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Flávia Biroli

Voto útil e bolsonarismo em São Paulo

Eleitorado paulista deixou clara a sua disposição de se mover à direita

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Flávia Biroli

Professora do Instituto de Ciência Política (UnB) e ex-presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (2018-20); é autora, entre outros, de “Gênero e Desigualdades: Limites da Democracia no Brasil” (ed. Boitempo)

O estado de São Paulo segue para o segundo turno da disputa pelo governo com os candidatos previstos pelas últimas pesquisas de intenção de voto, mas em posição distinta da esperada. Com 100% dos votos apurados, Tarcísio de Freitas (Republicanos) terminou em primeiro lugar, com 42,32%, seguido de Fernando Haddad (PT), com 35,70%. Rodrigo Garcia (PSDB) teve votação bem abaixo da esperada: 18,40%.

O resultado indica que pode ter ocorrido um movimento de votos "úteis" para Tarcísio. Sua vantagem corresponde à de Jair Bolsonaro (PL) no estado, que foi de cerca de sete pontos percentuais em relação a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A vitória de Marcos Pontes (PL) para o Senado também é indicativo claro da força do bolsonarismo em São Paulo.

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Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputarão o segundo turno para governador de São Paulo

O eleitor paulista se mostrou disposto a se deslocar à direita. A extrema direita sai mais "normalizada" dessas eleições, apesar da violência e do despreparo na gestão que marcaram os quase quatro anos de governo de Jair Bolsonaro.

O resultado do primeiro turno confirma também a perda de relevância do PSDB em seu principal reduto eleitoral, após uma sequência de erros e divisões internas que se iniciaram ainda em 2014. O partido pode ter papel importante nas próximas semanas, já que os votos recebidos por Garcia serão definidores do resultado do segundo turno.

Cerca de metade dos municípios do estado é governada por políticos do PSDB, do MDB e do União Brasil, aliados em torno da candidatura do tucano, que teve apoio da larga maioria dos prefeitos paulistas.

Para Haddad, o papel de Geraldo Alckmin (PSB) pode ser fundamental para articulações, junto aos prefeitos, em torno de sua candidatura. O desafio é também reduzir sua rejeição no eleitorado paulista. Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada antes do primeiro turno, ela seria de 40%, patamar próximo ao da rejeição a Lula nacionalmente.

Por outro lado, Tarcísio está diante de um paradoxo. Sua rejeição, de 33% segundo a mesma pesquisa, é mais baixa do que a de Haddad. Tarcísio nunca viveu em São Paulo e esta é a primeira vez que concorre a um cargo eletivo, o que pode contribuir para a menor rejeição. Ministro do governo Bolsonaro, beneficia-se do bolsonarismo, que se mostra forte no estado. Mas essa identificação também pode ampliar sua rejeição, aproximando-a daquela do atual presidente, que tem sido apontada na casa dos 50%.

Podemos prever que São Paulo será central à disputa acirrada nas próximas semanas. É o maior colégio eleitoral do país, com votos preciosos para os candidatos à Presidência. Para o PT, que venceu no Rio Grande do Norte, no Ceará e no Piauí e compete no segundo turno na Bahia, em Sergipe e em Santa Catarina, vencer São Paulo teria grande significado.

Para o bolsonarismo, sobretudo na hipótese de perda da corrida presidencial, São Paulo seria precioso pela visibilidade e pelos recursos. Nesse caso, poderiam migrar para o estado personagens e agendas que marcaram o governo de Bolsonaro, sobretudo considerando que Tarcísio não tem trajetória na política local.

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