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Zeca Dirceu

Venezuela, desafios e oportunidades

Ajustes econômicos já atraem o interesse de grandes empresas brasileiras

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Zeca Dirceu

Deputado federal (PT-PR), é líder da bancada do partido na Câmara

É elogiável a decisão do governo Lula de normalizar as relações diplomáticas com a Venezuela. São otimistas as expectativas de ativação do intercâmbio comercial e da cooperação bilateral. A economia da Venezuela foi ajustada e começa a atrair interesses de investidores estrangeiros. Cresceu 7% em 2022 e projeta-se 11% em 2023. Empresas brasileiras de grande porte estão de olho nas possibilidades comerciais.

Por razões exclusivamente políticas e ideológicas, a ruptura das relações com o governo Maduro, decidida por Jair Bolsonaro, provocou danos colossais ao comércio bilateral e ao relacionamento histórico. O comércio bilateral, que já foi superior a US$ 6 bilhões anuais, caiu para menos de US$ 1 bilhão nos últimos quatro anos —redução de mais de 80%.

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro - Getty Images

Ainda que boa parte dessa desaceleração seja consequência da crise venezuelana política e econômica, é inegável que o distanciamento entre os dois países provocou vultosos prejuízos a ambos.

Em 2012, a Venezuela chegou a ser o oitavo maior destino de exportações brasileiras, com pauta ampla de bens manufaturados de médio e alto valor agregado, que impulsionam a geração de emprego e renda.

A reabertura da embaixada do Brasil em Caracas é, portanto, o ponto de partida de um processo de reaproximação bilateral que terá como meta, no plano econômico, a recomposição do importante fluxo de comércio que já existiu entre os dois países.

O diplomata venezuelano Manuel Vicente Vadell, indicado para a embaixada no Brasil, ao lado do ditador Nicolás Maduro. Foto: Nicolás Maduro no Twitter
O diplomata venezuelano Manuel Vicente Vadell, indicado para a embaixada no Brasil, ao lado do ditador Nicolás Maduro - Nicolás Maduro no Twitter

Do lado venezuelano, há otimismo com a retomada do comércio com o Brasil, cujas vendas poderão resultar em queda de preços ao consumo no país vizinho, contribuindo para controlar a inflação.

Exportadores brasileiros já cogitam enviar missão empresarial àquele país para a retomada dos negócios.

No nível político, prevê-se, para os próximos meses, reunião entre os presidentes Lula e Maduro, durante a qual poderá ser assinado acordo sobre investimentos para garantir segurança jurídica a investidores.

Costumeiramente, há informações distorcidas sobre a dívida da Venezuela com o Brasil. Ela é real, porém nada tem de "impagável" ou desmesurada: até dezembro de 2022, o total era de US$ 658 milhões. Os dois países sinalizam disposição de efetuar o saneamento das bases financeiras do relacionamento bilateral, necessário para sua reativação.

A propósito, nos últimos 20 anos, a balança comercial com a Venezuela manteve-se sempre extremamente favorável ao Brasil: o país acumulou superávit de US$ 41,4 bilhões, cerca de 60 vezes maior do que o total da dívida venezuelana.

O país vizinho sai de uma das piores crises econômicas de sua história e negocia para resgatar recursos congelados por EUA e União Europeia, via sanções e bloqueio financeiro. O momento é promissor para qualquer país que "saia na frente" como provedor do mercado venezuelano em reativação.

A Venezuela é um país amazônico de quase 30 milhões de habitantes, abriga 25 mil brasileiros, tem fronteira com o Brasil de 2.200 quilômetros e dispõe das maiores reservas de petróleo mundiais. Não pode ser negligenciada por nossa política externa e pelas empresas nacionais. É tempo de corrigir um erro histórico.

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