Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Mídia russa ataca Prigojin e diz que líder mercenário enlouqueceu após ficar rico

Principal site de notícias pró-Grupo Wagner também encerrou atividades após motim do grupo

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São Paulo

Após retirar blindados do Grupo Wagner e pedir para que os mercenários se incorporem às Forças Armadas da Rússia, o Kremlin parece apostar agora em uma guinada midiática contra Ievguêni Prigojin, o líder da empresa paramilitar.

Nos últimos dias, o rebelde viu o diretor de seu principal veículo de comunicação anunciar o fechamento de suas operações na Rússia e escutou um influente comunicador da televisão estatal dizer que ele enlouqueceu.

O chefe do Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin, deixa a sede do Distrito Militar do Sul em meio à retirada dos mercenários da cidade de Rostov-on-Don, na Rússia - Alexander Ermochenko - 24.jun.23/Reuters

"Prigojin enlouqueceu devido a grandes quantias de dinheiro. A sensação de acreditar que tudo é permitido começou há muito tempo, desde as operações [do Grupo Wagner] na Síria e na África", disse neste domingo (2) Dmitri Kisiliov, apresentador de um programa semanal da Russia 1, uma das maiores emissoras do país.

Para o apresentador pró-Vladimir Putin, essa sensação foi reafirmada após a tomada das cidades ucranianas de Soledar e Bakhmut pelos mercenários. Ainda durante a transmissão, ele acrescentou que Prigojin "acreditava que poderia se opor ao Ministério da Defesa russo, ao Estado e ao próprio presidente ao mesmo tempo" —o líder mercenário disse após a tentativa frustrada de golpe que não queria tirar o presidente russo do poder, apenas o ministro da Defesa, Serguei Choigu.

Kisiliov disse ainda, sem apresentar evidências, que o Grupo Wagner recebeu 858 bilhões de rublos (R$ 46 bilhões) do Estado. Na terça-feira (27), em conversa com autoridades de segurança, Putin disse que o grupo ganhou, para atividades de combate, US$ 1 bilhão (R$ 4,78 bilhões) de março de 2022 ao mesmo mês deste ano e que os contratos de alimentação tocados por outras empresas de Prigojin dobravam esse valor.

Ainda segundo o comunicador russo, a tentativa de golpe teria sido desencadeada pela recusa do Ministério da Defesa da Rússia em prorrogar os contratos assinados com a empresa de alimentos Concord, que pertence ao líder mercenário.

Também no domingo, Ievgeni Zubarev, diretor do portal de notícias RIA FAN, anunciou que o encerramento das atividades do Patriot Media, conglomerado de comunicação pertencente a Prigojin. O RIA era o produto mais famoso do grupo, cuja linha editorial era nacionalista e pró-Kremlin, além de, é claro, favorável ao Grupo Wagner.

"Estou anunciando nossa decisão de fechar e deixar o setor de informação do país", disse Zubarev em vídeo publicado nas redes sociais do Patriot Media. Ele elogiou o histórico do conglomerado, dizendo que o grupo defendeu tanto Prigojin quanto Putin de ataques da oposição anti-Kremlin, incluindo aqueles vindos de Alexei Navalni, principal opositor do presidente russo, na cadeia desde 2021.

Zubarev não deu motivos para o fechamento do conglomerado. Mas na sexta (30), o jornal russo Kommersant informou que o órgão de comunicações do país, Roskomnadzor, havia bloqueado veículos ligados a Prigojin, sem dar mais detalhes.

A mídia russa também informou que uma "fábrica de trolls" —como são chamados grupos de internautas que buscam interferir na opinião pública por meio de sua atuação nas redes sociais— supostamente usada pelo rebelde em países estrangeiros foi dissolvida. Em novembro do ano passado, Progojin declarou que interferiu nas eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2016 e disse que continuaria a fazer isso —ele é alvo do Departamento de Estado americano.

As táticas midiáticas do Kremlin, que controla a mídia no país, devem contribuir ainda mais para a perda de popularidade do rebelde. A primeira pesquisa de opinião independente feita após o motim na Rússia apontou que Prigojin tem o apoio de 29% da população –antes, esse número era de 58%.

O rebelde teoricamente agora vive na Belarus, sob tutela do ditador belorusso, Aleksandr Lukachenko, que mediou o fim do motim contra o Kremlin —em pronunciamento após o fim dos enfrentamentos, Putin determinou que os rebeldes podiam escolher entre submeter-se às Forças Armadas ou se mudar para o país vizinho.

A possível presença de membros do grupo na região fez com que a Polônia anunciasse o envio de 500 policiais para a sua fronteira com a ditadura neste domingo. De acordo com Mariusz Kaminski, ministro do Interior do país que é membro da Otan, a aliança militar ocidental, eles se juntarão aos 5.000 guardas de fronteira e 2.000 soldados que protegem a segurança local.

Na sexta, o jornal britânico Financial Times havia noticiado que Varsóvia teme que os mercenários usem migrantes de países onde eles atuam para desestabilizar a Europa Central e Oriental –acusação que o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, chegou a fazer contra Putin e Lukashenko em 2021, quando um grande fluxo de refugiados, a maioria de países do Oriente Médio, foram concentrados na fronteira.

O vazamento de registros de satélite que mostram a construção de uma nova base militar a sudeste da capital belarussa, Minsk —possivelmente para abrigar o Wagner—, já havia motivado a Ucrânia, que também faz fronteira com a ditadura, a reforçar suas defesas no local.

Com AFP e Reuters

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