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Roberto Kalil Filho

Fumar pode provocar alterações clínicas em menos de uma hora

Seja convencional ou eletrônico, cigarro amplia risco de infarto do miocárdio

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Roberto Kalil Filho

Professor titular de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), é presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clinicas da FMUSP e diretor do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês

Rita Lee revelou em sua autobiografia ser fumante há muito tempo e que chegou a fumar três maços de cigarro por dia durante a pandemia de Covid-19. Infelizmente, em maio deste ano, a cantora nos deixou em decorrência de um câncer no pulmão, seguramente decorrente do tabagismo, causando tristeza e comoção nacional.

O tabagismo é um dos maiores conspiradores contra a saúde, relacionando-se com várias doenças graves, além do câncer de pulmão: enfisema pulmonar, obstrução de artérias coronárias, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e algumas formas de câncer, dentre outras. Em relação ao coração, fumantes podem apresentar risco de infarto do miocárdio 30% maior do que não fumantes e até de 50% maior de insuficiência cardíaca. O que nem todos sabem é que fumar pode causar alterações clínicas em menos de uma hora. Para se ter ideia, 30 minutos após uma tragada pode ocorrer aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, além da liberação de radicais livres, o que contribui para disfunção da parede das artérias, prejudicando a circulação sanguínea.

Fumante na região do largo São Bento, centro de São Paulo - Zanone Fraissat - 09.jul.2020/Folhapress

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o governo gasta anualmente o equivalente a R$ 125 bilhões para tratar doenças e incapacitações provocadas pelo tabagismo —fortuna que poderia ser empregada em melhorias na saúde, caso o tabagismo fosse suprimido.

Felizmente, conseguiu-se reduzir de forma significativa o número de fumantes no Brasil graças a campanhas de conscientização, restrições em ambientes fechados e leis antitabagistas, incluindo o aumento do preço do produto. Assim, entre 2006 e 2019 houve queda na prevalência de fumantes nas capitais brasileiras, passando de 15,7% para 9,8% (dados do Vigitel, do Ministério da Saúde). Esse número é ainda assustador e, para piorar a situação, muita gente, principalmente os mais jovens, passou a usar o cigarro eletrônico com a falsa crença de que é inofensivo —mas já há vários estudos que comprovam que esses dispositivos fazem tão mal à saúde quanto o cigarro convencional, com risco de infarto de miocárdio pouco maior do que o do cigarro, ambos ultrapassando os 30%.

Embora os vícios de fumar e de beber sejam tremendamente influenciados por fatores ambientais, sociais e econômicos, existem evidências de que a genética também pode afetar esses comportamentos. O melhor conhecimento de fatores genéticos e informações como a idade em que essas substâncias começam a ser consumidas, e em que quantidade, ajudarão em breve a definir fatores preditivos para riscos individuais de desenvolver alguma das doenças acima citadas.

Que esta quarta-feira (31), Dia Mundial sem Tabaco, seja um marco para se ampliar as ações contra o tabagismo. Todos os esforços por parte do governo e da sociedade civil para diminuir o tabagismo e, atualmente, o uso de cigarros eletrônicos, são preciosos e muito bem-vindos!

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