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RenovaBR ganha dimensão de partido e mira 2024 com nomes do PT ao PL

Escola privada de formação de políticos abriu seleção para interessados em disputar eleições municipais

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São Paulo

Seis anos e três eleições depois de sua criação, a escola de novos políticos RenovaBR adquiriu alcance comparável ao de partidos —com centenas de ex-alunos em funções nos diferentes níveis de poder— e começou a selecionar candidatos para as disputas municipais do ano que vem.

A ausência de agendas específicas é o argumento usado pela instituição privada para desestimular a comparação com legendas tradicionais, mas a analogia cabe quando se olham os números da organização suprapartidária, que abriga representantes das 31 siglas em atividade no país.

A CEO do RenovaBR, Patricia Audi - Jardiel Carvalho - 23.jun.22/Folhapress

Juntos, candidatos formados pelo Renova amealharam 6,8 milhões de votos nas eleições de 2022, espalhados por 20 estados. Há hoje 635 integrantes em cargos eletivos, administrativos e partidários, desde vereadores em rincões até membros do alto escalão federal em Brasília.

Dos 174 mandatários (em exercício de mandato), a maioria (140) é de vereadores, mas também há prefeitos, vices, deputados estaduais e federais e um senador, Alessandro Vieira (PSDB-SE).

No total, quase 2.100 pessoas frequentaram os cursos gratuitos de formação teórica e estratégia de campanha, bancados por doadores que apoiam o projeto fundado em 2017 pelo empresário e investidor Eduardo Mufarej. Ele é agora integrante do conselho executivo, ao lado de figuras como o apresentador Luciano Huck, o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e a economista Ana Carla Abrão.

Nesta terça-feira (9), o Renova abriu as inscrições do processo seletivo para os que pensam em concorrer em 2024. Uma lista prévia já contava com 7.800 interessados em entrar na instituição, que ajudou a projetar novatos como Tabata Amaral (PSB-SP), Luiz Lima (PL-RJ) e Vinicius Poit (Novo-SP).

O cadastro, aberto até 28 de julho, é seguido de testes que aferem, por exemplo, integridade e espírito de liderança. Pessoas de qualquer partido e também sem filiação são aceitas, desde que se comprometam a seguir os princípios democráticos e queiram discutir política com base em dados e evidências.

"Nós temos tantas pessoas que pensam diferente que seria difícil imaginar algo como uma legenda partidária com ideologia única", diz Patricia Audi, que desde janeiro é CEO da escola e costuma falar na amplitude "do PT ao PL" para se referir à pluralidade da rede.

Uma novidade da atual seleção é que agora também pode se inscrever quem já tenha exercido um mandato. Antes, só inexperientes podiam entrar. A nova regra atende a ex-alunos que tenham sido eleitos e estejam em busca da formação para prefeitos e vereadores, com aulas virtuais e presenciais.

"Estamos aqui para ajudar os novos, mas também os bons que já estão na política e querem se aperfeiçoar", afirma a diretora-executiva. Serão criadas duas turmas (uma no próximo semestre e outra no início de 2024). O número de vagas ainda será definido.

Critérios como gênero, raça e região também são considerados na peneira. Do total de participantes até hoje, 34% foram mulheres e 39% foram pretos, pardos ou indígenas, conforme dados internos. Numa segunda fase da escolha, a entidade vai abordar figuras com potencial sugeridas por ex-alunos e partidos.

Patricia, em mais de 30 anos de carreira, combinou passagens pelo setor público e pela iniciativa privada —até o ano passado era vice-presidente do banco Santander no Brasil. Ex-servidora concursada, ela também combateu o trabalho escravo como líder local da Organização Internacional do Trabalho.

No Renova, tem buscado diálogo com partidos para quebrar resistências ao grupo, valendo-se da experiência de quem já trabalhou direta ou indiretamente com políticos de diferentes espectros, como José Múcio Monteiro, Eliseu Padilha, Flávio Dino, Valdir Simão, José Gregori e Rodrigo Neves.

A executiva sucedeu Irina Bullara, que hoje presta consultoria ao PSDB no plano de renovação do partido.

No Brasil, os partidos detêm a exclusividade da participação eleitoral, e a filiação é condição obrigatória para quem quiser concorrer. O Renova já foi criticado por siglas como PDT e Novo, que ensaiaram vetar egressos do curso alegando risco de interferência. Hoje, o clima é mais amigável.

A intenção, segundo Patricia, é mostrar que a escola pode contribuir na identificação e formação de novos líderes, como um complemento ao trabalho dos partidos. "Eles têm visto com bons olhos."

Em sua trajetória, a escola estreou nas urnas em 2018, numa eleição marcada pelo discurso antissistema e pela rejeição aos políticos, passou por 2020 e a excepcionalidade da pandemia, que atravessou o pleito e iluminou gestores experientes, e chegou até 2022, sob a polarização que ainda se faz presente.

Patricia, que indica concordar com o diagnóstico, diz que "não há melhor forma de melhorar a política a não ser pela política". Logo após os atos golpistas de 8 de janeiro, ela afirmou em entrevista à Folha que o ataque reforçava "a importância da existência de escolas de democracia e de liderança política".

Com trânsito no Congresso, Patricia evita comentar a dificuldade do governo Lula (PT) para ter base de apoio. A CEO faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, o Conselhão. Quando compunha a gestão Michel Temer (MDB), ela chegou a ser secretária-executiva do colegiado.

Além da preparação de novos quadros, a entidade vem intensificando a assistência a apadrinhados que estão em cargos públicos, mas nega interferência ideológica —temor apontado no início por detratores do projeto. O Renova diz se tratar de um acompanhamento técnico sobre temas relevantes.

Em fevereiro, foi promovido em Brasília um seminário sobre reforma tributária com a participação de Bernard Appy, secretário do Ministério da Fazenda. Na plateia estavam parlamentares como Tabata, que é deputada e pré-candidata a prefeita de São Paulo, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

A instituição oferece algumas de suas atividades para políticos que não foram seus alunos, caso de Moro, no intuito de ajudar a qualificar os debates. Um encontro sobre sustentabilidade e economia de baixo carbono ocorrerá neste mês, também aberto para parlamentares desvinculados da escola.

"Num momento de polarização, nós podemos abranger pessoas com pensamentos diferentes, dos mais variados espectros ideológicos, e trazer para a sala de aula, para um ambiente de conhecimento. Queremos ajudar a discutir um projeto de país", diz Patricia.

Alguns ex-alunos que são mandatários ou ocupam cargos de gestão

  • Camila Jara (PT-MS), deputada federal
  • Daniel Soranz (PSD-RJ), deputado federal
  • Guto Zacarias (União Brasil-SP), deputado estadual
  • Luiz Lima (PL-RJ), deputado federal
  • Marina Helou (Rede-SP), deputada estadual
  • Pedro Aihara (Patriota-MG), deputado federal
  • Samuel Viana (PL-MG), deputado federal
  • Tabata Amaral (PSB-SP), deputada federal
  • Augusto de Arruda Botelho (PSB-SP), secretário nacional de Justiça
  • Joenia Wapichana (Rede-RR), presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas)
  • Felipe Rigoni (União Brasil-ES), secretário estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo
  • Lucinha Mota (PSDB-PE), secretária estadual de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco
  • Rossieli Soares (PSDB-SP), secretário estadual de Educação do Paraná
  • Washington Bonfim (PSB-PI), secretário estadual de Planejamento do Piauí
  • Aline Torres (MDB-SP), secretária municipal de Cultura de São Paulo
  • Marcelo Calero (PSD-RJ), secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro
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