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O que a Folha pensa África

Golpe no Níger

Reação à queda da democracia no país africano reflete tensão entre EUA e Rússia

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Em frente à embaixada da França, manifestantes apoiam golpe militar com bandeiras do Níger e da Rússia, em Niamei (Níger) - AFP

Espremido entre o deserto do Saara ao norte e as savanas africanas ao sul, o Sahel é uma zona árida e asfixiante em mais de um sentido.

Nos últimos anos, países que compõem a região foram palco do aumento da atividade de grupos terroristas islâmicos, da brutalidade de mercenários e de uma sequência de golpes de Estado.

A última peça do dominó a cair é o Níger, vasto país do tamanho do Pará e terceiro mais pobre do mundo, segundo a ONU.

Em 26 de julho, o presidente eleito democraticamente em 2021, Mohamed Bazoum, foi deposto por uma junta militar e submetido a prisão domiciliar. Ele fora empossado após a primeira transferência pacífica de poder no país desde a independência da França, em 1960.

A reação internacional ao golpe, numa região em que quarteladas são fatos corriqueiros, desta vez foi surpreendentemente dura.

Isso se explica pelo cenário geopolítico tenso, agravado pela guerra da Ucrânia. O Níger era um raro aliado do Ocidente na região contra a ameaça jihadista e atuava como uma barreira de contenção à infiltração do infame grupo russo Wagner, que já atua em países vizinhos como Mali, Burkina Faso e, um pouco mais ao sul, a República Centro-Africana.

Os mercenários, notórios pelo envolvimento na guerra da Ucrânia e pelo breve levante contra o presidente Vladimir Putin em junho, atuam na África como uma espécie de braço da política externa russa, fechando acordos com ditadores locais que muitas vezes incluem a expulsão de tropas ocidentais.

Soma-se a esse contexto o fato de o país ter algumas das maiores jazidas mundiais de urânio, mineral necessário tanto para bombas atômicas quanto para a descarbonização das fontes de energia.

Preso pela junta, mas ainda com meios para se comunicar, o presidente deposto fez um apelo direto por uma intervenção internacional na quinta-feira (3).

Países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental cogitam uma força multinacional para restituir Bazoum ao poder, possivelmente com apoio de cerca de 1.100 soldados americanos baseados no Níger.

No entanto desfazer o golpe seria, na melhor das hipóteses, um pequeno alento para trazer alguma estabilidade. Em qualquer cenário, pobreza extrema, terroristas e disputas geopolíticas seguirão fazendo do Sahel uma das regiões mais irrespiráveis do planeta.

editoriais@grupofolha.com.br

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