Ministros de Lula pregam conciliação de interesses do MST e do agro em feira do movimento

Titulares das pastas da Secom, Trabalho e Secretaria-Geral, além do governador da Bahia, participaram de evento em SP

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São Paulo

Três ministros do governo Lula (PT) participaram neste domingo (14) do último dia da feira nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em São Paulo, e defenderam uma conciliação das pautas do movimento social e do agronegócio.

Estiveram no evento os ministros Paulo Pimenta (Secom), Luiz Marinho (Trabalho) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e congressistas petistas.

A feira teve seu ato político de abertura na sexta (12) sem a presença de ministros petistas, mas desde o sábado aumentou a presença de representantes da legenda e do governo no evento organizado no parque da Água Branca, na zona oeste da capital paulista.

De pé, o ministro da Casa Civil Rui Pimenta (PT) discursa em feira do MST em São Paulo
O ministro Paulo Pimenta discursa em feira do MST em São Paulo - Flávio Ferreira/Folhapress

Paulo Pimenta falou à imprensa antes de discursar e foi indagado sobre qual a estratégia do governo para conciliar as pautas do MST e do agronegócio.

"O governo do presidente Lula é um governo plural, em todas as áreas. O desafio nosso é criar uma síntese, que seja a mediação entre diferentes visões. O Lula é um conciliador, que busca a unidade, e não vai ter nenhuma dificuldade para chegar nesse ponto de equilíbrio", respondeu Pimenta.

Na mesma linha da manifestação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, feita no sábado (13), o ministro da Secom disse que a CPI do MST na Câmara dos Deputados vai ter um efeito inverso do esperado pelos parlamentares da oposição ao governo Lula.

"Muita gente não conhece o MST. O MST como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, como grande produtor de alimento. O MST vai sair dessa CPI mais respeitado, tendo mais visibilidade. Aqueles que imaginam que essa CPI é um espaço para atingir o MST, vão dar um tiro no pé", declarou.

Após discursar no evento, o ministro Marinho disse que "há espaço para o agro e há espaço para a pequena produção e movimentos que trabalham com a terra, como o MST. Não há nenhuma preocupação de nossa parte com essa agenda".

"O agro vai ter o seu espaço, como está tendo, o Banco do Brasil, as ações de governo, o próprio BNDES trabalhando essas agendas. Mas precisamos cuidar bem do agro e cuidar bem dos movimentos e da pequena produção", completou.

O secretário-geral da Presidência, Márcio Macêdo, reforçou o posicionamento conciliador do governo.

"Não vejo nenhuma contradição entre as pautas. É muito mais disputa política, é muito mais incentivo ao ódio que foi feito no país. Cada um tem um papel na economia do país", afirmou.

Segundo o ministro, o MST "é um movimento social para quem tem o olhar da democracia. Não é caso de polícia nem de investigação. É caso de políticas públicas. O agronegócio tem um papel importante de aumentar o PIB do país. Dá para incentivar as duas coisas e fortalecer o país".

O governador Jerônimo Rodrigues disse que a presença dele e dos ministros de Lula na feira do MST é um sinal da intenção do governo de manter bom diálogo com o movimento social e que no estado dele também há uma busca por uma boa relação com o agronegócio.

"Teremos agora um evento nacional em Luís Eduardo Magalhães [cidade no interior da Bahia], que é a feira do agronegócio da Bahia. Estarei lá, e inclusive Lula disse que vai. Minha identidade é muito forte dentro do movimento social, mas na condição de governador não posso me furtar de estabelecer as relações necessárias para fortalecer a política do agronegócio", afirmou.

No sábado, Paulo Teixeira foi o primeiro ministro petista a visitar a feira. Na ocasião ele afirmou que as tensões do governo Lula com o movimento estão superadas.

O conflito teve início após invasões na área da estatal Embrapa e em terras da empresa Suzano, em abril. Segundo o ministro, o episódio está superado.

"Ali, naquele momento [das invasões], nós pedimos que eles se retirassem das áreas da Embrapa e da Suzano, e eles se retiraram. Estabelecemos uma mesa de negociação em torno das áreas. Estão superados esses problemas, e bola para frente", disse o ministro.

Teixeira também comentou as críticas feitas pelo dirigente do MST João Pedro Stedile, que em entrevista à coluna Mônica Bergamo, da Folha, afirmou que o governo federal está "lento" e que o MST, ainda que defendendo o presidente, aumentará a "pressão social".

Segundo o ministro, os governos anteriores de Michel Temer e Jair Bolsonaro "extinguiram o MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário] e não desapropriaram um centímetro de terra para reforma agrária, e isso gerou um represamento imenso na luta pela reforma agrária, pessoas morando em acampamento à beira da estrada no Brasil inteiro".

"Então seria natural que tivesse essa pressão, mas já estamos com um plano emergencial pronto para ser lançado agora no mês de maio", disse.

Em discurso no palco principal do evento, Teixeira atacou a CPI em curso na Câmara dos Deputados que tem o MST como alvo.

"Querem uma CPI para investigar o MST. Mas acho que vão achar coisas interessantes. Vão ver que ali tem suco de uva que não tem trabalho escravo. Vão encontrar produtos que não têm agrotóxico. Vão encontrar soja não transgênica", ironizou.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), também visitou a feira no sábado, mas não subiu ao palco para falar ao público.

"Sempre venho nas feiras. Aliás, na primeira feira, eu era governador. Tinha até uma resistência de poder utilizar o parque da Água Branca, nós autorizamos e eu vim aqui todos os anos. Não precisa fazer discurso, não sou muito da ribalta", disse Alckmin ao ser indagado sobre o fato de não ter discursado.

A feira foi aberta na sexta-feira (12) sem a presença de ministros petistas. Apenas o ministro Márcio França (PSB), de Portos e Aeroportos, representando o governo Lula, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, representando o chefe da pasta, Fernando Haddad, compareceram.

A exemplo do sábado, a 4ª feira nacional do MST teve grande público no domingo, com aglomerações na praça de alimentação e pavilhões de exposição de produtos. A organização da feira estimou o público em 320 mil pessoas nos quatro dias do evento.

Para o encerramento da feira estão previstos shows de Chico César, Lenine, Tulipa Ruiz e Liniker, entre outros, na noite deste domingo.

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