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PSDB contrata empresa para testar novo app que pode ser usado em prévias

Fundação responsável pelo aplicativo original não apresentou diagnóstico sobre fiasco que agravou racha entre Doria e Leite

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Brasília e São Paulo

Após falhas registradas na votação das prévias presidenciais no último domingo (21), o PSDB anunciou a contratação de uma empresa privada que terá o aplicativo testado pelas campanhas dos governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), em substituição à ferramenta da fundação responsável pelo app original.

As campanhas de Doria, Leite e do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (AM) deram aval para testarem o novo aplicativo D.Vota, da RelataSoft, empresa de tecnologia eleitoral que faz parte do projeto Eleições do Futuro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O anúncio foi feito nesta terça-feira (23) na sede do partido em Brasília.

O governador João Doria (SP), o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (AM) e o governador Eduardo Leite (RS) durante debate das prévias do PSDB
João Doria, Arthur Virgílio e Eduardo Leite - Divulgação/Assessoria Doria

Em entrevista à imprensa nesta terça, Doria e Virgílio disseram estar de acordo com o uso do aplicativo alternativo e fizeram elogios ao presidente do PSDB, Bruno Araújo, por dialogar com os candidatos.

Doria afirmou manifestar "nossa posição favorável à nova tecnologia adotada pelo PSDB para que as prévias possam ser realizadas de forma segura, soberana e ampla". O governador paulista ressaltou o acordo entre as campanhas para que as prévias terminem até domingo (28).

Leite também endossou o uso do aplicativo caso os testes sejam positivos e a avaliação das equipes técnicas do partido e das campanhas seja a de que há segurança na ferramenta. O gaúcho afirmou à imprensa não querer que, depois, sua vitória seja contestada.

"Nós queremos a retomada da votação. Temos absoluta confiança de que venceríamos as prévias. [...] É claro que uma série de problemas surgiram nesse processo, questões que ainda precisam ser respondidas, mas entendemos que mais importante de tudo é concluir o processo", disse.

"Todo nosso esforço é no sentido de fazer prévias legítimas, válidas. [...] Confio na capacidade de, com esse esforço do partido, dos técnicos e dos candidatos, buscar através desse modelo de votação a conclusão do processo de prévias. E depois vamos discutir o que tiver acontecido de erros e problemas e o quanto eles comprometem o processo ou não", completou.

No último domingo, o PSDB fez uma votação híbrida.

Num evento em Brasília, feito para anunciar o vencedor, mas que terminou de forma melancólica sem os resultados, puderam votar por meio de urnas eletrônicas os prefeitos e vices, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e vices e os ex-presidentes do partido.

Os filiados sem mandato e os vereadores deveriam votar pelo aplicativo, que não funcionou. A votação, que seria das 7h às 15h, foi ampliada para 18h e acabou suspensa. Outros tucanos do alto clero que não viajaram a Brasília e preferiram votar pela ferramenta online tampouco conseguiram votar.

Nesta terça-feira, a RelataSoft afirmou ter condições técnicas de iniciar prévias já na quarta (24) pela manhã, mas indicou que a decisão depende do PSDB.

A retomada das prévias por meio do aplicativo original, desenvolvido pela Faurgs (Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul), já é descartada nos bastidores. Oficialmente, porém, o app da Faurgs ainda não foi dispensado.

Na entrevista, Doria disse apoiar a decisão —ainda não formalizada— de Bruno Araújo na escolha de uma empresa "capacitada, qualificada, identificada por ele e pelos assessores do partido como uma empresa idônea, correta e capacitada a realizar esse trabalho".

Araújo havia dado até meio-dia desta terça para que a Faurgs se posicionasse sobre a possibilidade de sanar as falhas e concluir o processo de votação. A reunião com a Faurgs, virtual, atrasou e começou depois desse prazo.

A ideia era que a empresa dissesse se havia conseguido identificar o que provocou a falha no domingo e anunciasse a viabilidade de dar prosseguimento ao processo. No entanto, o diagnóstico não foi apresentado. A hipótese de um ataque hacker não está descartada pelo partido.

Em entrevista na noite desta terça, Araújo não descartou completamente o aplicativo da fundação, mas afirmou que o partido avançou em negociações com empresas privadas para que novas ferramentas sejam testadas pelas campanhas.

"Estamos em conversas paralelas com uma segunda empresa, com uma terceira empresa, se essa [a RelataSoft] não passar por razão de avaliação [das campanhas], nós já temos mais duas empresas em processo de conversação com o partido", disse.

"O [app] da fundação é um processo paralelo. Se ele acontecer de se habilitar antes de tudo isso, ele pode ser usado. Mas nós não vamos ficar sentados, parados, esperando só essa solução", afirmou Araújo, acrescentando que o PSDB devia "um respeitoso pedido de desculpas" aos filiados.

Ele afirmou que, se os testes forem bem-sucedidos, a votação poderia começar "no mais tardar" na quinta-feira (25).

Mais cedo, o partido divulgou uma nota afirmando ter sido "vítima de um problema técnico nas prévias" e disse que buscava "meio para retomá-las".

"Entre as possibilidades, já há empresa que será submetida ao teste de estresse por todas as candidaturas. Mais alternativas estão em análise", disse.

Se o D.Vota, da RelataSoft, passar nos testes realizados pelas três campanhas, a empresa poderá iniciar o plano de votação, que abrange os cerca de 40 mil filiados que não conseguiram votar pelo app da Faurgs no último domingo.

No início do processo das prévias, o PSDB decidiu desenvolver do zero um aplicativo de votação próprio porque tinha a intenção de doá-lo aos demais partidos, incentivando prévias em outras legendas.

A ideia era alavancar o PSDB como o partido com expertise em votações internas, uma referência nacional numa iniciativa inovadora —imagem que já naufragou.

Agora, com o app da Faurgs em xeque, a solução de utilizar um app pronto impede a doação posterior. De acordo com membros do PSDB, como a ideia é apenas "alugar" o app da RelataSoft, o custo será de até R$ 400 mil.

O contrato com a Faurgs, para criar o app, foi de cerca de R$ 1,3 milhão, sendo que aproximadamente metade do valor já foi paga. O partido não descarta renegociar o restante, alegando que a ferramenta não cumpriu seu propósito.

Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite
Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, durante coletiva na sede do PSDB, antes de uma reunião com a direção do partido na segunda-feira - Pedro Ladeira/Folhapress

Na segunda, após Araújo sinalizar a possibilidade de substituição do aplicativo da Faurgs, Leite afirmou que o processo das prévias estava perdendo credibilidade e que não havia concordado com a possibilidade de troca da ferramenta. Já nesta terça, passou a endossar o teste do novo app.

A suspensão da votação agravou a divisão interna entre Doria e Leite. A disputa está acirrada, e o resultado está em aberto. Virgílio não tem chances de vencer e, na prática, se alia a Doria.

Uma vez escolhido o app, a ideia seria fatiar a votação em mais de um dia —separando a votação de políticos com mandato e, em seguida, de filiados.

Neste cenário, as campanhas pressionam por ritmos diferentes. Enquanto Doria e Virgílio propuseram retomar a votação no próximo domingo, a campanha de Leite quer a retomada mais imediata.

A avaliação de aliados de Leite é a de que o tempo corre contra o gaúcho, já que a capacidade de mobilização do PSDB de São Paulo é maior. Ou seja, Doria poderia virar mais votos até domingo.

Leite vem fazendo acusações a respeito de compra de votos e pressão do time de Doria sobre tucanos em São Paulo. O caso mais conhecido é a demissão do então secretário de Habitação da capital paulista, Orlando Faria, após declarar voto no gaúcho.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25% da pontuação: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

São Paulo, pela concentração de mandatários e filiados cadastrados, larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

O saldo de domingo para o PSDB foi de vexame e mais tensão entre Doria e Leite, que trocaram acusações. Como mostrou o Painel, líderes de partidos da chamada terceira via veem o PSDB em frangalhos —uma união da sigla em torno do vencedor das prévias parece cada vez mais distante.

Araújo informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais dos grupos de votação, foram dados no domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados estão blindados e não serão apurados até que haja a votação complementar.

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