A posse de um novo ministro da Economia na Argentina, o terceiro a exercer a função em um mês, dá uma ideia da gravidade da crise que se instalou na nação vizinha.
No início de julho, a súbita renúncia de Martín Guzmán ao cargo, após ataques da vice-presidente Cristina Kirchner, precipitou uma rápida e acentuada desvalorização do peso em relação ao dólar.
Sua substituta, Silvina Batakis, uma técnica respeitada mas com pouco expressão política, não teve tempo de apresentar um plano para tentar colocar a economia do país em ordem. Caiu após 24 dias no cargo, em meio à crescente insatisfação popular com a inflação, que acumulou variação de espantosos 64% nos últimos 12 meses.
Premidos pela crise, o presidente Alberto Fernández e sua vice promoveram nova mudança de rota, com a criação de um superministério, resultado da fusão das pastas da Economia, do Desenvolvimento Produtivo e da Agricultura e Pesca. Sergio Massa foi escolhido para dirigi-lo.
Presidente da Câmara dos Deputados e com experiência de governo, Massa é figura conhecida da política argentina. Foi chefe de gabinete no governo de Cristina, mas rompeu com ela e, em 2015, concorreu à Presidência prometendo prendê-la por corrupção se fosse eleito. Quatro anos depois, desistiu de uma segunda candidatura presidencial para apoiar Fernández, voltando a se aliar ao kirchnerismo.
Ao tomar posse na quarta-feira (3), Massa apresentou um plano de recuperação econômica com medidas para estabilizar os mercados de câmbio, recompor as reservas do Banco Central, incentivar exportações, compensar perdas salariais e rever gastos sociais.
O pacote coloca o ajuste fiscal no centro da política econômica, num claro aceno aos investidores, mas foi recebido com ceticismo por analistas e bancos internacionais, que duvidam da capacidade que o governo terá de conter a expansão do déficit público.
Politicamente, a ascensão de Massa expõe a fragilidade do presidente, que vive luta fratricida com sua vice. O novo ministro deve atuar como uma espécie de premiê, esvaziando ainda mais o poder e a credibilidade de Fernández.
Já Cristina, além de precisar recorrer ao ex-desafeto, vê-se agora obrigada a apoiar políticas econômicas que sempre criticou, num reconhecimento do fracasso das medidas adotadas até aqui para salvar o governo kirchnerista.
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