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Tabata se lança à Prefeitura de SP com Alckmin em vídeo e ato em sua laje na periferia

Deputada levou aliados para a casa onde cresceu na zona sul, falou em 'muros invisíveis' e criticou polarização

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São Paulo

Tabata Amaral (PSB) reuniu aliados para lançar sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (25), na casa onde cresceu, na Vila Missionária, zona sul da cidade.

O evento, no aniversário da capital, teve a participação em vídeo do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e um discurso em que a deputada federal falou na existência de "duas cidades" e de "muros invisíveis".

Apoiada por Alckmin, ela tem como principais oponentes Guilherme Boulos (PSOL), que conta com o suporte do presidente Lula (PT), e Ricardo Nunes (MDB), que deverá ter em seu palanque na tentativa de reeleição o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reeditando o embate nacional de 2022.

Deputada Tabata Amaral (PSB) e sua mãe Maria Renilda no lançamento da sua pré-candidatura à Prefeitura de SP na laje da casa da família no bairro Vila Missionária, zona sul
Deputada Tabata Amaral (PSB) e sua mãe, Reni, no lançamento da pré-candidatura à Prefeitura de SP na laje da casa da família, no bairro Vila Missionária - Eduardo Knapp/Folhapress

Como antecipou a Folha, Tabata usou o ato na laje da casa onde ainda mora sua família para apresentar um manifesto que sintetiza as bandeiras de campanha e prega esforços para "superar esse abismo enorme que ainda existe entre os bairros ajardinados do centro e a periferia distante e esquecida".

O texto, sob o título "Uma só cidade", foi exibido na forma de um vídeo gravado por ela no imóvel e em pontos das redondezas. Além do simbolismo da data para o lançamento, a campanha quis reforçar o vínculo da deputada com a cidade, sobretudo a periferia, e a mensagem de combate à desigualdade.

Tabata descreveu São Paulo como "uma cidade dividida, dilacerada pelas diferenças", comparou a riqueza da avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste, com as mazelas do Jardim Ângela, na zona sul, e lembrou que o verde do parque Ibirapuera —perto do prédio onde ela mora, no Itaim Bibi— não é o mesmo da Cidade Ademar, distrito onde foi criada.

O evento foi formatado para exaltar a origem humilde e a história da pré-candidata, que falou dos pais migrantes e fez alusão à ascensão obtida pela educação, mas lamentou que a cidade "da esperança e das oportunidades" seja "a mesma que maltrata" parcelas da população e ignora suas aflições.

A deputada afirmou que o presente que pode dar a São Paulo "é trabalhar e lutar para que essas duas cidades finalmente se encontrem e se tornem uma só", que seja "boa para todo mundo".

Ela, que se define como de centro-esquerda ("Assim como é a cidade historicamente"), tenta desvincular a disputa da polarização entre Lula e Bolsonaro e priorizar questões locais. Elegeu como pautas principais a segurança pública, o transporte e a necessidade de reduzir a desigualdade por meio da educação.

Tabata disse a jornalistas que a polarização não interessa à população porque "não tapa buraco de rua".

Para ela, o debate sobre apoios na eleição é menos importante do que os apoios que um político eleito recebe —e afirmou que, se vencer, tem a certeza de que, por saber dialogar, sua gestão contará com o respaldo tanto de Lula quanto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro.

Tabata reuniu na casa onde mora sua mãe, a recepcionista Maria Renilda, a Reni —que preparou para a ocasião cuscuz e café—, companheiros de PSB como o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, o apresentador José Luiz Datena, cotado para vice na chapa, e pré-candidatos à Câmara Municipal.

Alckmin informou que não conseguiria comparecer por questões de agenda em Brasília, mas apareceu ao vivo por meio do telão, acompanhado da esposa, Lu. A presença dele e de Lula em palanques rivais na cidade já foi alvo de comentário do presidente, que sinalizou ao pessebista incômodo com a situação.

O vice-presidente disse na transmissão que a aliada "representa fé e esperança" e que a capital "vai ter a chance de eleger uma grande prefeita" para "construir uma cidade de união, e não de desigualdade". Ele citou Lula ao comentar a sanção de uma lei proposta pela deputada que cria uma bolsa para estudantes.

Lula tem compromisso oficial na capital paulista nesta quinta-feira, a cerimônia de celebração dos 90 anos da USP (Universidade de São Paulo), à noite, na Sala São Paulo.

Boulos também marcou agenda de campanha para o período da manhã, uma conversa com comerciantes do Mercado Municipal. Nunes também programou ida ao Mercadão, mas à tarde, após participar de festividades pelo aniversário da cidade.

Deputada Tabata Amaral conversa com o apresentador José Luiz Datena e ministro Márcio Franca no lançamento de sua pré-candidatura à Prefeitura de SP na laje da casa da família no bairro Vila Missionaria
Tabata Amaral com o apresentador José Luiz Datena e o ministro Márcio França (ambos do PSB) no lançamento de sua pré-candidatura à Prefeitura de SP, na laje da casa da família, no bairro Vila Missionária - Eduardo Knapp/Folhapress

Em entrevista ao UOL nesta quarta-feira (24), Alckmin chamou Tabata de "menina de grande valor" e disse que Boulos é o favorito, mas não está necessariamente garantido no segundo turno.

"A Tabata tem chance. Vai disputar o segundo lugar. Precisa ir para o segundo turno", disse o vice, que tem minimizado o antagonismo com Lula sob o argumento de que é natural que os partidos apresentem ao eleitor seus projetos no primeiro turno e possam discutir alianças no segundo.

Nesta semana, Lula confirmou a importância que está dando à eleição paulistana ao afirmar que ela será uma "confrontação direta" entre ele e Bolsonaro, a quem se referiu como "a figura". O petista articulou a saída de Marta Suplicy da gestão Nunes para voltar ao PT e compor a chapa com Boulos.

Questionado sobre a vaga de vice, Datena respondeu que a decisão cabe ao partido, empurrando o assunto para meados do ano, mas Tabata reiterou que o convite foi feito. O apresentador atribuiu a descumprimento de acordos as desistências de candidaturas e disse que está confortável no PSB.

"Não tenho ideologia política nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. Minha ideologia é a Constituição", afirmou ele, que exaltou Tabata e se comprometeu a ajudá-la. Datena falou que gosta de Boulos, mas não de Nunes, porque "administra mal", e que a pessebista é mais preparada que ambos.

Os três pré-candidatos têm relação com a zona sul, área que deverá ter protagonismo na campanha.

O lançamento da pré-candidatura de Tabata também contou com deputados, políticos e técnicos que vão auxiliá-la na articulação e no plano de governo, como Orlando Faria, ex-presidente municipal do PSDB que tenta puxar o movimento "tucanos com Tabata", e a ex-secretária municipal Vivian Satiro.

A deputada contou ter escolhido para lançar seu projeto o lugar que mais ama —pelas lembranças que se conectam com sua trajetória desde a infância—, se disse emocionada e anunciou que buscará para ajudá-la na formulação de propostas pessoas "com diploma de realidade".

"Para criar pontes entre os dois extremos, tem que viver os dois extremos, e não só ler em livros", discursou, relatando inconformismo com os contrastes entre a periferia de onde vem e os salões ricos que passou a frequentar após virar política e se aproximar das elites financeira e intelectual.

"Se a gente acha que está tudo bem, então não precisa mudar", disse, numa alfinetada a Nunes.

Cerca de 50 pessoas, entre convidados, assessores e jornalistas, se espremeram na laje coberta por telhas de amianto, ouvindo às vezes um papagaio falando e cachorros latindo. A música alta da vizinhança atravessava os discursos —um morador colocou para tocar, a certa altura, o jingle "Lula lá".

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