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Bolsonaro provoca Boulos e reforça estratégia de PT e PSOL contra Nunes

Ex-presidente e aliado do atual prefeito aguça polarização em SP com críticas ao nome apoiado por Lula

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São Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) subiu o tom contra Guilherme Boulos (PSOL) e passou a citá-lo com frequência desde que selou seu apoio a Ricardo Nunes (MDB) na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Os ataques miram também o presidente Lula (PT), principal aliado do deputado federal.

Nesta quarta-feira (7), em discurso a simpatizantes em São Sebastião (litoral norte do estado), Bolsonaro fez referência a uma afirmação dada por Boulos na semana passada e aproveitou para provocar Lula, dizendo que "roubar é o que ele sabe fazer desde quando surgiu o PT".

Jair Bolsonaro falando
O ex-presidente Jair Bolsonaro conversa com apoiadores durante encontro matinal em sua casa de praia, na Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ) - Ranier Bragon - 3.fev.24/Folhapress

O ex-mandatário já tinha feito o comentário no sábado (3), em conversa com apoiadores em Angra dos Reis (RJ) registrada pela Folha. Nas últimas semanas, ele também ironizou o adversário em nível municipal após uma gafe em rede social e chamou o psolista de invasor e "eterno desocupado".

O antagonismo explicitado pelo ex-presidente reforça a estratégia da campanha de Boulos, que ataca Nunes pelo elo com o bolsonarismo, explorando a rejeição a Bolsonaro entre eleitores na capital paulista. Imerso na campanha, Lula quer derrotar o campo rival na cidade com vistas às eleições de 2026.

Depois de flertar com a pré-candidatura de Ricardo Salles (PL), o ex-presidente cedeu ao pragmatismo do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e decidiu aderir a Nunes sob o argumento de que um nome radical à direita teria dificuldade de vencer em São Paulo. Salles diz que desistiu de concorrer.

PSOL e PT têm o enfrentamento à extrema direita como pilar retórico, buscando colar em Nunes a pecha de bolsonarista. O aspirante à reeleição, por sua vez, trabalha a mensagem de que Bolsonaro é um apoiador entre tantos, dentro de uma frente ampla que reúne nomes de diferentes matizes. A indicação do vice é reivindicada pelo ex-mandatário, que tenta emplacar um ex-comandante da Rota no posto.

Bolsonaro abriu a temporada de alfinetadas a Boulos no mês passado, depois que o deputado federal apagou uma publicação no X (antigo Twitter) repercutindo o crescimento da concentração de renda de diferentes grupos sociais do país de 2017 a 2022, período que inclui o governo do ex-presidente.

"A renda do 0,01% mais rico (apenas 15.000 pessoas) no Brasil disparou 96% entre 2017 e 2022. Já a renda da maioria (95%) da população subiu apenas 33%", publicou. O psolista foi ironizado por bolsonaristas que viram um elogio involuntário no reconhecimento de que houve ganho inclusive para os mais pobres.

Boulos quis usar os dados para criticar a "catástrofe bolsonarista" e pregar o combate à desigualdade social, uma de suas bandeiras eleitorais.

Bolsonaro reproduziu imagem do post deletado e publicou o nome do adversário com erro. "Agradeço ao Bolos [sic] pela sinceridade de expor que a distribuição de renda avançou durante nossa gestão mesmo que não tenha sido essa sua intenção e tenha apagado a postagem logo em seguida", afirmou no X.

O pré-candidato a prefeito foi novamente lembrado pelo ex-presidente durante entrevista à revista Oeste na semana passada —e aí foi a vez de Bolsonaro cometer um ato falho.

Ao falar sobre "o outro candidato", o ex-presidente chamou Boulos de "invasor de carro", mas logo se corrigiu, trocando a expressão para "invasor de casa".

O trecho foi publicado no perfil do psolista no Instagram acompanhado de uma legenda com ar de deboche: "Quando as fake news beiram o desespero…". Uma das prioridades do deputado é tentar desconstruir a imagem de radical e apoiador de invasões de propriedades privadas, em razão de sua trajetória como líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).

O ex-presidente também fez menções ao que Boulos falou na sexta-feira (2) no ato de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT, uma costura feita por Lula para impulsionar a candidatura da esquerda. Marta saiu do cargo de secretária na gestão Nunes para retornar ao partido com o qual estava rompida.

"Pelo que eu vi hoje [sexta] lá em Santos, se bobear o Lula traz até o Tarcísio [de Freitas] para essa frente", disse Boulos, em referência às risadas que o presidente arrancou do governador paulista, aliado de Bolsonaro, durante cerimônia de anúncio da construção do túnel entre Santos e Guarujá.

"Mandaram para mim uma declaração do Boulos", afirmou o ex-presidente em conversa com eleitores na espécie de "cercadinho" que montou em sua casa de praia, em Angra. "Eu ia ficar com receio é se ele tivesse dito que o Lula iria roubar o Tarcísio para o PT, porque disso [roubar] ele entende bem."

Bolsonaro repetiu a história nesta terça ao falar para uma multidão que o esperava em São Sebastião. Ele marcou um ato com apoiadores na cidade por causa de um depoimento que daria à Polícia Federal no inquérito que investiga se ele incomodou uma baleia jubarte durante um passeio de jet ski.

O ex-presidente disse que ficaria "preocupado se o Lula quisesse roubar o Tarcísio para ele, porque roubar é o que ele sabe fazer desde quando surgiu o PT".

A nacionalização da disputa em São Paulo, fomentada por Lula e correligionários do PT e PSOL, é combatida por aliados de Nunes. Apoiadores do prefeito tentam manter o debate em torno de questões locais e atuam para que o enfrentamento se dê entre os candidatos, não os padrinhos.

"Trazer a eleição municipal para uma discussão nacional é covarde, irresponsável e falta de amor pela cidade", afirmou Nunes a jornalistas durante evento na semana passada.

O emedebista disse na ocasião que o prefeito não será nem Lula nem Bolsonaro e que é desonesto replicar no município a polarização nacional de 2022, colocando "uma questão política, ideológica e partidária acima dos interesses da cidade".

Lula, por sua vez, afirmou em janeiro que a disputa pelo comando da prefeitura paulistana será uma "confrontação direta" entre ele "e a figura", em alusão a seu antecessor. Na filiação de Marta, o antagonismo com o ex-presidente também marcou os pronunciamentos.

Para Josué Rocha, coordenador da pré-campanha de Boulos, as falas de Bolsonaro coincidem com sua aproximação do atual prefeito. "Ele assumiu um lado na eleição e está trabalhando pelo Nunes, o que reforça nosso objetivo de construir uma frente democrática contra o bolsonarismo", diz à reportagem.

Segundo o auxiliar do psolista, eventuais movimentações do campo rival contra a nacionalização não vão alterar o discurso antibolsonarista de Boulos. Rocha afirma, no entanto, que o pré-candidato vai atacar tanto a aliança com Bolsonaro quanto a gestão "incapaz e omissa" de Nunes.


O QUE BOLSONARO DISSE SOBRE BOULOS

"Essa semana vimos o atual candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo dizendo que o Lula conquistaria o Tarcísio [de Freitas] para o partido dele. Obviamente que não fiquei preocupado com isso. Eu ficaria preocupado se o Lula quisesse roubar o Tarcísio para ele, porque roubar é o que ele sabe fazer desde quando surgiu o PT."
em 7.fev.2024, durante discurso a apoiadores em São Sebastião (SP)

"Mandaram para mim uma declaração do [Guilherme] Boulos de que, se bobear, o Lula até filia o Tarcísio no PT. Eu ia ficar com receio é se ele tivesse dito que o Lula iria roubar o Tarcísio para o PT, porque disso [roubar] ele entende bem."
em 3.fev.2024, durante conversa com apoiadores em Angra dos Reis (RJ)

"O Valdemar [Costa Neto] conduziu, e achava, segundo ele, segundo pesquisa, que o [Ricardo] Salles não teria sucesso para derrotar o outro candidato, invasor de carro aí, invasor de casa, né, o desocupado Boulos, o eterno desocupado Boulos."
em 2.fev.2024, em entrevista à revista Oeste

"Agradeço ao Bolos [sic] pela sinceridade de expor que a distribuição de renda avançou durante nossa gestão mesmo que não tenha sido essa sua intenção e tenha apagado a postagem logo em seguida."
em 18.jan.2024, no X (antigo Twitter), após o psolista deletar post

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