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Sábado, 4 de novembro de 2000

O primeiro campeão

José Henrique Mariante
     

Diego Medina

O país finalmente comemorou um campeão em uma categoria deponta nesta semana depois de uma década de jejum, promessas e fracassos.

Para muitos, a importância do título de Gil de Ferran se encerra nesse ponto, na quebra dessa série negativa, desse "azar" que assolou o automobilismo nacional desde o fim da era Senna.

É isso que ficará para história, é assim que Gil será festejado pela mídia e pelos aficionados.

O filho de um engenheiro, que nasceu em Paris por conta do trabalho do pai e logo voltou ao Brasil para crescer e se dedicar ao esporte, no entanto, deveria ser laureado por uma razão que pode ser considerada menos nobre, mas nem de longe menos importante.

Gil pode ser entendido como o primeiro campeão não excepcional que o país produziu. Um piloto de méritos próprios, claro, mas que não foi bafejado pela sorte ou mereceu ser chamado de sobrenatural, as bobagens de praxe que usamos todos para descrever os heróis das pistas e nossa conta é justa, tivemos apenas três pilotos que mereceram ser chamados de heróis, cada um a seu tempo e polêmicas à parte.

O leitor pode entender isso como menosprezo ao trabalho ou à conquista do piloto. Mas, óbvio, a intenção não é essa.

É impossível comparar a trajetória de Gil, a forma como ele construiu seu título, com os caminhos trilhados pelos outros três campeões que louvamos até hoje.

Piloto promissor nas categorias de acesso, não conseguiu sentar num carro decente de F-1, optando, então, pela Indy. Nos EUA, com um bom trabalho e o título de estreante do ano, voltou aos planos da principal categoria, mas acabou tendo que dizer não pela falta de garantias de um carro competitivo coerente, o piloto explicou esta semana que nunca pautou suas escolhas por categorias, mas pela capacidade que uma equipe poderia lhe oferecer.

(Bernie Ecclestone, inclusive, sempre deixou claro que sua opção para manter o país como mercado de ponta na F-1 era Gil, e não Barrichello, assim é a vida.)

O piloto, então, amargou algumas temporadas ruins por culpa do equipamento (foi o principal prejudicado pela queda de rendimento dos pneus Goodyear, fato que levaria a fábrica norte-americana a desistir da Indy e da F-1 anos mais tarde) e não soube ou não teve habilidade política para contornar a situação.

Para piorar, ganhou fama de azarado, trajetória que só se interrompeu quando Roger Penske acordou de sua ainda não explicada letargia, no final do ano passado, e o convidou para ser piloto de uma equipe reformulada.

Finalmente, na temporada que se encerrou na última segunda-feira, Gil foi campeão sem antes deixar de ouvir uma chuva de críticas pela manobra tida como precipitada pouco depois da largada em Surfer’s Paradise.

Resumo da história, Gil chegou lá gramando e, em boa parte do tempo, sem televisão ao vivo, o que atrapalha bastante.

Se voltar a vencer em 2001, certamente receberá um convite da F-1, desta vez irrecusável.

O país não tem um novo herói, mas um novo campeão, algo que só fará bem a um automobilismo que insiste em viver do passado.


Notas
No mercado

David Coulthard afirmou nesta semana que não teria pudores de deixar a McLaren caso recebesse uma oferta de um time de ard afirmou nesta ponta. O escocês sabe que a política da equipe não vai mudar no ano que vem e já está de olho em 2002. Com o contrato de Barrichello vencendo e Gil surgindo como alternativa, o mercado de pilotos promete ferver na próxima temporada.


Guerra fria
Ross Brawn minimizou o efeito Michelin na próxima temporada. Segundo o diretor técnico ferrarista, a fábrica francesa vai provocar algumas surpresas, mas nada que consiga afetar o campeonato. Para ele, sem uma base de dados (a FIA proibiu a empresa de testar nos circuitos usados pela F-1 neste ano por pressão da Bridgestone), a missão é quase impossível. Recado para a "emergente" Williams.



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