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Arthur Lira

O centrão é uma força moderadora

Somos, em certo sentido, a governabilidade, a previsibilidade institucional

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Somos e seremos sempre realistas. No governo Fernando Henrique Cardoso, a reforma da Previdência era crucial para o país, mas absolutamente impopular. Mesmo assim, votamos pela sua aprovação. No governo Lula, a reforma continuava impopular, mas também votamos “sim”. E a situação se repetiu nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer. Até que, no governo Bolsonaro, reformar a Previdência se tornou algo popular. Apoiamos, como sempre. E o projeto vingou. Nós mudamos de lado? Não! O país é que amadureceu.

E quem somos “nós”? Nós somos a quilha da nau da democracia, que é o Parlamento, a Casa do Povo. Nós somos uma grande maioria de parlamentares, de diversos partidos, que convergem em ideias centrais. Nós somos, em certo sentido, a governabilidade, a previsibilidade institucional. Nós somos o espaço majoritário que dá suporte aos consensos no território dos dissensos. Nós somos o tecido democrático mais espesso, que quando rasgado provoca rupturas. Nós somos um grande centro agregador de convergências políticas.

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O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão na Câmara - Kleyton Amorim - 4.dez.19 - UOL/Folhapress

Nas crises ou nos momentos de ódio e de bílis, alguns chamam esse grupamento de “centrão”, normalmente com desdouro e para estigmatizar. Não importa, contudo, o nome que se dê a essa maioria suprapartidária: o fato objetivo é que é preciso haver uma análise com menos estômago e mais razão sobre a importância real desse vetor político que, na verdade, tem sido o grande estabilizador da democracia brasileira.

Na última semana, os que marcharam pela democracia marcharam também pelo “centrão”, por mais que esteja na moda abominá-lo. Afinal, eles marcharam pela democracia e pelo Congresso —o coração do nosso sistema de liberdades. Esse grande grupo disperso de parlamentares de centro, unidos pela singularidade de conviverem bem com todos os opostos, são uma força moderadora. Por mais tentador (e fútil) que seja vilipendiar esse inimigo sem rosto, é importante entender que o grupo tem e teve, como na Constituinte, um papel histórico relevante.

Quando os partidos passam a compor e a influenciar políticas públicas do Executivo, estamos diante de um avanço, e não de um retrocesso democrático. Não são os partidos que estão sendo cooptados. É o presidente Jair Bolsonaro que faz um movimento institucional de ampla envergadura na direção da democracia e do resgate da mecânica e da legitimidade da prática política.

Com a terra arrasada da Lava Jato, com razão em muitos casos e criminalizações absurdas e gritantes de abuso do poder em tantos e tantos outros, a sociedade passou a confundir política com criminalidade. Acontece que o problema não é fazer ou não fazer política. A Lava Jato já deixou o seu legado. Além da fiscalização, mudou para melhor a configuração dos partidos e das lideranças. A corrupção sistêmica do passado está morta e enterrada. E a participação dos partidos em governos envolve interesses legítimos.

Fernando Henrique não foi eleito por ser o “pai do Real”, uma política pública? E Dilma por tocar o PAC? Então, criminalizar a participação em governos —sobretudo no pós-Lava Jato— é apequenar o debate e esquecer a história. Bolsonaro foi filiado por muitos anos ao Progressistas e, no primeiro ano do governo, contou com nosso apoio em mais de 90% das votações. Ou seja, a pauta do governo é a mesma do partido.

No fundamental, temos de unir forças e reforçar a nossa democracia com harmonia entre os Poderes. Temos pela frente o desafio de superar a pandemia e recuperar uma economia atingida em cheio pela maior crise em décadas. Precisamos do apoio das principais forças do país, dos empresários, dos trabalhadores. De nossa parte, trabalharemos pela aprovação de todas as reformas e a modernização do Estado.

As nossas tarefas prioritárias são claras: estabilizar as finanças, socorrer os mais necessitados, fazer crescer a economia e o emprego. Não podemos aspirar a menos do que isso. O Brasil não merece menos do que isso. As infâmias passam. A história é que ficará.

Arthur Lira

Presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL)

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