A divulgação dos dados econômicos relativos a junho permite afirmar que ficaram para trás os efeitos diretos da greve dos caminhoneiros sobre a atividade e a inflação.
Em vários setores, como comércio, serviços e indústria, as perdas ocasionadas em maio pela paralisação foram quase inteiramente recuperadas. Do mesmo modo, as variações nos preços de alimentos voltaram à normalidade.
Com isso, as expectativas de analistas e investidores para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, segundo pesquisa do Banco Central, interromperam a trajetória de redução e se estabilizaram em torno de 1,5%.
O risco de novas quedas não está afastado, porém, dado que o ambiente financeiro permanece sob tensão desde o segundo trimestre.
A começar pelos juros, que estão em alta. Ainda que o Banco Central mantenha sua Selic em 6,5% ao ano, o aumento da incerteza, doméstica e externa, tem pressionado para cima as taxas de longo prazo —as que mais importam para consumidores e empresas.
A desvalorização do real ante o dólar, em parte ocasionada por fatores globais, como a expansão da economia americana, também tem impacto negativo a curto prazo. Como as empresas do país contam com mais dívidas do que ativos em dólares, a baixa da moeda nacional eleva os custos financeiros.
O endividamento, aliás, continua a ser um obstáculo para uma retomada mais forte. Embora menor que há dois anos, o comprometimento da renda das famílias com juros e amortizações ainda se encontra elevado, em torno de 20%.
Por fim, o desemprego caiu em relação a seu pior momento —a taxa foi de 12,4% (praticamente 13 milhões) no segundo trimestre, contra 13% um ano antes. Entretanto outros indicadores mostram um quadro mais desalentador no mercado de mão de obra.
Um deles é a subutilização da força da força de trabalho, medida pelo IBGE com a inclusão de desocupados, desalentados (que desistiram de procurar vagas) e empregados com jornada reduzida. Por essa métrica, há 27,6 milhões de pessoas em situação precária —e não se nota progresso na comparação com os anos anteriores.
A retomada após a recessão de 2014-2016 é a mais lenta de que se tem notícia, em parte por esses fatores. A eles se soma a incerteza eleitoral, e não só devido a seus efeitos sobre a cotação do dólar.
A disputa importa, em especial, porque não haverá confiança nem investimento enquanto não estiverem claros os rumos da política econômica para os próximos anos.
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