No mesmo dia em que o Congresso rejeitou uma proposta para antecipar as eleições gerais, uma pessoa morreu em confronto entre forças de segurança e manifestantes contrários ao governo Dina Boluarte em Lima, no Peru, neste sábado (28). Trata-se da primeira morte na capital relacionada aos protestos que eclodiram após a destituição do ex-líder Pedro Castillo, em dezembro.
Inicialmente concentradas em regiões formadas por comunidades rurais mais pobres no sul do país, onde o apoio a Castillo é maior, as manifestações ganharam força na capital nas últimas semanas com a chegada de centenas de pessoas em caravanas para os atos que foram apelidados de "tomada de Lima".
Foram registrados neste sábado protestos e casos de violência em Lima e na região de Cusco. Na capital, a morte de Victor Yacsavilca, 55, anunciada neste domingo (29), aumentou para 58 o número de vítimas no país em decorrência das manifestações que começaram há dois meses. Sem entrar em detalhes, uma agência nacional de seguros de saúde informou que o homem sofreu um grave ferimento na cabeça.
Testemunhas relataram que manifestantes encapuzados chutaram e empurraram o gradil próximo ao Congresso de Lima. Depois, eles usaram escudos improvisados e atiraram pedras em direção aos policiais, que dispararam balas de borracha e bombas de efeito moral.
A Defensoria do Povo, responsável por garantir direitos constitucionais da população peruana, divulgou nota lamentando a morte de Yacsavilca, sem informar as circunstâncias. O órgão ainda comunicou que monitora o atendimento médico e direito à saúde dos manifestantes e policiais feridos.
O caso representa mais um revés para Dina, que está pressionada no cargo e é investigada por suspeita de ter cometido crimes de genocídio, homicídio qualificado e lesões graves na repressão aos protestos. Durante a semana, a presidente havia declarado que os grupos por trás dos protestos buscavam mortes em Lima. "Dizem que uma morte em Lima vale por cem na província."
Ainda neste sábado, a presidente lamentou a decisão do Congresso de rejeitar a antecipação das eleições gerais para outubro, uma das exigências dos manifestantes e algo que poderia arrefecer a onda de atos. Apenas 45 congressistas votaram a favor da proposta —eram necessários 87 votos favoráveis para a aprovação.
O texto recebeu críticas de parlamentares de esquerda, que buscaram incluir no projeto um referendo para a convocação de uma nova Assembleia Constituinte, e também de direita, que consideram a medida de reduzir o mandato de Dina e dos deputados inconstitucional.
Há pouco mais de mês, o Congresso aprovou em primeira votação a antecipação das eleições de 2026 para abril de 2024, mas a medida ainda não foi confirmada pelo Parlamento e tampouco se mostrou suficiente para apaziguar as manifestantes, que exigem ainda a renúncia de Dina, a libertação do ex-presidente Castillo e a dissolução do Parlamento.
Após a destituição de Castillo, Dina, que era sua vice, assumiu a Presidência —ela é chamada de traidora por apoiadores do ex-líder populista. Segundo uma pesquisa recente do Instituto de Estudos Peruanos, 71% dos peruanos reprovam o seu governo.
"Nem um morto mais, Dina assassina", "queremos dignidade, Dina renuncie já", gritaram os manifestantes na passeata deste sábado que começou com apresentação de grupos musicais e de artistas e depois avançou até os arredores do Congresso, fortemente resguardado por policiais da tropa de choque.
Na última terça (24), a presidente chamou parte dos manifestantes de radicais e violentos, com "uma agenda política bem desenhada", e afirmou, sem apresentar provas, que eles têm ligações com o narcotráfico, a mineração ilegal e o contrabando. Ela ainda citou vídeos, sem especificar quando ou onde as imagens foram captadas, que mostrariam manifestantes atirando entre si —de forma a isentar as forças de segurança de excessos na repressão aos atos, uma das principais críticas à sua gestão.
Segundo ela, os atos já custaram ao Peru mais de R$ 6,7 bilhões, sendo R$ 2,7 bilhões na forma de impactos na produção econômica —o turismo tem sido uma das atividades mais comprometidas— e R$ 4 bilhões em danos diretos à infraestrutura do país.
Acidente de ônibus deixa 24 mortos
Também neste sábado, a queda de um ônibus em um despenhadeiro deixou 24 pessoas mortas na região de Piura, ao norte de Lima.
O veículo da empresa Q'orianka Tours partiu de Lima e se dirigia a Tumbes, na fronteira com o Equador, mais saiu da pista em uma área desértica. O ônibus transportava 60 pessoas. Vários passageiros foram arremessados para fora das janelas. Outros ficaram presos dentro do veículo.
A Superintendência de Transporte Terrestre informou, em comunicado, que o veículo estava com a documentação em dia e habilitado para prestar o serviço. As causas do acidente são investigadas.
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