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Lula lá e cá

Governo gasta mais com pobres, mas ajuste fiscal é crucial para gerar empregos

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - EPA-EFE/REX/Shutterstock

A principal marca social dos primeiros dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre 2003 e 2010, foi a ascensão de milhões de brasileiros das classes D e E para a C. O petista foi reconhecido por isso e terminou o período aprovado por 83% da população, segundo o Datafolha.

Dois fatores foram chaves para o sucesso à época. O primeiro é que a economia mundial passava pela fase de maior crescimento sincronizado desde a Segunda Guerra, e a China avançava entre 10% e 12% ao ano —o que levou a um boom nos preços de commodities agrícolas e minerais que o Brasil exporta.

Em segundo lugar, Lula herdou superávits primários (para abater a dívida pública) do governo Fernando Henrique Cardoso e conservou as contas em ordem. Sem risco de insolvência, inflação e juros mantiveram-se relativamente baixos, encorajando o setor privado a investir e a criar empregos.

Dados da FGV Social sobre aquele período mostram que foi o trabalho o que mais contribuiu para o incremento da renda da população. Mesmo entre os 10% mais pobres, só 30% do aumento nos rendimentos se deu por influência do Bolsa Família —criado e reforçado nos dois governos de Lula.

Agora, em seu terceiro mandato, o petista não poderá contar, ao menos no curto prazo, com a economia mundial em forte expansão.

Ao contrário, Estados Unidos e União Europeia têm elevado juros para conter a inflação, e o crescimento chinês neste ano será pouco superior a 5%, tendendo à desaceleração em 2024, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Sem tanto impulso externo desta vez, Lula terá de se contentar, portanto, mais com a força da economia brasileira para cumprir promessas voltadas aos mais pobres.

De saída, a partir da chamada PEC da Transição, aprovada no ano passado e que liberou R$ 145 bilhões fora do teto de gastos, o petista reforçou vários programas.

Hoje, só o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (para idosos e pessoas com deficiência pobres) e o abono salarial representam 11,8% da despesa total do governo federal (ou 2,16% do PIB). Trata-se de um aumento de 76% em relação ao pico desses gastos nos governos Lula 1 e 2, que ocorreu em agosto de 2010.

Essas ações, porém, são quase paliativas e dependem de o governo ter ou não orçamento para bancá-las —o que parece incerto nos próximos anos. O fundamental seria que, como nos anos 2000, o aumento da renda dos mais pobres ocorresse pela via do trabalho.

Para isso, é o próprio governo que precisa prover as condições, ajustando o quanto antes as contas públicas para que o setor privado volte a confiar no país e a investir.

editoriais@grupofolha.com.br

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