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Viviane Senna

Corações, mentes e a educação

Competências socioemocionais aceleram aprendizado na escola e na vida

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Viviane Senna

Presidente do Instituto Ayrton Senna

Abrir corações e mentes é termo de guerra, usado para resolver conflitos não pela força, mas por apelos emocionais ou intelectuais que motivam as pessoas. Andreas Schleicher, diretor da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), resgata a ideia para apresentar os primeiros resultados do estudo "Beyond Academic Learning", o maior esforço internacional de monitoramento sobre competências socioemocionais já feito com estudantes —e que acaba de ser traduzido e lançado no Brasil pelo Instituto Ayrton Senna.

Ao explicar o momento atual da educação no mundo e a urgência por soluções, Schleicher afirma que curiosidade (abrir mentes), compaixão (abrir corações) e coragem (mobilizar recursos para agir) são armas contra as maiores ameaças do nosso tempo: ignorância, ódio e medo.

A empresária Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna - Mathilde Missioneiro - 17.dez.19/Folhapress

O estudo da OCDE constata que é fundamental estimular o desenvolvimento socioemocional, tal qual fazemos com as ciências ou com a matemática, diante do impacto positivo na aprendizagem e no bem-estar social. Alguns achados chamam a atenção: curiosidade e persistência são competências socioemocionais fortemente relacionadas ao bom desempenho acadêmico; a relação afetiva aluno-professor e a sensação de pertencimento escolar estão relacionadas à maior colaboração, empatia, confiança e motivação para se sair bem na escola.

O Brasil não participou dessa primeira fase da pesquisa, realizada em 2019 com dez países-membros da OCDE, mas há previsão de inclusão do país já na próxima rodada, ainda neste ano, por meio da rede estadual de São Paulo. Embora ainda não tenha incluído a realidade brasileira, o cenário é bastante semelhante às análises feitas pelo Instituto Ayrton Senna. Em 2013, um mapeamento feito com estudantes no Rio de Janeiro evidenciou que autogestão se relacionava a melhores desempenhos em matemática e abertura ao novo em língua portuguesa.

Já um mapeamento mais recente, realizado em 2019 com estudantes paulistas, estimou que, se elevarmos a abertura ao novo de um estudante que hoje se considera pouco desenvolvido até um nível de maior desenvolvimento, teríamos um ganho equivalente a 5,5 meses de aprendizado em língua portuguesa. Ganhos semelhantes ocorreriam na relação entre autogestão e matemática: desta vez, equivalente a 3,5 meses de aprendizado.

Em uma perspectiva de educação que leva em consideração o ser humano na sua plenitude, e diante do comprovado impacto que as competências socioemocionais exercem sobre o sucesso escolar e outros resultados de vida, o relatório da OCDE é um GPS que nos ajuda a encontrar caminhos para enfrentar os declínios recentes e catastróficos de nossos resultados educacionais. Afinal, o desenvolvimento integral está entre as mais poderosas alavancas para reverter de forma mais ágil esse quadro desalentador em que 66% de nossas crianças de 6 e 7 anos são consideradas analfabetas (segundo estudo do Todos pela Educação) e 43% dos nossos jovens estão prestes a desistir da escola (dados do Conselho Nacional da Juventude).

Alunos durante aula do curso de design de mídias digitais da turma do 3º semestre no Senai (unidade de Campos Elísios, em São Paulo) - Eduardo Knapp - 10.jun.21/Folhapress

Já temos, portanto, estratégia e ferramentas. Agora precisamos, mais do que nunca, abrir nossos corações e mentes e ter coragem para não deixar essa luta virar a Guerra dos Cem Anos.

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