Lira defende que governo Lula dê ministérios a outros partidos para aumentar base

Presidente da Câmara, no entanto, diz que não pediu ao Executivo ministérios ou emendas

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Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que fez alertas ao presidente Lula (PT) da insatisfação dos parlamentares com a relação do Executivo com a Casa e defendeu que o petista dê espaço em seu ministério para mais partidos para aumentar sua base de apoio no Congresso Nacional.

Em entrevista à GloboNews na tarde desta quinta-feira (1º), o parlamentar afirmou que o governo federal se predispôs a montar a sua base parlamentar dando ministérios para partidos que o apoiaram na campanha, além de MDB, PSD e União Brasil —e defendeu que é lógico que essa alternativa possa ser usada a outras legendas no intuito de aumentar a base.

"É lógico que em uma conversa entre líderes, parte da articulação política ou com o presidente da República ou com o presidente da Câmara, que essa mesma solução seja dada para outros partidos que ele queira [para] aumentar a base. O que há de errado nisso? O que há de diferente nisso? O que há de estranho nisso?", afirmou Lira.

O presidente da Câmara, Arthur Lira
O presidente da Câmara, Arthur Lira - Pablo Valadares - 24.mai.23/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, no entanto, disse que não reivindicou ao governo ministérios ou emendas e que não pediu a demissão de nenhum ministro, referindo-se às notícias de que ele teria pedido a cabeça do ministro Renan Filho (Transportes), filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário de Lira.

Integrantes do Planalto atribuíram ao que chamaram de "questões paroquiais", resultado de uma disputa em Alagoas entre Lira e Renan, o receio de que o presidente da Câmara não atuasse para ajudar o governo na votação da MP da Esplanada.

No Twitter, o senador chamou Lira de caloteiro, o acusou de desviar dinheiro público e também de ter batido na ex-mulher Julyenne Lins. O presidente da Câmara mandou recado ao Planalto de que considerava inadmissíveis as declarações do senador da base de Lula e que o governo estava sendo leniente ao manter o filho dele, Renan Filho, à frente do Ministério dos Transportes.

Na entrevista desta quinta, Lira afirmou que pediu ao governo "respeito" diante das declarações de Renan e reciprocidade a um tratamento institucional que "sempre tive na minha vida". Ele disse também que "nunca" confundiu sua atribuição e seu cargo para trazer questiúnculas locais para Brasília."

"[Notícia de que] Eu teria pedido a cabeça de um ministro porque o seu pai se destemperou e faltou com respeito. Então essa fala eu pedi respeito. De aliados do governo que nós tenhamos ou não divergências paroquias, nunca as trouxe para Brasília (...) e pedi ao governo que agisse de forma a moderar esses excessos."

Ele voltou a dizer que o presidente da Câmara atua como um "facilitador" e que tem certeza que o governo sabe que ele tem ajudado o Executivo —e que espera que a votação da MP da Esplanada tenha servido como "um ensinamento" para o Planalto.

"O governo, sem uma maioria no Parlamento, não pode achar que partidos independentes são obrigados a pautar e a votar matérias de interesse do seu governo. Espero que o dia de ontem tenha servido de ensinamento."

Lira disse que alertou o petista sobre as dificuldades do governo na articulação política com o Congresso em ligação na manhã de quarta, e que agora ele é "conhecedor de todas as dificuldades". Ele afirmou que o presidente se comprometeu a conversar com seus ministros para "trazer o assunto para uma normalidade".

O parlamentar afirmou que espera que Lula capitaneie a formação da base do governo a partir de agora ("habilidade ele tem") e que os alertas que tenham sido dados até o momento sirvam para chacoalhar o governo e para que ele "realmente se posicione".

"Mais uma vez eu digo: sem base, sem maioria, não temos como ter uma ditadura de impulsionamento nem fazer com que o Congresso vote a força. São Poderes independentes, harmônicos, mas absolutamente independentes."

Lira disse ainda que o clima na Câmara era de derrotar a medida provisória como recado ao governo, que as conversas com líderes partidários desde o começo da semana foram muito duras e que o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) foi "decisivo" no processo.

"Zé Guimarães empenhou o seu mandato de líder da Câmara, ele foi bem decisivo, junto com o presidente Lula, porque praticamente disse que se o governo não mudar a posição de relação com a Câmara ele sabe que vai ter que entregar o cargo de líder porque ele perdeu toda a condição."

"Como eu se o governo não participar de uma interação maior da formação da articulação da base. Eu perderei daqui para frente toda a condição de fazer apelos como eu fiz ontem aos líderes que me atenderam", seguiu.

Na noite de quarta (31), os deputados federais aprovaram a MP que reestrutura o governo, evitando a maior derrota do presidente Lula no Parlamento até o momento, após ter emparedado o petista e criticado a articulação política do Executivo.

Horas antes da votação no plenário da Câmara, o clima ainda era de risco elevado para Lula, que, diante do pior momento da relação com a Câmara, poderia sofrer um revés político histórico —o que forçaria o petista a refazer toda a estrutura do governo com apenas cinco meses de mandato.

"Há uma busca clara do governo e, com a minha ajuda, de que o governo consiga fazer a sua maioria. Se não fizer, paciência, vai ter que respeitar os resultados que ali virão quando o governo não tem maioria numa casa parlamentar", disse Lira na entrevista.

Como a Folha mostrou, Lira fez chegar a interlocutores do Palácio do Planalto que não irá pautar projetos de interesse de Lula até que os deputados avaliem que o governo ajustou a articulação política e a relação com a Casa.

Com isso, o presidente da Casa e líderes do centrão adotam uma postura para continuar pressionando o Palácio do Planalto a buscar soluções céleres para atender a pedidos da Câmara, como liberação de emendas, nomeações em cargos e também por mais espaço no governo, podendo inclusive configurar uma reforma ministerial.

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