MST elege 6 deputados para Câmara e Assembleias, e MBL tem 2 vitórias

Movimento Sem Terra quer retomar agenda da reforma agrária, e grupo liberal se diz 'de pé' após caso de Arthur do Val

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Guarulhos

Alvo em discursos de Jair Bolsonaro (PL) antes mesmo de o presidente chegar ao Planalto, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) elegeu seis deputados federais e estaduais. O resultado recorde vem após o movimento ligado à esquerda registrar o maior número de candidaturas de sua história —15 no total.

Já o MBL (Movimento Brasil Livre), associado à direita liberal, mas que nos últimos anos se distanciou do bolsonarismo, manteve a vaga que tinha na Câmara com um de seus fundadores, Kim Kataguiri (União Brasil-SP), e elegeu Guto Zacarias (União Brasil) para a Assembleia Legislativa paulista. Ao todo, sete candidaturas foram lançadas.

Valmir Assunção, do MST, reeleito deputado Federal pela Bahia com 90.148 votos - Divulgação/MST

Pelo MST, Valmir Assunção (PT-BA) e Marcon (PT-RS) se reelegeram deputados federais. Assunção foi pioneiro na participação do movimento na política institucional —antes da Câmara, esteve no Legislativo baiano por dois mandatos, de 2005 a 2010.

O resultado foi recebido pelo movimento como "uma vitória política, não eleitoral", diz à Folha João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional. "Estamos no melhor momento do MST com a sociedade."

O movimento avalia que teve êxito ao ampliar o diálogo sobre a reforma agrária, em especial por meio do debate ligado à produção agroecológica, que angariou apoio de artistas nos últimos meses, e do avanço da fome no país. Ainda assim, a presença do PL como maior bancada no Congresso deve dificultar o avanço de pautas do grupo.

Há ainda chance de que o movimento reeleja o deputado federal João Daniel (PT-SE), elevando o número de vitórias para sete, a depender da definição de candidatos que concorreram sub judice em Sergipe. Deputado federal desde 2015, ele somou 68.969 votos no atual pleito.

Nas disputas estaduais o MST conseguiu a eleição de Adão Preto no Rio Grande do Sul, Missias no Ceará, Rosa Amorim em Pernambuco e Marina no Rio de Janeiro, todos pelo PT. "Estados emblemáticos para nós", afirma João Paulo.

Parte da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o movimento credita a um possível governo petista a possibilidade de retomar a agenda de reforma agrária, travada sob Bolsonaro.

Lula tem feito menção ao tema durante a campanha e em debates presidenciais. No plano de governo, o PT diz estar "comprometido com a soberania alimentar, com reforma agrária e ecológica".

Do lado do MBL, com candidaturas concentradas no Sudeste e no Sul do país e campanhas centradas no rechaço ao fundo eleitoral, Kim Kataguiri somou 295.460 votos, ficando em oitavo lugar entre os mais votados para deputado federal por São Paulo. Em Brasília, vai assumir aquilo que descreveu no domingo como "um fardo".

"Carrego o mandato como um fardo, uma responsabilidade gigantesca, não um prêmio ou um presente", disse, em vídeo a apoiadores após a divulgação dos resultados. Referindo-se de forma indireta ao segundo turno, disputado por Lula e Bolsonaro, afirmou que "não há o que comemorar". "Independente do que aconteça, nosso país não vai ver uma situação fácil."

À Folha Kim diz considerar seu grupo "um sobrevivente". "Do liberalismo, só sobrou a gente; a eleição mostrou que quem não estava no colo do petismo ou do bolsonarismo, ou não encheu a campanha de dinheiro público, ficou ‘espremido’."

O objetivo do MBL para o próximo ano é expandir a influência pelo país. "Queremos ao menos um candidato em todos os estados; se possível, já em 2024", ele diz. Para o segundo turno, orientam sua militância a votar nulo.

Guto Zacarias, eleito com 152.481 votos para a Assembleia paulista, descreve-se em uma rede social como o "negão capitalista". Contra cotas raciais, ele é neto de José Benedito Correia Leite (1900-89), importante líder do movimento negro brasileiro que, nos anos 1930, ajudou a criar a Frente Negra Brasileira, entidade dedicada ao combate ao racismo.

Também ligado ao MBL, Cristiano Beraldo (União Brasil-SP) não conseguiu ser eleito para a Câmara —ficou como suplente. Amanda Vettorazzo (União Brasil-SP), Renato Battista (União Brasil-SP) e João Bettega (Novo-PR), outros nomes do movimento, também não conseguiram se eleger para vagas nas Assembleias estaduais.

Ainda que tenha alçado apenas duas de suas candidaturas a cargos políticos, o MBL disse, em nota, que "continua de pé". "Mesmo com a crise no início do ano, ataques sucessivos da esquerda e independente da briga ideológica do Executivo", diz o texto.

Em março, Arthur do Val, o Mamãe Falei, um dos membros mais conhecidos do grupo, deixou o MBL após virem à tona áudios seus de cunho sexista dizendo que mulheres da ucranianas "são fáceis porque são pobres". Ele também teve o mandato cassado pela Alesp –com isso, perdeu os direitos políticos e ficou inelegível por oito anos.

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