Evita-se o pior, ao menos por ora, com o arrefecimento relativo dos ataques do governo à autonomia do Banco Central e às metas de inflação. É evidente, porém, que a situação não está pacificada —e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua equipe ainda não indicaram como resolver os problemas que criaram.
Segundo o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, a discussão sobre elevar as metas para o IPCA não está na pauta da reunião desta quinta-feira (16) do Conselho Monetário Nacional, formado por ele próprio, pela ministra do Planejamento e pelo presidente do BC. Se confirmada, a decisão é sensata.
A isso se somam as declarações conciliatórias do chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura. Ali o dirigente, mesmo rejeitando mudanças nos parâmetros da política de juros, manteve-se distante do tom de confronto e mostrou boa vontade com a nova gestão econômica.
Mexer nos objetivos inflacionários debaixo de pressão seria manobra temerária, e inexiste urgência em fazê-lo. Todos sabem que o BC não elevará os juros nem jogará o país numa recessão para obter a ferro e fogo a taxa de 3,25% neste 2023. O órgão já usou de realismo e flexibilidade para descumprir as metas nos últimos dois anos, aliás.
Importa, no entanto, que sua atuação mire, em um horizonte visível, um IPCA em torno de 3%, compatível com o observado em países emergentes de moeda mais estável.
A ideia de fixar o percentual em 4,5%, aventada por Lula como caminho para permitir menos juros e mais emprego, pode piorar as expectativas gerais sem propiciar as vantagens imaginadas.
Parte desse dano já aconteceu, com aumento das projeções para a inflação e alta dos juros de mercado —enquanto, atiçados pelo líder, políticos aliados, sindicalistas, economistas heterodoxos e influenciadores da internet vociferam contra o BC, o sistema financeiro e a teoria monetária.
O alarido estéril consumiu um mês e meio de mandato sem que o governo tenha formulado um plano para a economia ou encaminhado sua agenda legislativa. O comando do Congresso já indicou que não embarcaria numa eventual revisão da autonomia do BC.
A maneira mais eficaz de melhorar o ambiente e as perspectivas de crescimento do PIB é apresentar uma norma para conter a escalada da dívida pública —o que Haddad agora promete para março.
É bom que o ministro se apresse, porque colegas de Esplanada anunciam mais gastos a cada dia. Com maior previsibilidade orçamentária, o próprio debate sobre a inflação deve se tornar mais racional.
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