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Carol Conway

Prejudicar o parcelado sem juros será um desastre para o consumidor

Competição das maquininhas derrubou em 81% os juros cobrados do lojista

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Carol Conway

Presidente da Abranet (Associação Brasileira de Internet)

Há pelo menos 50 anos é público e notório que os juros brasileiros são altíssimos e que o mercado financeiro no Brasil é um dos mais concentrados do mundo. Atualmente, os juros de cartão atingem estratosféricos 445% ao ano, e os lucros (e retorno sobre o capital) dos bancos brasileiros, dos mais altos do mundo, batem recordes sobre recordes.

Os grandes bancos, sob pressão para reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, vislumbraram uma oportunidade para tentar aumentar ainda mais seus lucros diminuindo a nova e raríssima competição dos últimos sete anos no mercado de maquininhas. É por causa dessa competição que querem prejudicar as empresas de maquininhas e mudar a regra do jogo em pleno jogo a favor do banco emissor. Para tanto, querem o fim do parcelado sem juros e desejam criar o parcelado com juros ou o parcelado tarifado.

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Bancos alegam que parcelado sem juros contribui para patamar elevados das taxas de juros praticado no mercado local - Gabriel Cabral/Folhapress

Numa inversão absurda e falaciosa, querem atribuir ao parcelado sem juros a "responsabilidade" dos juros de 445% ao ano no rotativo, quando do consumidor não se cobra juros e do lado do vendedor o juro anual praticado é de apenas 19% ao ano (antecipações das parcelas sem juros). Além disso, não é proibido que o vendedor dê desconto para receber à vista. Na prática, o que os grandes bancos querem é acabar com a mais barata linha de crédito na praça —19% ao ano— oferecida pelas empresas de maquininhas.

Tanto os 445% de juros médios anuais do rotativo dos grandes bancos como os 19% de juros médios anuais da antecipação das empresas de maquininha são dados do Banco Central. Pressionados pelo regulador por praticarem juros 23 vezes maiores do que as maquininhas, o que os grandes bancos querem é acabar com o parcelado sem juros para prejudicar o crédito barato de apenas 19% ao ano na antecipação das parcelas do parcelado sem juros.

Em 2011, a taxa de antecipação das empresas de maquininhas era de 2,53% ao mês e a Selic de 0,92% ao mês, resultando em 1,61% ao mês de margem. Hoje, com a inédita competição no mercado de maquininhas, a margem é de apenas 0,31% ao mês, uma redução de 81% no juro praticado ou cinco vezes menor do que 12 anos atrás (sempre a partir de dados do BC).

Como comprova o comportamento acima dos juros no mercado de maquininhas nos últimos 12 anos, em que a competição reduziu em cinco vezes a margem de juros do crédito de antecipação do parcelado sem juros, de 1,61% ao mês em 2011 para 0,31% ao mês em 2023, apenas mais competição é capaz de baixar os juros no crédito do rotativo dos grandes bancos. Iniciativas como portabilidade de dívida entre bancos, open banking e birôs de crédito positivo são exemplos que podem favorecer um ambiente de competição essencial para a queda sustentável de juros sem secar o crédito na praça.

Vale lembrar que as compras parceladas sem juros são responsáveis por 50% de todo o volume de cartão de crédito no país, atingindo R$ 1 trilhão (10% do PIB em 2022), e que muitas vezes é a única opção de consumo para parte significativa da população. Prejudicar o parcelado sem juros será um desastre para o consumo e para a economia brasileira.

Não existe nenhum estudo independente que sustente que o parcelado sem juros seja prejudicial, a não ser os patrocinados pelos grandes bancos. Não existe nenhuma relação de causa e efeito. Novamente, prejudicar o parcelado sem juros será um desastre para o consumidor e o consumo da economia brasileira. Só os grandes bancos ganham.

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