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Alucinações da inteligência artificial

Se acompanhada por especialistas, tecnologia pode ser de grande valia para a educação

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Arnaldo Niskier

Doutor em educação, é professor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL); presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio de Janeiro (Ciee/RJ)

É certo que a nova geração gosta muito de novidade. Isso talvez explique o sucesso com que a inteligência artificial (IA) está sendo recebida. Mas é preciso que haja certos cuidados no trato da matéria, que agora vem sendo aplicada nas universidades brasileiras.

Nem tudo, porém, é um mar de rosas. Em conversa com o meu genro Roberto Flanzer, ele me pediu uma pergunta para ser respondida pela IA. Puxei lá do fundo: "Qual a importância de Adolpho Bloch para a imprensa brasileira?". A resposta não demorou 30 segundos, o que é incrível: "Ele foi uma das pessoas mais importantes da nossa imprensa. Criou a Manchete e as Organizações Globo".

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Estudante utiliza no celular a Redação Paraná, plataforma criada pelo governo do estado para corrigir redações; a ferramenta, que se propõe a ajudar os alunos a desenvolver a produção de texto, foi implementada nas escolas estaduais - Silvio Turra/Seed-PR/Divulgação - Silvio Turra/Seed-PR - Divulgação

Ora, o velho Bloch nunca teve nada a ver com as empresas de Roberto Marinho. Como botar isso na cabeça dos nossos jovens?

Fui, então, para um segundo tempo: "E quem é Ruth Niskier?". Queria homenagear minha esposa. A resposta também deu um bico na verdade: "Foi uma importante atriz do nosso teatro. Fez também cinema". Minha mulher nunca exerceu essas atividades. Foi, modestamente, formada em magistério no Instituto Bennett. Vamos passar um tempo engolindo essas mentiras, mas endeusando a nova tecnologia. Como é que se vai depurar isso tudo?

Há um pormenor essencial no trato dessa matéria: se os técnicos e especialistas, que comporão os seus recursos humanos, não tiverem formação adequada nos níveis anteriores de ensino, sobretudo na educação básica, todo o processo corre o risco de ser duramente castigado. Se houver a perda de credibilidade inicial, tudo pode ir para o espaço, sem glória.

Completei o bacharelado e a licenciatura em matemática na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Lecionei geometria analítica para os cursos de matemática, física e química por uns bons anos e adquiri uma experiência que tem sido muito útil para compreender os fenômenos da inteligência artificial. Por isso, torço para que essa transformação dê certo, em todos os sentidos, no uso das plataformas que se utilizam desse sistema, entre as quais o Good Tape, o Decktopus, o Inflection, a assistente Monica, o ChatGPT.AI e outras mais.

Se for cuidadosamente planejada, acompanhada por professores e especialistas competentes, a IA pode ser de grande valia para a educação brasileira, que sofre problemas notórios de qualidade. Vale para a personalização do aprendizado, a tutoria virtual, a análise de dados educacionais, a tradução automática (onde já tem um bom uso) etc.

O que se deve exigir, no trato da matéria, é uma absoluta seriedade —além, é claro, do conhecimento necessário. Seguramente, não é assunto para amadores, que só podem atrapalhar o desenvolvimento esperado.

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