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O que a Folha pensa violência

Aflições paulistanas

Reduzir a percepção de violência exige mais que combater o crime

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Policiais da Guarda Civil Metropolitana revistam usuários de crack no centro de São Paulo (SP) - Danilo Verpa/Folhapress

Complexa e multifatorial, a percepção de insegurança em uma sociedade combina experiências pessoais e de seu círculo próximo; estereótipos e preconceitos sobre regiões e classes sociais; a amplitude do noticiário sobre violência na mídia; e, por óbvio, a constatação matemática dos atos criminosos.

Esse amálgama difuso está no cerne da pesquisa Datafolha que apontou a violência como a maior preocupação dos paulistanos.

Para 22% deles, a segurança pública é o maior problema da capital. São 10 pontos percentuais a mais em relação ao último levantamento, de 2020, e 6 pontos à frente da saúde —tema que liderou as aflições dos moradores nos últimos 11 anos. Vêm na sequência transporte coletivo (8%), educação (6%) e buracos na rua (6%). A margem de erro é de três pontos percentuais.

Estatísticas recentes da violência, embora não peremptórios, apontam possíveis explicações.

Dados do governo paulista sobre homicídios dolosos (alta de 2,3%) e roubos (queda de 2,4%) na capital mostram certa estabilidade entre o primeiro semestre deste ano e o de 2022. Já os latrocínios tiveram redução expressiva de 26,7%. Furtos (alta de 6,9%) e estupros (26%) são contraponto relevante —registre-se que este último delito é sempre passível de subnotificações.

Se as estatísticas são inconclusivas, o paulistano detecta a olhos vistos a multiplicação de usuários de drogas na cracolândia e a consequente dispersão geográfica após intervenções, até agora tumultuadas, do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Não à toa, o receio com a violência é ainda maior na região central, marcada nos últimos meses por tumultos, saques, protestos e recordes de furtos e roubos —notadamente de telefones celulares, prática disseminada por quadrilhas especializadas e que afeta, inclusive, as camadas mais pobres.

Nesse contexto, também não surpreende que 68% considerem ineficientes as medidas da prefeitura e do governo estadual para ao menos minimizar o descontrole do crack e suas consequências. Número similar (73%) vê como ruim ou péssimo o trabalho de Nunes no acolhimento dos moradores de rua.

Percepção e realidade podem se confundir, mas o tema da violência pode ser destaque nas eleições municipais de 2024 —ainda que policiamento ostensivo e investigação sejam de alçada estadual.

Há muito o que a prefeitura possa fazer. A insuspeita desordem urbana, como má zeladoria, iluminação pública precária e proliferação da população de rua, reduz o ir e vir e amplia a sensação de medo.

Para os que almejam comandar a capital a partir de 2025, resta observar que os paulistanos seguem resilientes —9 em 10 estão satisfeitos por morar na cidade—, mas apreensivos em relação a sua integridade física e de seus familiares.

editoriais@grupofolha.com.br

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