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Sou tachada de louca por seguir isolamento, diz professora; leitores relatam se afrouxaram a quarentena

No estado de São Paulo, as regras de isolamento social mais rígidas seguem pelo menos até 22 de abril

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São Paulo

O período de isolamento social imposto pela crise do coronavírus obrigou famílias a criar novas rotinas em casa e empresas a autorizar que seus funcionários trabalhem remotamente.

No estado de São Paulo, a quarentena iniciou em 24 de março e, no dia 6 de abril, foi prorrogada. Pelo menos até a próxima quarta, dia 22, as regras de isolamento social não devem ser alteradas.

Em outros estados, como Santa Catarina, o comércio de rua começou a ser liberado, mas escolas e shoppings continuam fechados.

Leitores da Folha relatam como estão lidando com o período de quarentena e se endureceram ou afrouxaram as regras de isolamento social desde que elas foram impostas.

Sou professora estadual. Estou de férias, as mais tristes da minha jornada pedagógica. Estamos a 400 km da cidade de São Paulo e este distanciamento faz com que grande parte da população não acredite no poder de destruição do vírus. Moro em um sítio, a 3 km do centro da cidade. Estou em isolamento social desde o dia que o governador nos afastou. Tenho pais idosos e quase não vou para lá, pois temo por eles. Meu isolamento não foi afrouxado, pelo contrário, foi aumentado porque acompanho diariamente a situação do país. Já estou sendo tachada de louca pela minha família. Sigo o protocolo o tempo todo. (Ana Claudia da Silva - Mococa/SP)

Minha quarentena continua firme e forte! Sou do bloco "daqui não saio, daqui ninguém me tira". Tenho 71 anos de idade e estou bem. Minha única filha mora na Europa, mas não estou só. Um sobrinho me faz companhia e faz as compras de casa. Conto também com o apoio dos meus amigos vizinhos. Nunca gostei de ficar dentro de casa o tempo todo. Gosto de sair com as amigas, de viajar, fazer compras, tudo de bom! Sinto saudade da vida lá fora. Mas, agora, o mais importante é me cuidar pra depois voltar a fazer o que eu gosto com mais entusiasmo. Então eu passo o tempo cuidando da casa ou com alguma costura e, como eu costumo trabalhar com artesanato, procurei cursos online para aprimorar as minhas técnicas. (Maria Elena - Olinda/PE)

Tenho 65 anos, sofri de asma e tive herpes zóster. Minha esposa tem 72 anos é diabética, hipertensa, tem dois stents. Moramos sozinhos e não temos ningúem que compre pelo menos um pão para nós. Para preservá-la, vou ao mercado, padaria, farmácia e em outros lugares necessários, pelo menos uma vez por dia. Coloco máscara e, assim que chego, tomo banho para lavar as roupas que usei. O nome disso é afrouxamento? (José Carlos Pereira de Carvalho - Rio de Janeiro/RJ)

Sou oficial de Justiça. Só saio de casa para o estritamente o necessário, isto é, só para cumprir meu plantão. As compras, pedidas por aplicativo, são deixadas fora do meu pátio e colocadas num recipiente plástico e por mim içadas para dentro. A limpeza de tudo é feita, minuciosamente, para depois, com certeza da assepsia, poder entrar em casa. Quando estou na rua, cumprindo meu plantão, fico admirado do comportamento das pessoas –sem máscaras, em grupos. Hoje, duas senhoras, em horários e locais distintos, me perguntaram: "você também acredita neste vírus?". "Eu acredito em Deus", falou uma. Tentei argumentar dizendo que Deus gostaria que nos cuidássemos, que usássemos máscaras e nos protegêssemos, mas a intolerância dela fez eu desistir e seguir adiante. (Marcos Brum, Porto Belo/SC)

Na minha casa, somos em três pessoas e estamos em quarentena desde 20 de março. Somos todos do grupo de risco –eu, 45 anos, hipertensa (já tive AVC) e com mais dois problemas crônicos de saúde. Minha avó de 86 anos teve tuberculose, AVC, e meu namorado usa anticonvulsivantes e já teve hemorragia cerebral. Faz uns 15 dias que o prefeito da minha cidade deixou o comércio abrir, e desde então está difícil a pressão. Meus familiares mais próximos estão quase todos seguindo no isolamento. Sou autônoma e muita gente não entende minha posição, sou motivo de chacota. Ou dizem que não tenho fé porque "Deus protege", ou dizem que a Globo está promovendo pânico nas pessoas... É um estresse danado. As ruas estão lotadas desde o começo de abril. Idosos foram receber salário, pessoas fazem festa nas suas casas. Na Páscoa, muita gente de fora veio ver parentes aqui. O sentimento para quem faz quarentena é de que somos poucos. (Cristiane Bortolini, Rio Grande do Sul)

Tenho 40 anos, sou motorista de aplicativo. Para continuar trabalhando eu preciso sair de casa, pois ser motorista é minha única fonte de renda. Estou tomando todos os cuidados possíveis para que meu carro não seja um ponto de contágio para mim e meus passageiros. Ofereço álcool em gel, uso máscara e faço a descontaminação. Hoje não me sinto segura na rua, nunca tive medo de assalto ou julguei alguém pela aparência, mas agora eu tenho medo de todas as pessoas e vivo em um estado de alerta constante porque qualquer pessoa pode ser portadora do vírus. Não saio mais todos os dias pra trabalhar, tento garantir apenas o básico e me expor o menor tempo possível na rua. (Jaqueline Ramos, São Paulo/SP)

Tenho 18 anos. Por aqui, a quarentena e as práticas de isolamento social começaram há três semanas, quando o comércio e as escolas foram fechados. Meu pai gerencia uma loja, eu sou estudante e minha mãe é professora. No começo, estávamos contestando as práticas adotadas. Íamos mais vezes ao supermercado e sem máscaras. Diante da piora do cenário e das recomendações do ministério da Saúde, aumentamos nossa preocupação e as práticas de isolamento. Só saímos quando necessário, com máscaras e um frasco de álcool em gel no carro. Quando chegamos em casa, tudo é higienizado. Até os calçados estamos deixando do lado de fora. (Eduardo Moya, Londrina/PR)

Moro sozinho, tenho 67 anos e desde o dia 22 de março estou dentro de casa. Não saio para nada; quando necessito de remédios, comida, minha enteada me traz, graças a Deus. Para mim, não mudou nada desde que o isolamento começou. Más está difícil; estou conversando com cachorro, geladeira, portas... Por enquanto está dando para levar. Acredito que vai piorar quando eles responderem. (Gilberto Rabello, Caçapava/SP)

Sou policial civil e estou trabalhando nesse período. Tenho um filho de onze anos que não saiu de casa desde o início da quarentena. Estamos tomando todo o cuidado possível para cumprir as regras estabelecidas pelo governo de São Paulo. Porém, tenho observado no dia a dia que muitas pessoas estão afrouxando as regras. Percebo um aumento no número de carros circulando e no de pessoas fazendo caminhada e corrida nas ruas e parques da minha cidade. (Jones Cordeiro, Campinas/SP)

Tenho 59 anos. Tenho levado minha vida normalmente; saio, vou a supermercado e padaria sem nenhum problema. Na minha opinião, esse isolamento que o governo está impondo no estado só traz desgaste, tanto à população quanto à economia do estado e do Brasil. Sou a favor da abertura de todo o comércio. Tem que restringir as pessoas de idade! (Mario Celso Corrêa Guimarães, Taubaté/SP)

Desde que comecei a cumprir a quarentena, há cerca de um mês, afrouxei um pouco o isolamento. Mas mais por necessidade de garantir o abastecimento de comida e medicamento para meus pais, que são idosos. No início, minha cidade fechou o comércio e estendeu a recomendação para ficar em casa; no entanto, apenas durante uma semana funcionou. Posteriormente, a população começou sair às ruas, também em virtude do afrouxamento pelos decretos que ampliaram os estabelecimentos considerados de utilidade essencial, como lotéricas. O resultado do relaxamento das medidas de precaução já se encontra visível na nossa cidade, com o aparecimento de sete casos. (Pedro Bormio, Apucarana/PR)

Aqui na minha cidade, as atividades estão voltando como se nada estivesse acontecendo. O prefeito começou com um trabalho super legal, incentivando o isolamento, até que no dia 9 de abril soltou um novo decreto relaxando o isolamento por pressão dos lojistas e comerciantes. As pessoas também não estão respeitando, achando que é "só uma gripezinha", e seguem acreditando ser mentira da mídia o que está acontecendo. Nas cidades vizinhas, as coisas também estão difíceis de segurar. Alguens têm consciência mas não querem parar, e tem aqueles que querem parar, mas são obrigados a trabalhar, caso da minha mãe e do meu sogro –ambos sem redução de horário e trabalhando com público. (Carolina Rosental Pelegrini, Caxambu/MG)

Eu e minha esposa temos 60 anos, alimentação saudável e bons hábitos. Nossa filha, de 34 anos, mora conosco e está se recuperando de uma tromboembolia pulmonar. Temos conosco minha sogra, de 92 anos, debilitada por uma herpes zóster. Nossa decisão foi por entrarmos em isolamento social, e nos mantemos nele há 30 dias. Decidimos que vamos sair dessa crise melhor do que entramos. Estamos participando de palestras e de cursos pela internet. Eu faço atividades físicas na escadaria do prédio, cinco vezes por semana. Saio muito esporadicamente para ir ao mercado e volto rapidamente. Desenvolvemos novos hábitos de higiene, que queremos manter. Confesso: às vezes, sinto que bate uma certa ansiedade por não poder sair. Chegamos a aventar a possibilitar de voltar gradativamente ao trabalho na nossa loja de shakes, com restrições, mas à primeira argumentação dos filhos, decidimos: é muito melhor viver para recuperar tudo depois. (José Caldas da Costa, Vila Velha/ES)

Tenho 48 Anos e moro em Perdizes. Eu e minha esposa estamos em regime de "auto lockdown" desde o dia 16 de março. Só saimos eventualmente pra comprar algo aqui ao lado de casa, uma vez por semana. (Leandro Pasini - São Paulo/SP)

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