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Maria Carolina Loss Leite

Dia de uma voluntária da pátria

Nascida em 8 de março, Jovita se travestiu de homem para lutar na guerra

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Maria Carolina Loss Leite

Mestre e doutoranda em sociologia pelo Iesp-Uerj e bacharela em segurança pública pela UFF

Sempre que falamos no Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta terça-feira (8), a maioria das pessoas costuma parabenizá-las pela data. Flores, bombons, presentinhos e cartões fazem parte das vendas. Mas o que muitos não sabem é que a efeméride marca o nascimento de uma de heroína brasileira.

Cearense de Tauá e nascida em 8 de março de 1848, Antonia Alves Feitosa, mais conhecida como Jovita Feitosa ou "Joana d’Arc brasileira", é considerada a primeira mulher a tentar se alistar em nossas Forças Armadas. Sua pretensão: lutar na Guerra do Paraguai (1864-1870) após saber das atrocidades que lá aconteciam, em especial às mulheres brasileiras. Mas, em uma época em que mulheres nem sequer votavam (1865), não havia espaço para Jovita (ou qualquer outra mulher) nos campos de batalhas. O que fazer, então, após ser ridicularizada pela ideia de que gostaria de se alistar? Decidiu vestir-se de homem para tal façanha, haja vista que mulheres não poderiam participar de tais atividades. Simples, assim!

A voluntária Jovita Alves Feitosa, que tentou lutar na Guerra do Paraguai - Reprodução

Sem pestanejar, cortou sozinha suas madeixas e escondeu seus seios. O disfarce funcionou, e Jovita foi aceita, sendo incorporada na "Voluntários da Pátria", uma seção do Exército brasileiro que recebia homens dispostos a lutar na Guerra do Paraguai. Como sabia atirar, sentiu-se à vontade na missão. Uma mulher, porém, desconfiou daquele "soldado", haja vista que percebera as orelhas furadas: resolveu então "apalpar o moço" e descobriu os seios escondidos. Jovita foi encaminhada para uma delegacia, lamentando o fim de sua empreitada, na qual estava disposta a lutar pela nação.

Por conta disso, recebeu a patente de sargenta, que mais tarde lhe foi tirada através de uma carta enviada pelo Ministério da Guerra, já que mulheres não poderiam participar de conflitos. Foi então convidada a trabalhar como enfermeira, mas negou tal posição e decidiu voltar para casa.

Por ter forjado ser um soldado, seu pai não aceitou tal "desonra" e negou o seu retorno. A única opção foi viajar até o Rio de Janeiro para tentar nova vida, já que estava frustrada por não ter conseguido integrar o Exército. Sem dinheiro e morando em uma cidade estranha, acabou se prostituindo para sobreviver. Lá, Jovita conheceu um engenheiro do País de Gales, William Noot, que estava a trabalho na cidade. Romantizou construírem uma família juntos.

Infelizmente, em 9 de outubro de 1967, após receber uma carta do amado informando que voltaria à sua terra natal, a jovem, desiludida, acabou cravando um punhal no peito dentro do escritório de William. Ao lado do corpo, deixou uma carta: "Não culpem a minha morte a pessoa alguma. Fui eu quem me matei. A causa só Deus sabe".

Jovita Alves é uma das homenageadas no "Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria", o qual existe desde 7 de setembro de 1989 e está localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves (criado por Oscar Niemeyer), na Praça do Três Poderes, em Brasília.

Em 2019, o historiador José Murilo de Carvalho escreveu "Jovita Alves Feitosa: Voluntária da Pátria, Voluntária da Morte", trazendo fatos e um pouco mais sobre esta heroína brasileira. Por isso, celebrar o 8 de março, para nós, é motivo de orgulho. É, também, o dia de uma de nossas guerreiras. Parabéns, Jovita!

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