Em 7 pontos, entenda tensa relação entre Lula e MST

Movimento volta a invadir área da Embrapa e acusa governo petista de descumprir acordos

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São Paulo

Após formar novo acordo com o governo federal nesta segunda-feira (31), o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) deixou a invasão realizada no mesmo dia em fazenda da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Petrolina (713 km do Recife).

A entidade havia acusado o governo Lula (PT) de descumprir os acordos firmados após a invasão das mesmas terras federais em abril deste ano, durante a chamada Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária, conhecida como abril vermelho.

Em abril passado, uma série de ações do MST provocou reações não apenas do agronegócio, mas também do próprio governo. Além disso, a Câmara criou uma CPI para investigar a atuação do MST.

O presidente Lula na campanha eleitoral de 2022
O presidente Lula na campanha eleitoral de 2022 - Ricardo Chicarelli-19.mar.22/AFP

O presidente e o MST têm uma relação histórica, em geral de aliança, mas também recheada de atritos.

No meio de seu segundo mandato (2007-2010), por exemplo, Lula foi chamado por eles de "traidor". A relação depois ganhou peso com o apoio dos sem-terra a Lula na Lava Jato e nas eleições de 2022.

Entenda em 10 pontos a crise atual entre governo e movimento dos sem-terra.

1) Qual o objetivo do MST com essas ações? O movimento pressiona o governo Lula a apresentar um plano de ações de reforma agrária para os próximos quatro anos e atender à demanda das famílias acampadas e assentadas. O MST está insatisfeito com a lentidão da gestão federal com o tema.

A entidade estima que cerca de 100 mil famílias vivem em acampamentos no Brasil. Destas, 30 mil estão em áreas em processo de regularização que não foram concluídos pelo Incra.

Nas conversas com o governo, o MST argumenta que é papel do movimento pressionar para que a reforma seja uma prioridade de fato do Executivo.

2) Quais ações mais irritaram o governo? Especialmente as ações em propriedades da empresa Suzano, na Bahia e no Espírito Santo, e em terras em que a Embrapa realiza experimentos, em Pernambuco. O movimento diz que são latifúndios improdutivos.

A área da Embrapa foi desocupada no final de abril, mas voltou a ser alvo do MST nesta segunda-feira.

3) Como Lula reagiu? A onda de invasões de abril irritou o presidente. Ele teme que as ações desse tipo causem desgaste para o governo, principalmente com o agronegócio. Há receio também de que esse movimento atrapalhe o andamento de pautas de interesse da gestão Lula no Congresso.

Na prática, porém, o governo tem dado sinais de ceder à pressão.

As nomeações de novos superintendentes locais do Incra ganharam tração em abril dias após uma série de invasões e protestos liderados pelo MST. Foram trocados os comandos do Incra em uma série de estados.

4) E o PT? Lideranças petistas afirmam que o MST sempre foi um parceiro importante do partido, mas reclamam nos bastidores da postura adotada desde o início do terceiro governo Lula.

A avaliação é a de que o Executivo tem enfrentado uma série de desafios, como no caso da invasão nas sedes dos três Poderes em 8 de janeiro e que não seria correto um aliado abrir uma nova frente de crise.

5) De quando é o MST? O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi criado em 20 de janeiro de 1984 e, um ano depois, no primeiro congresso dos sem-terra, elegeu a sua primeira direção nacional.

Esse primeiro comando dos sem-terra se formou com 18 homens e 2 mulheres. Eles e elas representavam os dez estados nos quais o movimento estava organizado (RS, SC, PR, MS, SP, RJ, MG, ES, BA e RO).

6) Por que o MST costuma realizar mobilizações em abril? As invasões no mês de abril marcam o aniversário do massacre de Eldorado do Carajás, quando, em 16 de abril de 1996, 19 trabalhadores sem-terra foram mortos por tropas da Polícia Militar do Pará. O massacre é um símbolo nacional e internacional de impunidade, e as ações dos sem-terra desde então passaram a ser chamadas de "abril vermelho".

7) Lula tem dívida com o MST? Sim. O presidente carrega um histórico de promessas de que faria a reforma agrária na marra e na "canetada". Nunca fez. Em seus dois mandatos anteriores fez um programa simplista de desapropriar terras a esmo, criando assentamentos sem infraestrutura e longe das bases acampadas do MST.

Lula, por exemplo, nunca cumpriu a promessa de atualizar os índices agropecuários usados para medir a produtividade de fazendas passíveis de desapropriação para a reforma agrária.

Além disso, Lula tem uma dívida política com os sem-terra. Foram eles que ajudaram a liderar as mobilizações a favor do presidente no auge da Lava Jato e no período em que ele ficou preso na Polícia Federal de Curitiba. O MST também mobilizou suas bases para a campanha eleitoral do ano passado.

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