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Razões da disparidade

Trabalho de vencedora do Nobel lança luz sobre salários menores de mulheres

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A economista Claudia Goldin, vencedora do Nobel de Economia - Brian Snyder/Reuters

O Nobel de Economia contemplou tema dos mais caros ao feminismo ao premiar a americana Claudia Goldin, estudiosa da inserção de mulheres no mercado de trabalho. Goldin é a terceira mulher a receber o galardão nessa categoria, mas a primeira a não dividi-lo com pesquisadores homens.

Seus trabalhos são relevantes, inovadores e propícios ao desenvolvimento de políticas públicas de grande impacto social. Um dos feitos da professora de Harvard foi ter reunido 200 anos de dados para conclusões fundamentadas.

Uma delas é que as causas da discriminação da mulher no mercado de trabalho são principalmente situacionais, não resultado de algum essencialismo irredutível.

Em outras palavras, elas estão baseadas sobretudo em estruturas sociais e ocorrências do mundo físico, como gravidez e doenças, mais do que em preconceito —ainda que este possa ser observado.

Com efeito, hoje (já foi diferente no passado), as remunerações de homens e mulheres quando ingressam na vida profissional não são muito díspares. Mas, a partir do momento em que elas têm os primeiros filhos, a diferença surge e não diminui mais.

O problema central é que as exigências da maternidade —e, mais tarde, o cuidado com os idosos, que também tende a recair mais sobre mulheres— fazem com que elas optem por empregos com maior flexibilidade de horários, que tendem a pagar menos do que aqueles que exigem dedicação diuturna.

Segundo um dos achados de Goldin, em casais de mulheres homossexuais, uma delas costuma preservar-se mais das interferências do mundo doméstico e ganha um prêmio salarial por isso.

A boa notícia é que está ao alcance de políticas públicas mudar ao menos parte do quadro. Nenhuma lei vai alterar rapidamente séculos de atribuição de papéis sociais, mas um bom sistema de creches pode dar às mulheres as condições de assumir empregos melhores.

O mesmo vale para a adoção de uma licença-paternidade mais alentada, que permita aos casais uma divisão mais equitativa das obrigações com a prole.

Medidas como essas parecem mais promissoras do que proibir por lei a discriminação salarial por gênero —como faz o Brasil há décadas, com novas regras recém-aprovadas por iniciativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Por meritório que seja o princípio legal, a sua aplicação é dificultada pela existência de outros fatores, como tempo de casa e desempenho, que podem justificar as diferenças salariais.

editoriais@grupofolha.com.br

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