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Democracia na África

Nigéria escolhe seu presidente em meio a divisões, corrupção sistêmica e conflitos étnico-religiosos

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Moradores de Lagos chegam para comício do PDP, partido de oposição ao do atual presidente nigeriano
Moradores de Lagos chegam para comício do PDP, partido de oposição ao do atual presidente nigeriano - Luis Tato - 12.fev.19/AFP
 

País mais populoso da África e o sétimo do mundo, com 203 milhões de habitantes, a Nigéria realiza sua sexta eleição após o fim do regime militar, em 1999. O presidente Muhammadu Buhari busca um novo mandato de quatro anos contra seu maior desafiante, Atiku Abubakar.

O marco de 20 anos de ciclo democrático, por si só, merece ser louvado, pois se trata do período mais longo com mandatários escolhidos de forma livre desde a independência dessa antiga colônia britânica, em 1960. De lá para cá, houve quase uma dezena de golpes bem-sucedidos ou tentativas de chegar ao poder à força.

Ditaduras ou governos autoritários, aliás, continuam a prevalecer entre os africanos. De acordo com um ranking anual da revista The Economist, em 2018 apenas 9 das 54 nações daquele continente foram consideradas democracias, e a maioria destas “com falhas”.

A despeito dos avanços nas duas últimas décadas, a Nigéria ainda não figura nessa diminuta lista. Pelo levantamento, é um “regime híbrido”, em que as instituições não funcionam de modo ideal e há restrições às liberdades individuais.

Afora a corrupção sistêmica, o Estado nigeriano se vê desafiado por conflitos étnico-religiosos.

O país é dividido entre cristãos, ao centro e ao sul, e muçulmanos, ao norte —estes, ligeira maioria. Acentua a cisão o fato de a exploração do petróleo, cuja indústria responde por cerca de metade da receita pública, se concentrar no sul.

A histórica disputa de poder entre esses segmentos majoritários se agravou com o surgimento de grupos radicais. O mais ameaçador deles é o Boko Haram, milícia islâmica disposta a estabelecer um califado nas empobrecidas províncias do nordeste, nos moldes do agora minguante Estado Islâmico

O presidente Buhari chegou a dizer, em 2015, que derrotara a organização, mas seus militantes continuam a realizar atentados contra bases militares e a perseguir cidadãos cristãos nas regiões que dominam, privando-os de direitos básicos, como o de votar.

Em que pesem tais obstáculos, os dois principais candidatos, ambos muçulmanos, se comprometeram a não incentivar atos de violência e a respeitar o resultado das urnas.

O quadro demanda mesmo firmeza das autoridades. Nesta sexta (15), a polícia encontrou ao menos 66 corpos em uma cidade no norte, prováveis vítimas de um ataque cuja motivação ainda era incerta. 

Depois, por motivos ainda mal esclarecidos, decidiu-se pelo adiamento da votação marcada para este sábado (16).

Espera-se que o pleito venha a contribuir para a maturação democrática da Nigéria e servir de exemplo para o restante do continente.

editoriais@grupofolha.com.br

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