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O que a Folha pensa STF

A trapalhada do ministro

No afã de mostrar serviço, Lewandowski ultrapassa fronteira com caso Marielle

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Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça - Pedro Ladeira/Folhapress

Nos 17 anos em que serviu como ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski não raramente viu-se envolvido em polêmicas decorrentes da origem de sua indicação para o cargo, a proximidade com o então e hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Enumeram-se entendimentos favoráveis ao petismo, de embates pelo garantismo quando relator do mensalão ao fatiamento da decisão sobre o impeachment de Dilma Rousseff, que permitiu à ex-presidente manter direitos políticos.

Seus defensores sacam o notório saber jurídico, que o destacava de outras escolhas mais políticas feitas pelo próprio Lula à corte. Aposentado em 2023, rumava para uma lucrativa carreira privada.

Mas foi convocado pelo PT para substituir Flávio Dino, ex-ministro da Justiça levado ao Supremo. Esperava-se uma gestão menos estridente do que a do maranhense, mas esse primeiro mês e meio se mostrou desafiador ao vaticínio.

Lewandowski viu-se logo confrontado com uma crise inaudita, a fuga de dois presos de uma penitenciária federal de segurança máxima em Mossoró (RN). Correu a enumerar medidas e promoveu intensa mobilização policial. Dos fugitivos, porém, não há notícia.

A pressão na área da segurança, apontada em pesquisas como um calcanhar de Aquiles da gestão Lula, desaguou em novo ineditismo.

Na terça (19), o ministro fez um inusitado anúncio da homologação, pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, da delação premiada de Ronnie Lessa, preso sob acusação de matar a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, em 2018.

Ressalvando desconhecer seu teor, disse que a delação "traz elementos importantíssimos que nos levam a crer que brevemente teremos a solução do assassinato".

Não é papel de um ministro do Executivo antecipar investigações criminais. Pior, sugere afã de atender à cobrança de Lula por mais divulgação do governo, ante a queda de sua popularidade. O pasmo foi expresso até pela viúva de Marielle, Mônica Benício, que sentiu cheiro de exploração política.

Além de inapropriada, a fala tem o duplo condão de arriscar o ministro ao vexame, caso não haja avanços no necessário esclarecimento do crime, e o de politizar quaisquer elucidações.

editoriais@grupofolha.com.br

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