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O que a Folha pensa guerra israel-hamas

Cessar-fogo já entre Israel e Hamas

Legítimo na origem, como resposta ao terrorismo, conflito deve parar devido ao número de mortos e à disparidade de força

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Palestinos lamentam mortes de familiares após bombardeio de Israel, em Rafah (Faixa de Gaza) - Mahmud Hams/AFP

Na quinta (29), militares israelenses atiraram contra palestinos durante distribuição de comida em Gaza, deixando mais de uma centena de mortos, segundo o Hamas, ou 10 vítimas, de acordo com Israel, em novo episódio lamentável de uma guerra sangrenta e desigual.

O incidente, que ainda tem de ser mais bem esclarecido, evidencia um dos aspectos cruéis do atual conflito: a assimetria no número de vítimas entre os dois lados.

O ato selvagem do grupo terrorista palestino, que deu origem à nova fase da guerra interminável na região, matou 1.269 pessoas, entre elas mulheres e crianças, no maior ataque sofrido por Israel; dos 253 sequestrados, bebês inclusive, muitos continuam desaparecidos.

A reação militar que se seguiu, justificável na origem, escalou para uma mortandade sem precedentes no conflito israelo-palestino, embalada pelo gabinete de extrema direita de Binyamin Netanyahu. Segundo autoridades palestinas, já são 30 mil os mortos em Gaza, a maioria mulheres e crianças.

Isso representa uma morte para cada 73 habitantes da população de 2,2 milhões. Significa também que Israel matou mais de 23 palestinos para cada vítima do ataque terrorista. Os números são contestados por Tel Aviv, mas podem até estar subestimados. Mais de 500 mil estão sujeitos à fome, enquanto Israel dificulta a ajuda humanitária.

Guerras assimétricas geram número assimétrico de vítimas, argumentam os defensores da atual ofensiva israelense. É verdade. O ataque do 11 de Setembro de 2001 deixou 2.996 mortos nos Estados Unidos; a Guerra do Afeganistão, reação norte-americana àquele ataque terrorista, já matou 243 mil afegãos —81 por morto original.

A diferença é que o conflito Israel-Hamas se dá entre o governo de um país estabelecido, com Forças Armadas e instituições democráticas, e uma facção que se instalou no comando de um enclave dentro desse próprio país.

É como se os EUA tivessem ido à guerra não contra o Afeganistão, então comandado pelo Talibã e guarida de Osama bin Laden, mas contra Nova Jersey, vizinha de Nova York. O desastre humanitário atual é consequência direta dessa proximidade territorial e da disparidade bélica e tecnológica.

Esta Folha defende a ideia de criar um Estado palestino que conviveria com Israel, a chamada solução de dois Estados, a mais viável para pacificar o Oriente Médio.

Para que isso venha a ocorrer, o cessar-fogo e o acesso do socorro humanitário precisam ser obtidos já, com apoio do Ocidente e liderança da Casa Branca, na figura de Joe Biden. Na sequência, o Hamas deveria depor armas, e o gabinete de Netanyahu, renunciar.

A cada evento como o de quinta-feira, porém, as duas últimas ações parecem mais quiméricas.

editoriais@grupofolha.com.br

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