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Mario Fleck e Bruno Laskowsky

O fim dos predadores, para o bem da humanidade

Perspectiva de paz na região avançará com o desmantelamento completo do Hamas

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Mario Fleck

Presidente do Conselho da Congregação Israelita Paulista (CIP) e ex-presidente da Federação Israelita do Estado São Paulo (Fisesp)

Bruno Laskowsky

Presidente do Conselho da Atid (entidade que oferece crédito a membros da comunidade judaica) e ex-presidente da Fisesp

No cenário internacional contemporâneo, observamos uma polarização crescente que afeta profundamente a percepção dos eventos. Dentro desse contexto, os atos do Hamas, uma organização classificada como terrorista por várias entidades internacionais e países, são interpretados sob luzes distintas, um fenômeno que não apenas obscurece a realidade, mas também alimenta o ciclo contínuo de violência.

A principal fonte da polarização está na interpretação da natureza humana. Uns pensam que as pessoas são maleáveis e podem ser aperfeiçoadas através do dialogo; já outros que a natureza humana é uma constante —e, como afirma Thomas Sowell, autor de "A Conflict of Visions", estes últimos acreditam que os conflitos sociais e políticos nunca serão resolvidos e podem apenas ser gerenciados.


A polarização molda a compreensão pública do terrorismo e da violência perpetrada pelo Hamas e destaca o papel vital das sociedades democráticas na promoção da paz.

No caso do ataque bárbaro, animalesco, perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro, vemos na mídia e em grupos de debates duas narrativas dominantes: o Hamas como movimento de resistência ou como uma organização terrorista implacável e bárbara.

Temos que aceitar, entretanto, que existem limites para a chamada polarização. Narrativas e opiniões diferem de dados e fatos. O documento de fundação do Hamas afirma textualmente:

- Artigo 7: O dia do julgamento só chegará quando os muçulmanos tiverem matados todos os judeus;

- Artigo 13: Iniciativas e conferências de paz contradizem os princípios do movimento de resistência islâmico;

- Artigo 14: A liberação da Palestina de todos os vestígios sionistas é uma obrigação de todos os muçulmanos;

- Artigo 22: O inimigo dos muçulmanos são os sionistas, culpados de todas as guerras e destruições do mundo;

- Artigo 31: Enquanto outras religiões não se submeterem ao Islã, haverá apenas carnificina, deslocamentos e terror;

- Artigo 32: É preciso unir todos os países árabes na luta contra Israel, caso contrário os interesses sionistas de conquistar o mundo, conforme descrito nos "Protocolos dos Sábios de Sião", não serão interrompidos.

O contexto de polarização alimenta a relativização da violência que foi cometida contra civis em Israel (não só israelenses e judeus foram atacados; beduínos e cidadãos de vários países também o foram). Dependendo da narrativa adotada, esses ataques contra civis —que lembram de muitas maneiras os "Pogroms" na Europa Oriental e as práticas nazistas— são muitas vezes minimizados, justificados ou, inversamente, usados para demonizar toda uma comunidade judaica (não só em Israel, mas em todo o mundo), seguindo um caminho conhecido e perigoso de práticas antissemitas.

Isso não apenas desumaniza as vítimas, mas principalmente impede a responsabilização efetiva dos perpetradores, criando um ambiente onde o ciclo de violência é perpetuado.

A história do conflito na região —Israel, países árabes, Palestina etc.— tem inúmeras nuances, e qualquer análise sensata e intelectualmente honesta deve reconhecer suas complexidades.

Mas o que aconteceu no dia 7 de outubro não tem a ver com preferências ideológicas de esquerda ou direita, mais Estado ou menos Estado, ou mesmo um Estado religioso ou laico. Foi um ato de pura barbárie e muito bem articulado no sentido de ir minando qualquer tentativa pragmática de construção de um caminho de paz.

Tais acontecimentos tampouco foram um gesto de desespero de um grupo oprimido. Leia-se novamente o estatuto do Hamas para constatar que se tratou de uma iniciativa coerente com sua agenda exclusiva e permanente de ódio.

Além dos artigos listados acima, o Hamas, na sua carta de fundação e no seu manifesto, declara abertamente seu objetivo de aniquilar Israel. Como diz na sua "Constituição" em seu artigo 18: "São considerados nulos e sem efeito: a Declaração Balfour, o Documento do Mandato Britânico, a Resolução da ONU sobre a Divisão da Palestina e quaisquer resoluções e medidas que deles derivem ou que sejam semelhantes a eles. O estabelecimento de "Israel" [aspas colocadas no documento] é totalmente ilegal e viola os direitos inalienáveis do povo palestino e vai contra a sua vontade e a vontade da Ummah".

De forma direta e objetiva: o Hamas não dá importância à vida (secundária em relação aos seus objetivos) e não há constrangimento em utilizar a própria população palestina em Gaza como escudo humano; ao contrário, quanto mais sofrimento, "melhor" (e, claro, o Hamas sabia que a reação israelense teria que ser e seria dura —afinal, o país está lutando por sua sobrevivência).

O julgamento "moral" de colocar seu próprio povo numa situação de risco não é relevante. A sua relevância (Hamas) se dá pela expansão do caos e do medo, e claramente suas ações são guiadas para afastar qualquer caminho construtivo de paz.


O mundo árabe e muçulmano não pode ser confundido com o Hamas. Os últimos movimentos geopolíticos na região talvez tenham sido o estopim para que o patrão do grupo terrorista, o Irã, Estado exportador de terror, desse a ordem para a execução desse plano macabro.

A concretização dos Acordos de Abraão e a perspectiva iminente do acordo de paz com a Arábia Saudita abririam o caminho de uma solução de paz construída com base na lógica de dois Estados e pacificariam definitivamente a agenda entre Israel e o mundo árabe e muçulmano. Mas essa solução não é do interesse do Hamas. Está escrito no seu manifesto de fundação e, mais do que isso, nas suas ações ao longo de todo este tempo. De fato, uma solução de paz com Israel, além da própria constituição de um Estado palestino, é a grande ameaça à existência dessa organização terrorista.

A perspectiva de paz na região avançará muito com o desmantelamento completo do Hamas. Essa será a melhor resposta que o mundo democrático dará à tentativa desse grupo de acabar com os valores do que é ser humano. Além disso, será uma mensagem clara de todo o mundo civilizado ao Irã, indicando que nenhum país, nem mesmo os árabes e muçulmanos, serão reféns de suas garras desumanas e destruidoras.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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