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Marcelo Silva

A privatização dos Correios é benéfica para o país? SIM

Estatal se mostra incapaz de incorporar tecnologias vitais ao setor de logística

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Marcelo Silva

Presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo)

Os Correios sempre foram um ponto de atenção para os varejistas. Por diversas vezes, nos últimos anos, recebemos presidentes da empresa nas reuniões plenárias do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) para entender e reivindicar melhorias nos serviços e atualizações dos sistemas operacionais e tecnológicos. Alertamos, também, para a necessidade de investimentos para comportar a agilidade e a capilaridade crescente do ecommerce, repassando dados e necessidades dos 76 maiores varejistas do Brasil, que, cada vez mais, gostariam de ampliar seus trabalhos com os Correios.

Mas o que aconteceu, na prática, sempre foi o contrário. Houve poucos investimentos, muitas vezes barrados pela burocracia pública imposta à estatal, que impede a agilidade de decisões e a incorporação de tecnologias mais avançadas ao setor de logística.

Com a pandemia, o quadro piorou ainda mais, pois a migração de um grande número de novos consumidores para as vendas virtuais obrigou os grandes varejistas a realizar investimentos próprios maiores e a buscar novos fornecedores logísticos.

Em resumo, o que vemos hoje é uma empresa emperrada pela burocracia estatal e mais desconectada do mercado. Isso nos leva a crer que os Correios estão fadados à perda cada vez maior de atuação e do restante de seu diferencial competitivo —especialmente sua capilaridade, que será continuamente trocada por serviços logísticos mais baratos e eficientes, oferecidos por empresas do setor que estão investindo fortemente em tecnologia, novos serviços e inteligência. Nessas áreas, os Correios pararam no tempo, e o atraso pode ser medido em todos os seus serviços.

Por outro lado, para um Estado inchado, com poucos recursos financeiros e inúmeras prioridades voltadas para a população, a desestatização se faz necessária em áreas de negócios nas quais o setor privado tem muito mais capacidade de atuar com investimentos em melhoria e ampliação dos serviços, inovação e tecnologia. A demanda para esse crescimento existe, e o Estado não tem como aportar os investimentos necessários para tirar os Correios da situação de quase sucateamento em que se encontra —vide o baixo valor investido nos últimos anos pela empresa, que, em curto espaço de tempo, caso nada seja feito, poderá deixar de ser superavitária para se tornar mais uma dependente dos cofres do governo. Ou seja, os Correios passarão a ser mais um grande problema financeiro para o Estado.

A logística move o Brasil, que precisa de um setor logístico forte e não apenas de uma empresa estatal forte porque é protegida. Os Correios precisam de investimento, e os recursos necessários para fazer girar a chave da empresa e colocá-la em condições de enfrentar os desafios do século 21 devem vir da iniciativa privada.

Assim, cabe ao governo adotar as medidas de correção de rumo que o caso exige: além da desestatização, criar uma agência regulatória independente que elabore normas, fiscalize e regulamente os produtos e serviços postais no Brasil para o mercado como um todo e não apenas para os Correios —da mesma forma que ocorreu no setor das telecomunicações—, incentivando a concorrência e garantindo o acesso aos serviços postais a todos os brasileiros.

Sem os investimentos necessários pelos Correios, o prazo de entrega de mercadorias tende a piorar: em alguns locais, o tempo médio de entrega já é de 14 dias. Além disso, a modernização tende a gerar empregos, permitindo maior integração de pequenos e médios negócios ao ecommerce. Os investimentos privados vão garantir serviços mais modernos, rápidos e acessíveis para todos os brasileiros.

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