Diego
Medina
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O país finalmente comemorou um campeão em uma
categoria deponta nesta semana depois de uma década
de jejum, promessas e fracassos.
Para muitos, a importância do título de Gil de
Ferran se encerra nesse ponto, na quebra dessa série
negativa, desse "azar" que assolou o automobilismo
nacional desde o fim da era Senna.
É isso que ficará para história, é
assim que Gil será festejado pela mídia e pelos
aficionados.
O filho de um engenheiro, que nasceu em Paris por conta do
trabalho do pai e logo voltou ao Brasil para crescer e se
dedicar ao esporte, no entanto, deveria ser laureado por uma
razão que pode ser considerada menos nobre, mas nem
de longe menos importante.
Gil pode ser entendido como o primeiro campeão não
excepcional que o país produziu. Um piloto de méritos
próprios, claro, mas que não foi bafejado pela
sorte ou mereceu ser chamado de sobrenatural, as bobagens
de praxe que usamos todos para descrever os heróis
das pistas e nossa conta é justa, tivemos apenas três
pilotos que mereceram ser chamados de heróis, cada
um a seu tempo e polêmicas à parte.
O leitor pode entender isso como menosprezo ao trabalho ou
à conquista do piloto. Mas, óbvio, a intenção
não é essa.
É impossível comparar a trajetória de
Gil, a forma como ele construiu seu título, com os
caminhos trilhados pelos outros três campeões
que louvamos até hoje.
Piloto promissor nas categorias de acesso, não conseguiu
sentar num carro decente de F-1, optando, então, pela
Indy. Nos EUA, com um bom trabalho e o título de estreante
do ano, voltou aos planos da principal categoria, mas acabou
tendo que dizer não pela falta de garantias de um carro
competitivo coerente, o piloto explicou esta semana que nunca
pautou suas escolhas por categorias, mas pela capacidade que
uma equipe poderia lhe oferecer.
(Bernie Ecclestone, inclusive, sempre deixou claro que sua
opção para manter o país como mercado
de ponta na F-1 era Gil, e não Barrichello, assim é
a vida.)
O piloto, então, amargou algumas temporadas ruins por
culpa do equipamento (foi o principal prejudicado pela queda
de rendimento dos pneus Goodyear, fato que levaria a fábrica
norte-americana a desistir da Indy e da F-1 anos mais tarde)
e não soube ou não teve habilidade política
para contornar a situação.
Para piorar, ganhou fama de azarado, trajetória que
só se interrompeu quando Roger Penske acordou de sua
ainda não explicada letargia, no final do ano passado,
e o convidou para ser piloto de uma equipe reformulada.
Finalmente, na temporada que se encerrou na última
segunda-feira, Gil foi campeão sem antes deixar de
ouvir uma chuva de críticas pela manobra tida como
precipitada pouco depois da largada em Surfers Paradise.
Resumo da história, Gil chegou lá gramando e,
em boa parte do tempo, sem televisão ao vivo, o que
atrapalha bastante.
Se voltar a vencer em 2001, certamente receberá um
convite da F-1, desta vez irrecusável.
O país não tem um novo herói, mas um
novo campeão, algo que só fará bem a
um automobilismo que insiste em viver do passado.
Notas
No mercado
David Coulthard afirmou nesta semana que não teria
pudores de deixar a McLaren caso recebesse uma oferta de um
time de ard afirmou nesta ponta. O escocês sabe que
a política da equipe não vai mudar no ano que
vem e já está de olho em 2002. Com o contrato
de Barrichello vencendo e Gil surgindo como alternativa, o
mercado de pilotos promete ferver na próxima temporada.
Guerra
fria
Ross Brawn minimizou o efeito Michelin na próxima temporada.
Segundo o diretor técnico ferrarista, a fábrica
francesa vai provocar algumas surpresas, mas nada que consiga
afetar o campeonato. Para ele, sem uma base de dados (a FIA
proibiu a empresa de testar nos circuitos usados pela F-1
neste ano por pressão da Bridgestone), a missão
é quase impossível. Recado para a "emergente"
Williams.
E-mail: mariante@uol.com.br
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