contra sua infraestrutura. Até aqui, as acusações diziam respeito ao envio maciço de armas dos EUA e da Europa para Kiev, além do compartilhamento de informações de inteligência.

O navio caça-minas russo Jelezniakov, da Frota do Mar Negro, na baía que foi atacada em Sebastopol
O navio caça-minas russo Jelezniakov, da Frota do Mar Negro, na baía que foi atacada em Sebastopol - Igor Gielow - 13.mar.2019/Folhapress

Segundo o Ministério da Defesa em Londres, as acusações são "alegações falsas em uma escala épica", que visam tirar foco de dificuldades militares dos russos na Ucrânia, invadida em fevereiro. A ONU afirmou neste sábado que está em contato com autoridades russas.

Já o chefe de gabinete do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, reagiu acusando a Rússia de "chantagem" e de ter "inventado ataques terroristas" em seu próprio território. A União Europeia pediu a volta do arranjo, que iria expirar em 19 de novembro.

Os Estados Unidos também reagiram, afirmando que a interrupção do acordo seria o equivalente a "transformar os alimentos em armas".

"A Rússia está novamente impactando diretamente as nações necessitadas e os preços mundiais dos alimentos, e exacerbando as crises humanitárias e a insegurança alimentar que já são graves", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson.

As explosões no Nord Stream, cujos dois sistemas gêmeos correm mais de 1.200 km sob o mar Báltico, ligando a Rússia à Alemanha no projeto mais simbólico da dependência europeia do gás natural de Moscou, ocorreram há um mês.

Segundo disse na quinta (27) o presidente Vladimir Putin, em encontro com analistas internacionais perto de Moscou, elas foram obra de um governo contra a Rússia. Mas ele não deu nomes. O já reduzido envio de gás russo para a Europa se dá por um ramal na Ucrânia e o sistema turco, e é chave na pressão exercida pelo Kremlin para retaliar as sanções impostas pelo Ocidente à sua economia.

Anteriormente, a Otan havia apontado o dedo para os russos, advertindo Putin que não toleraria ataques à sua infraestrutura energética. É um ponto sensível, já que doutrinas de emprego de armas nucleares em ambos os lados preveem seu uso em caso de ameaças existenciais contra o Estado.

Já o ataque ocorrido às 4h20 (22h20 de sexta em Brasília) deste sábado em Sebastopol é o mais audacioso desde a explosão que atingiu a ponte da Crimeia, símbolo da anexação promovida por Putin em 2014, no começo deste mês.

A Frota do Mar Negro é uma força em baixa, que recuou seus navios mais preciosos para o mar de Azov, que é um braço do corpo d'água maior, mais protegido. Mas sua base é russa desde o império dos Románov, tendo sido estabelecida em 1783.

Mesmo quando a Ucrânia separou-se da União Soviética, em 1991, foi feito um acordo para que os russos pagassem para manter a força lá, na região russófona da Crimeia. Em 2014, as formalidades foram deixadas de lado.

Assim, as explosões que danificaram o caça-minas Ivan Golubets e uma rede de contenção na baía de Iujnaia têm alto poder simbólico para uma desmoralizada frota, que havia perdido em abril sua nau-capitânia, o cruzador pesado Moskva, em um ataque perto da costa ucraniana.

Segundo o porta-voz militar Igor Konachenkov, foram usados nove drones aéreos e sete modelos autônomos submarinos, que funcionam como torpedos guiados por GPS. Eles danificaram a rede, que visa impedir a entrada de submarinos na baía de Sebastopol, que tem várias baías secundárias incrustadas na grande cidade imperial, como a Iujnaia.

Não há relato de feridos. Antes desse ataque, o quartel-general da Frota do Mar Negro havia sido alvo de drones algumas vezes, sem maiores consequências.

Mas a guerra, apesar de próxima fisicamente, só foi sentida de forma mais assertiva na península quando uma base aérea foi atacada e quase metade do componente de aviação naval da frota, destruído, em agosto.

A explosão da ponte na Crimeia levou à troca do comandante das operações russas na Ucrânia e à onda de ataques subsequentes à infraestrutura energética do vizinho, que já atingiu de alguma forma 60% da distribuição de eletricidade do país, com o inverno às portas.

Agora, Kiev enfrenta o risco de ver sua economia ainda mais estrangulada, caso não haja uma solução para a questão. Antes do anúncio russo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia pedido a renovação dos termos do acordo, que ajudou a baixar o preço internacional da commodity com a exportação até aqui de 8 milhões de toneladas de grãos, especialmente trigo.

Troca de prisioneiros

A Rússia e a Ucrânia realizaram a mais recente de uma série de trocas de prisioneiros de guerra neste sábado (29). Os dois lados devolvendo cerca de 50 pessoas, de acordo com autoridades em Moscou e Kiev.

A Ucrânia informou o retorno de 52 detidos, entre soldados, marinheiros, guardas de fronteira, membros da guarda nacional e médicos. O presidente ucraniano afirmou que, desde março, a Rússia libertou um total de 1.031 prisioneiros.

"Lembramos de todos aqueles que estão presos na Rússia e em território ocupado e faremos tudo para garantir que todos sejam devolvidos", disse Zelenski em um discurso.

O Ministério da Defesa da Rússia também afirmou que a Ucrânia entregou 50 prisioneiros de guerra após as negociações.

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