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José Luiz Portella

Bons economistas e economistas bons

Lula precisará se definir entre o ajuste social e o ajuste fiscal

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José Luiz Portella

Engenheiro civil, é doutor em história econômica (USP) e pesquisador do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo)

Não existe o economista campeão do mundo individual, que sabe tudo e acerta sempre. Lidar com o ser humano requer muito mais do que matemática, cálculo e estatística. As vicissitudes são vastas.

Existem economistas bons e bons economistas.

Os bons economistas são aqueles que privilegiam conceitos, matemática, cálculo, probabilidades, estatística. Não são ruins, mas a maioria tende a acreditar na estocástica e crer que o mundo se resolve com o "homo economicus", a meritocracia (com oportunidades diferentes); e, alguns, com a Teoria do Equilíbrio Geral. Tudo se resume a um conjunto de fórmulas e à aceitação, por parte da sociedade, de que pós-graduados no exterior podem salvar o mundo e o país se houver ajuste fiscal.

Os economistas bons não acertam tudo, cometem demasias, por vezes; contudo, utilizam os conhecimentos matemáticos e econômicos para tentar melhorar o mundo, haver menos desigualdade. Nem sempre conseguem tudo, mas transformam a vida das pessoas carentes para melhor.

Assistiremos agora, na formação da equipe econômica do PT, à batalha entre dois grupos. Não será: "bons versus maus". Todavia teremos um confronto entre quem pensa em melhorar a vida dos brasileiros, com ajuste social, e os que vão pugnar pelo ajuste fiscal disfarçado, de modo a agradar mais o mercado.

Luiz Inácio Lula da Silva continuará esfíngico até quando puder —natural para quem saiu da azáfama eleitoral.

Quem é candidato a ministro da Fazenda?

Alexandre Padilha aproximou-se do mercado, tem sensibilidade social. É um candidato que o mercado aprova, não com louvor como Henrique Meirelles, que atua no campo de guardião do setor e tem disseminado notícias de que "é o escolhido", supostamente para criar a catalisação do processo de nomeação. Persio Arida parece querer, atua com discrição, mesmo após haver sofrido como gestor nos tempos de FHC. Fernando Haddad pode ser, e não recusaria, mesmo com a desaprovação do mercado Tem como um dos objetivos a moeda para o Mercosul, que não é um euro, mas sim um Bancor de Keynes. Quem não conhece deveria se informar.

Gabriel Galípolo não será ministro, é novo de idade e na turma —mas terá um cargo importante, é considerado por Lula. Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante não serão; a primeira por não ser do ramo, e o segundo pela atuação anterior. Ambos querem indicar o ministro para ter poder. Estão juntos, no jogo.

Arminio Fraga corre por fora, com pouca chance. Pode ser da equipe, não o capitão.

Wellington Dias, provável ministro do Planejamento, é um candidato do partido, com apoio da direção para ser ministro da Fazenda. Na linha da baixa rejeição.

O PT vai realizar acordos, isso é natural, sobretudo porque Lula visa a maioria no Congresso. Mas precisará descer do muro eleitoral e se definir entre o ajuste social e o ajuste fiscal. Quem prevalece?

Lula tem estilo negociador: se indicar alguém mais pró-mercado, significa que será menos ajuste fiscal. E vice-versa.

Não será possível ir a nenhum extremo, mas não existe meio-termo.

Prepondera um ou outro. Não haverá nunca, sob o PT, partido social-democrata na realidade, qualquer extremo. Lula é contra e sabe que, para governar, precisa se equilibrar.

Porém, terá que optar. Não logrará mais encantar serpentes.

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