Lula avalia pedido de cargos e emendas ao negociar saída de Daniela Carneiro

Após dar sobrevida a ministra, governo busca recompensa e clareza do apoio da União Brasil

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Brasília

O presidente Lula (PT) indicou nesta terça-feira (13) que pretende realizar uma troca no comando do Ministério do Turismo, mas deu uma sobrevida à titular da pasta, Daniela Carneiro.

Em reunião com Daniela, o presidente disse à ministra haver um pedido explícito da União Brasil pela mudança e afirmou que, por ela ter pedido desfiliação do partido, é natural que a legenda requisite o cargo.

Segundo interlocutores, Lula ainda não efetivou a troca porque o governo ainda negocia uma "saída honrosa" com o grupo político da ministra, enquanto o Palácio do Planalto busca ter clareza do apoio que a União Brasil dará se o cargo for entregue ao deputado Celso Sabino (PA).

Daniela e seu marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, pediram cargos no segundo escalão no Rio de Janeiro, como o comando da SPU (Secretaria de Patrimônio da União) e de hospitais federais. Também esperam ser recompensados com emendas, em especial na saúde.

Segundo negociadores do governo, é possível que o pleito seja atendido, mas isso ainda está em discussão.

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante audiência pública na Câmara
A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante audiência pública na Câmara - Pedro Ladeira-13.jun.23/ Folhapress

Já com a União Brasil o Palácio do Planalto precisa acertar o que pode ceder ainda ao partido, que já tem três pastas na Esplanada (incluindo o Turismo) e o controle de estatais, como a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).

Além do próprio Ministério do Turismo, a legenda pressiona para comandar a Embratur, hoje presidida pelo ex-deputado Marcelo Freixo (PT-RJ), e os Correios, dirigidos pelo advogado Fabiano Silva, do grupo petista ligado ao Prerrogativas.

A pressão pela saída de Daniela foi motivada por uma demanda da União Brasil quando ela e Waguinho pediram para deixar a legenda.

Desde então, a União Brasil, que integra o grupo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vem pressionando o Palácio do Planalto para substituir Daniela por Celso Sabino. A operação é vista por aliados como um passo importante para Lula conseguir ampliar sua base política na Casa.

A sinalização do presidente de que deve concretizar a troca foi feita à própria ministra e a Waguinho, em reunião no Palácio do Planalto.

O ministro da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), Alexandre Padilha (PT), também participou e, mais tarde, afirmou que o encontro foi para analisar uma demanda "natural" da União Brasil.

"Tem um processo que é natural, de um partido que, avaliando os ministros que indicou, quer rediscutir isso", disse. "Isso é absolutamente natural para quem está no mundo da política. O que importa é que em nenhum momento tem qualquer questionamento sobre o trabalho da ministra Daniela."

Daniela foi eleita deputada pela União Brasil no Rio de Janeiro, mas pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a desfiliação. Ela negocia a ida para o Republicanos.

No início do ano, uma série de reportagens da Folha mostrou a ligação dela e de seu grupo político com milicianos do Rio de Janeiro. À época, Lula minimizou os elos, dizendo se tratar apenas de fotos, o que não é a realidade, já que as relações são amplas e vão além das imagens.

A ministra esteve nesta terça em uma comissão na Câmara e deverá participar de audiência no Senado nesta quarta (14). Lula aguarda que Daniela faça um balanço da sua gestão na reunião ministerial no Planalto prevista para quinta (15).

Após a reunião com o presidente, Daniela minimizou a sua situação política. Em suas redes sociais, escreveu que a reunião foi para tratar dos projetos para fortalecer o turismo.

"Apresentei ao presidente Lula alguns dos projetos e ações do Ministério do Turismo para os próximos meses. Seguimos juntos no trabalho para fortalecer o turismo como vetor de desenvolvimento econômico e social do nosso Brasil", escreveu.

Após a audiência na Câmara, ela disse haver machismo nas pressões por sua saída e declarou que manterá seu apoio a Lula mesmo se vier a ser substituída.

"A especulação também é muito grande, infelizmente. Não pelo governo, mas por alguns aí, a questão do machismo estrutural. Sou da Baixada Fluminense, família muito humilde", afirmou.

Questionada se ela e seu marido manteriam apoio ao governo mesmo em caso de demissão, Daniela disse que ambos são "Lula até o fim".

"Com certeza [manteria apoio]. Eu acredito no presidente Lula, tanto que a gente apoiou o presidente Lula. Quero muito que o Brasil dê certo, tem as condições possíveis para que isso aconteça. Não tenho problema algum, estou à disposição do presidente para servir o Brasil junto com ele. Unidos para reconstruir a política pública do turismo."

A intenção da ala política do governo, com a troca de Daniela por Celso Sabino, é a de amarrar o apoio da maioria da bancada na Casa. Integrantes da União Brasil calculam que, com a mudança, seria possível consolidar os votos de 40 a 45 deputados —de um total de 59 da legenda.

Embora tenha hoje três ministérios, a União Brasil mantém posição independente em relação ao governo. A sigla é criticada pelo entorno do presidente por não entregar votos suficientes no Congresso em pautas importantes para o Planalto.

Parlamentares do partido chegaram a fazer um abaixo-assinado em favor da substituição no Turismo.

Uma ala mais descontente propôs inclusive que a bancada desse um recado mais contundente de insatisfação com a permanência momentânea da ministra no cargo, mas líderes do partido defenderam uma postura mais cuidadosa para resolver as pendências de indicação de Sabino.

Uma das preocupações do governo Lula em encontrar uma saída honrosa para Daniela passa pelo fato de ela e seu marido terem sido relevantes na campanha eleitoral do ano passado, garantindo votos na Baixada Fluminense.

Além disso, há o temor de criar ainda mais indisposição com evangélicos, setor da sociedade mais próximo de Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista à Folha na última segunda (12), quando ainda buscava manter a esposa à frente da pasta, Waguinho deu esse recado.

"É muito ruim trocar uma mulher, evangélica e mais votada no Rio de Janeiro, que defendeu Lula num estado bolsonarista. Pior é colocar um homem e ainda por cima bolsonarista no lugar. Esta troca não está certa", disse o prefeito.

Assim, o governo tem buscado conduzir a saída da ministra com cautela. Após o encontro, o próprio Planalto fez questão de divulgar que ela permaneceria no cargo e apontou os compromissos da ministra na Câmara e na reunião ministerial na próxima quinta.

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