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VÁRIOS AUTORES

Pela Palestina livre do apartheid israelense

Nos interessa uma perspectiva democrática do judaísmo

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VÁRIOS AUTORES (nomes ao final do texto)

Todo povo nativo irá resistir aos colonizadores estrangeiros enquanto perceber qualquer esperança de se livrar do perigo da ocupação. É assim que os árabes irão se comportar e continuarão se comportando enquanto tiverem um vislumbre de esperança de que podem impedir que a ‘Palestina’ se torne a Terra de Israel. [...] Devemos suspender os nossos esforços de ocupação ou continuá-los sem prestar atenção à disposição de ânimo dos nativos.

Vladimir Jabotinsky em "A Muralha de Ferro", 1923

Documentos nos ajudam a decifrar momentos históricos, ideologias e programas políticos. Jabotinsky, líder do "sionismo revisionista", entendia que os sionistas deveriam agir como verdadeiros colonizadores para quebrar a resistência nativa e obter sucesso na construção de Israel, ideia central para a militarização do movimento sionista. O resultado foi a expulsão de 750 mil palestinos e a destruição de 550 vilarejos durante a nakba entre 1947 e 1949. "Nakba", "catástrofe" em árabe, é o termo utilizado pelos palestinos para se referir ao processo de criação de Israel.

Apesar de existirem judeus vivendo na Palestina há séculos ao lado de palestinos de outras fés, a reivindicação de soberania judaica sobre a Palestina não é um projeto dos judeus nativos, mas dos judeus europeus que responderam ao antissemitismo do final do século 19 com ideias nacionalistas. Embora o termo "sionismo" signifique uma "ideologia para a autodeterminação do povo judeu", o sionismo real no território da Palestina tem sido um projeto colonial para autodeterminação exclusiva de um grupo étnico-racial, os judeus, a partir da negação da autodeterminação dos indígenas palestinos.

Essa é a interpretação de intelectuais palestinos como Edward Said e Rashid Khalidi, que veem o sionismo como um tipo de colonialismo por povoamento. À semelhança das colonizações britânicas da América do Norte e da Austrália, o colono vem para ficar e constrói um Estado para assegurar privilégios à nação colona a partir da destruição da nação nativa. Enquanto houver terra indígena, o Estado colono buscará a sua expropriação.

A expansão do colonialismo israelense para os territórios de Cisjordânia e Faixa de Gaza em 1967 criou um dilema para as elites israelenses. Para colonizar os territórios palestinos sem anexar a população palestina, o que afetaria a maioria demográfica judaica entre os cidadãos de Israel conquistada com a limpeza étnica na nakba, as elites israelenses estabeleceram o regime de apartheid no qual exercem soberania sobre toda a Palestina, mas não concedem cidadania para aqueles que vivem sob ocupação. A isso se soma a exclusão imposta aos palestinos cidadãos de Israel, vistos como inimigos internos.

Pensar numa Palestina livre "do rio ao mar" não significa expulsar os judeus, como afirma artigo de opinião publicado nesta Folha em 22 de novembro, mas superar todas as opressões que constituem o regime de apartheid israelense. Esse tipo de afirmação busca enquadrar a luta palestina de libertação como repressiva e negadora da autodeterminação judaica, além de genocida e antissemita. A extrema direita israelense adora essa narrativa, que serve para silenciar as críticas antissionistas a Israel a partir de denúncias oportunistas de racismo antijudeu. O mesmo acontece no Brasil, quando organizações se utilizam dessa narrativa para interditar a crítica e a expressão dos dissonantes. Descontextualizar e manipular a forma como os palestinos enxergam o seu mundo é característica clássica do orientalismo, descrito por Said, e mecanismo assustador usado diante do maior genocídio da história palestina em curso em Gaza.

Pensar uma Palestina livre significa construir um Estado pós-apartheid ao estilo sul-africano. Significa construir condições para a reconciliação entre judeus e palestinos não apenas pelo fim da ocupação, mas também da concessão de direitos iguais aos palestinos cidadãos de Israel, do respeito ao direito de retorno dos refugiados palestinos e da restituição da terra e do trabalho palestinos roubados. Significa superar o paradigma de dois Estados que tem legitimado o apartheid dos últimos 30 anos e permitir aos judeus que se autodeterminem em conjunto dos palestinos, não apesar deles.

Nos interessa uma perspectiva democrática do judaísmo. Essa passa necessariamente por questionar o papel colonial do sionismo real na Palestina e do seu projeto militarista de um Estado de maioria étnica-racial judaica.

Palestina livre!

Milton Barbosa
Movimento Negro Unificado (MNU)

Soraya Misleh
Frente em Defesa do Povo Palestino

Bruno Huberman
Gabriel Regensteiner
Beatriz Kalichman
Flávia Odenheimer
Juliana Muniz
Daniela Fajer
Yuri Haasz
Ully Kotler
André Kohan
Olivia Montero
Shajar Goldwaser
Juliana Westmann
Iris Brochsztain
Iara Haasz

Integrantes do Vozes Judaicas por Libertação

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