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Ciência de impacto

Reajuste em bolsas de pós-graduação é correto, mas gestão deve ser eficiente

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Pesquisadora trabalha no laboratório do Instituto de Física da USP, em São Carlos (SP) - Juca Varella/Folhapress

Cursar uma pós-graduação no Brasil é decerto tarefa árdua. Bolsistas só podem ter vínculo empregatício se a contratação ocorrer após a concessão da bolsa, se o trabalho estiver relacionado com a pesquisa, se o orientador autorizar e se a remuneração não for superior ao valor pago pelo governo.

A bolsa, assim, acaba funcionando como salário para uma atividade de dedicação exclusiva. Nesse sentido, o reajuste de 40% para mestrado e doutorado e de 27% para pós-doutorado, anunciado pelo governo federal na quinta (16), é bem-vindo. Os valores não eram reajustados desde 2013.

O IPCA, índice utilizado como referência para as metas de inflação do Banco Central, mostrou variação de quase 70% de 2014 a 2022.

No mestrado, o pagamento passará de R$ 1.500 para R$ 2.100 mensais, e no doutorado, de R$ 2.200 para R$ 3.100. Já pesquisadores no pós-doutorado receberão R$ 5.200 — antes eram R$ 4.100.

A perda de valor real da remuneração foi acompanhada de aumento no número de bolsas: em 2010, eram cerca de 55 mil; atualmente, são 99 mil. Ademais, a pós-graduação brasileira cresceu 48,6% na última década, de 3.128 programas em 2011 para 4.650, em 2020.

A quantidade de artigos publicados acompanhou esse investimento. Em 1998, foram 11.839 textos, o que colocava o país em 20º lugar no ranking global dos que mais publicam. Vinte anos depois, com a produção crescendo sete vezes, o Brasil saltou para 13º.

O problema é que não basta formar mestres e doutores e publicar. As pesquisas realizadas devem fornecer contribuições sólidas para o campo científico, e o melhor modo de aferir tal contribuição é a partir da análise do impacto da produção —o número de vezes em que cada artigo foi citado por outros cientistas ou estudiosos.

Nesse ponto, nossos resultados não chegam a ser animadores. A base de dados Scimago mede esse efeito aferindo o número 1 à média mundial. Entre 2016 e 2020, o Brasil obteve 0,87, enquanto os EUA tiveram 1,58. Ficamos atrás até mesmo de vizinhos como Chile (1,18), Argentina (1) e Peru (0,96).

A importância do investimento em educação e ciência é inegável para o desenvolvimento de qualquer país. Mas o Brasil ainda precisa alocar recursos escassos de forma mais racional e eficiente. O aumento do gasto no setor deve ser visto como um meio, não como um fim em si mesmo.

editoriais@grupofolha.com

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