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James Ackel

Rei morto, rei posto

Tarcísio de Freitas poderá herdar simpatia e votos de bolsonaristas

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James Ackel

Jornalista, consultor de marketing e ex-conselheiro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)

Os mais de 58 milhões de brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro (PL) no domingo (30) não devem ficar na mão com a derrota dele para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em política, não existe vácuo de poder.

Vale lembrar que, em abril de 2020, Bolsonaro nomeou o amigo da família Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Logo a seguir, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mandou suspender a posse por ver "indícios de desvio de finalidade". O presidente acatou a ordem, mesmo sendo direito privativo dos presidentes da República, a todo tempo, nomear o diretor da PF.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) - Zanone Fraissat - 20.out.22/Folhapress

Estou mostrando fatos, não fazendo juízo de valor do ministro Moraes.

Naquele momento, Bolsonaro abriu a brecha e criou um vácuo de poder —de imediato descoberto pelo STF, que a partir de então passou a ditar regras e interpretar leis.

O presidente logo demonstrou que não estava preparado para chefiar a nação. Jair não entendia de liturgia do cargo e menos ainda tinha postura de líder. Passou até a se lamentar publicamente contra o Supremo, mesmo tendo sido ele o causador do vácuo de poder que a corte ocupou.

Em todas as aparições, quer em locais públicos na frente de multidões, quer na frente do Palácio, ele se portava como um ator de cinema, não como presidente da República. É o que os psicólogos chamam de síndrome de impostor: quando alguém representa um personagem que ele não vive realmente.

Então presenciamos, ao longo do tempo, palavras e reflexões equivocadas, agressivas e rudes serem proclamadas inúmeras vezes, contra adversários e contra a mídia. O fato é que ele fazia, e o que fazia chocava, criando névoa na figura presidencial.

E aí chegamos às eleições de 2022. Bolsonaro continuou tendo mais postura de ator de cinema do que de presidente e demonstrava desconhecer a liturgia do cargo. Mesmo derrotado por Lula, o fato é que ele teve uma brutalidade de votos.

Jair perdeu e não sabe bem ainda o que fazer da vida —mas seus eleitores não podem ficar ao léu. Repito: não existe vácuo de poder.

Seu ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), que teve uma boa vitória para governador de São Paulo, demonstrou em toda a campanha eleitoral ter postura de líder e entender a liturgia do cargo.

Tarcísio jamais levantou a voz para repórteres, mesmo quando foi inúmeras vezes provocado. Sempre tinha uma resposta educada e gentil, tanto para jornalistas como para seu opositor, Fernando Haddad (PT). Tanto que o próprio ex-prefeito rapidamente o cumprimentou afetuosamente pela vitória e se ofereceu para ajudá-lo no que precisar.

Mas para onde os mais de 58 milhões de eleitores de Jair Bolsonaro vão caminhar? Lógico que caminharão para os braços de Tarcísio de Freitas, pessoa que tem humildade explícita no trato tanto com jornalistas quanto com adversários —e que não os considera inimigos nem destila ódio contra eles.

Tarcísio pode até ser o grande adversário de Lula em 2026 —vai depender, decerto, do desenvolvimento de seu governo em São Paulo e do seu carisma frente à mídia.

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