Descrição de chapéu
Marcio Pimenta

Curiosidade move a exploração

Exploradores são seres humanos que mudam as coisas, que nos fazem sonhar e andar para a frente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcio Pimenta

Explorador e fotógrafo, é membro da National Geographic Explorer e do The Explorers Club

O que leva alguém a explorar é algo que a imensa maioria das pessoas tem muita dificuldade em entender –se é que entendem; ou, pior, se é que se esforçam em entender. E não há nenhum problema com isso. Na verdade, é algo bastante natural que apenas uns poucos dediquem seu tempo —e suas vidas— sem nenhuma garantia de resultados, sejam financeiras ou pessoais às atividades de exploração. E se isso já era verdade há mais de um século, imagine hoje onde não há um único metro quadrado da superfície do planeta que não seja conhecido por nós. Mesmo lugares que descrevemos como florestas virgens e intocadas, na verdade estão sob nossas escolhas políticas e econômicas de preservação.

Há 10 mil anos, quando alcançamos todos os cantos do planeta (exceto os polos, que só viriam a ser explorados milhares de anos depois), abandonamos, em parte, a caça de animais selvagens e a prática da livre coleta de frutas e plantas, que eram doados pela natureza. Aprendemos a domesticar, isto é, a manipular algumas espécies de plantas e animais para satisfazer as nossas necessidades diárias de calorias.

A revolução agrícola foi, portanto, uma grande mudança cultural para a nossa espécie —e, em consequência, para todo o planeta. Arrefecemos ali a necessidade de exploração para saciar nossas necessidades básicas. A missão de seguir explorando seria, a partir daquele ponto ,destinada a poucos indivíduos que seguiriam em busca de satisfazer uma outra necessidade intrinsecamente humana: a curiosidade. E esses homens e mulheres passariam a inspirar outros exploradores que reescreveriam nossa própria história, nossa relação com o planeta.

O impulso irresistível para querer ir além da próxima montanha, cruzar as águas onde não se pode ver se há terra firme no horizonte, ver o nosso planeta do alto —"A Terra é azul!"— e ir até as profundezas do mar sem fim é uma característica que define os exploradores. A inquietude sempre estará presente. Quando você está inserido em uma cultura que busca respostas para satisfazer a imensa curiosidade humana, torna tudo mais fácil.

Mas isso não explica o gene da exploração —se é que existe um ou mesmo um conjunto complexo deles. Muitos dos descendentes de grandes exploradores não herdaram essas características. Ficaram satisfeitos e felizes com as realizações dos seus ancestrais e dedicaram seu tempo e esforço a ficar em casa. Outros até podem possuir o impulso, mas não tinham as ferramentas ou a imaginação. Não há uma resposta precisa sobre porque se dedicar a se mover em busca de paisagens e culturas desconhecidas, repletas de possibilidades diferentes. Como entender que alguém possa querer se dedicar a isso?

Um explorador é alguém que se dedica a descobrir e investigar regiões desconhecidas ou pouco exploradas do mundo. Eles são movidos pela curiosidade, pela busca do desconhecido e pela vontade de expandir o conhecimento sobre diferentes lugares, culturas, ecossistemas e fenômenos naturais. Os exploradores podem embarcar em expedições para explorar terras inexploradas, montanhas, florestas, desertos, rios ou até mesmo as profundezas do oceano. Eles podem enfrentar desafios físicos e ambientais, como condições climáticas extremas, terrenos acidentados e a necessidade de lidar com a incerteza e os imprevistos.

Santos Dumont é quase sempre lembrado como o inventor do avião. Quando em 23 de outubro de 1906, no campo de Bagatelle, em Paris, o 14 Bis percorreu 60 metros em 7 segundos e a uma altura de aproximadamente 2 metros, perante mais de mil espectadores, o mundo mudou. Para além de voar, ele explorou os limites do alcance humano e desempenhou um papel fundamental na popularização da aviação e no desenvolvimento de aeronaves mais avançadas. Seu foco principal estava na inovação e no progresso tecnológico, que contribuíram na busca de novas descobertas geográficas, culturais ou científicas. Sem o 14 Bis, os jatos não seriam possíveis.

A maior parte da tripulação do submersível Titan é bastante experiente. O britânico Hamish Harding é formado em ciências naturais e engenharia química pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Harding deu a volta ao mundo de avião mais rápida já registrada até hoje e, por isso, em recebeu o prêmio Lendas Vivas da Aviação em 2022. Do ar para as profundezas, já desceu cerca de 11 mil metros na fossa das Marianas, no oceano Pacífico. Ele também é membro do conselho do "The Explorers Club", o mítico clube internacional que reúne os maiores e melhores exploradores e cientistas do mundo, de ontem, de hoje e do amanhã.

O paquistanês Shahzada Dawood (que levou seu filho Suleman Dawood na viagem com o submersível Titan) é membro do Seti Institute, na Califórnia, cuja missão é explorar, entender e explicar a origem e a natureza da vida no Universo.

O americano Stockton Rush é presidente da OceanGate Expeditions. Sua empresa conseguiu criar dispositivos capazes de atingir profundidades de 4.000 a 6.000 metros e ajuda a promover avanços em tecnologia marinha, ciência, história e arqueologia.

O francês Paul-Henry Nargeolet uma lenda no campo da pesquisa subaquática, liderou várias expedições ao Titanic, completando 35 mergulhos, e supervisionou a recuperação de 5.000 artefatos.

Todos eles são exploradores. Todos eles são seres humanos que mudam as coisas, que nos fazem sonhar e andar para a frente.

Amyr Klink, outro grande explorador brasileiro, sempre nos recorda que "um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir."

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.